O produtor está ansioso para poder remunerar um pouco melhor, afinal de contas, daqui para frente em termos produtivos, a gente precisa investir um pouco mais na nutrição para poder entregar animais gordos, terminados e prontos para o abate. É necessário colocar uma suplementação e uma nutrição intensiva para que ele continue ganhando peso e possa ser entregue no segundo semestre. Já para o consumidor, entra a preocupação: a carne, que já está cara, vai ficar mais ainda?
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E nós vemos isso refletido nas escalas de abate, que nada mais são do que a programação e estoque do frigorífico. Ou seja, quanto mais dias de escala programados pelo frigorífico, mais oferta por mais tempo ele terá. E hoje estamos com escalas bem longas — as médias do Brasil já passam de dez dias. Isso não é muito comum para essa época do ano, mas reflete essa retenção dos animais ao longo de junho.
As pessoas me perguntam “Lygia, já ouvi dizer que as exportações continuam indo muito bem”. É real essa informação. Julho deste ano ensaia para ser recorde de exportações para o período. As exportações continuam bem e a China está demandando bastante. O que a gente tem enfraquecido hoje é o mercado doméstico.
Apesar do desemprego ter reduzido aos menores níveis desde 2016, abaixo de 10%, a gente tem a inflação prejudicando os salários no Brasil. Mesmo quem ficou empregado novamente e tem um salário, vê sua renda comprometida pela inflação e isso atinge diretamente o consumo de carne bovina. Inflação e crise econômica acabam limitando sempre o consumo de carne bovina que é elástico. A classe média e a classe baixa consomem conforme aumenta o seu poder de compra até um determinado nível.
Então, por enquanto, a gente tem as exportações aceleradas e desempenhando muito bem, mas temos um pouco mais de oferta de animais — as escalas dizem isso. Esse aumento das escalas não é pontual, vem acontecendo há alguns meses, e isso faz com que sobre mais carne no mercado doméstico e impede que o boi consiga subir.
Um outro ponto que a gente tem analisado de perto é que alguns números de animais rastreados tem uma correlação muito boa com os animais confinados, e esse número também caiu. Então, pode ser que a gente veja um enxugamento de oferta agora no segundo semestre, porque não vai ter muito crescimento de animais confinados — os números devem ficar mais ou menos parecidos com os do ano passado, até sofreram uma leve queda dentro do que a gente tem acompanhado. Isso ocorreu em decorrência dos custos, que atrapalhou demais a margem e desencorajou o pecuarista a suplementar e fazer reforma no pasto em um momento em que ele queria adubar, mas o adubo subiu muito por causa da guerra e das crises de suprimentos que a gente visualizou no primeiro semestre. E essa oferta de animais de pasto que está terminando de ser disponibilizada agora vai ser enxugada porque não tem mais pasto.
Já as exportações devem continuar desempenhando bem. Sazonalmente, elas atingem o seu pico no segundo semestre, desde que não aconteça nenhum problema, o que a gente sabe que às vezes acontece. E a corrida eleitoral e a inflação devem continuar sustentando os preços. Portanto, a gente espera um enxugamento dessas ofertas e que os preços subam um pouco, mas não muito porque o consumidor não está conseguindo absorver esse altar em decorrência da queda do poder de compra do brasileiro.
Então, o consumidor pode se preocupar um pouco, a carne não vai abaixar de preço, não temos nenhum indicador para isso. E daqui algumas semanas o produtor deve ver um movimento de entressafras típico. Mas para essa nossa tese se confirmar, a gente precisa ver as escalas de abate se enxugarem. Hoje elas estão muito longas, então isso não deve acontecer no curtíssimo prazo — a não ser que a China entre comprando muito forte e rápido, porém ainda não vimos isso acontecer dessa forma.
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