A questão central da mineração e o ESG: regenerar as pessoas e os seus territórios

4 de maio de 2021
Julio Ricco/Getty Images

Apesar do legado complicado, a mineração já percorreu um longo caminho como indústria, para um estado em que a maioria das empresas entende que deve fazer escolhas éticas e responsáveis ​​para que seus negócios permaneçam viáveis

Contra o pano de fundo da incerteza e da mudança econômica e social sem precedentes que se desenrolam desde 2020, há uma mudança significativa na integração de condutas ambientais, sociais e de governança (ESG) na tomada de decisões de investimentos. Trata-se de uma abordagem de negócios. Assim, o ESG gera valor de longo prazo por meio do controle de riscos e da capitalização de oportunidades associadas a questões ambientais e socioeconômicas. Esse valor compartilhado é medido em termos de capital financeiro, operacional, intelectual, reputacional, humano e/ou natural.

Vive-se uma mudança significativa no nível de sofisticação e compreensão da importância do ESG e dos riscos e oportunidades que ele representa para o setor de mineração. Não é mais apenas o suficiente para contar uma grande história sobre uma descoberta significativa ou grandes números de produção. É igualmente importante demonstrar como a cadeia da mineração está trabalhando com as comunidades locais e como está contribuindo para a transição da economia, cujo o foco central é os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável – ODS.

O investimento ético, ou responsável, é a agenda atual da mineração, resultado de um movimento cada vez mais refinado em todo o mundo dos investimentos e que afeta todos os setores da economia global.

O reflexo dessa mudança é percebido quando os grandes fundos internacionais comprometem-se com os mais altos padrões de investimento ético com o propósito de retribuir mais às causas ambientais e sociais locais em relação à abertura e operação de minas em todo o mundo.

Para melhor ilustrar a relevância do setor, a humanidade depende da mineração para experimentar desenvolvimento, por exemplo: tratando-se apenas dos metais preciosos, eles são usados ​​em uma série de importantes aplicações industriais e de saúde – componentes eletrônicos usados ​​em smartphones, computadores e televisores; componentes do painel solar; remédios, incluindo alguns tratamentos de câncer e até mesmo alguns antibióticos.

Por outro lado, para a maioria dos investidores, a mineração de metais preciosos pode parecer incompatível com os padrões ESG.

O legado da indústria é certamente complicado e é fácil presumir que as operações de mineração modernas não melhoraram. No entanto, a mineração já percorreu um longo caminho como indústria, para um estado em que a maioria das empresas entende que deve fazer escolhas éticas e responsáveis ​​para que seus negócios permaneçam viáveis.

No Brasil, questões claras de crise ética envolvem a mineração. Nas palavras da jornalista Cristina Serra, “a mineração no Brasil é uma máquina de moer gente”.

É importante destacar eventos aqui conceituados de crise ética, como uma grande falha de infraestrutura e/ou ausência do poder público, para resgatar o colapso da barragem de rejeitos, em 2017, numa mina, na cidade de Brumadinho-MG. Ali, houve vazamento de materiais tóxicos em uma vasta área de terra e centenas de pessoas perderam suas vidas. Relação de causa-efeito da dimensão e dos riscos da mineração.

Da mesma forma, outro evento de crise ética – de repercussão internacional que até hoje macula a mineração brasileira – foi o garimpo de Serra Pelada, em Curionópolis-PA. Por qualquer barômetro ético, eventos dessa natureza são completamente intoleráveis.

Não se têm dúvidas que tais eventos de crise ética são vistos pela sociedade com um grande legado negativo, principalmente quando se joga a lupa em direção a esses territórios explorados pela mineração.

Da análise dos indicadores sociais e ambientais do distrito de Serra Pelada, extrai-se muito bem o que é o senso comum desse legado: o principal impacto da indústria da mineração no Brasil é a deseconomia local.

Isto posto, pergunta-se: para onde vai a mineração no Brasil daqui em diante? A recente onda de interesse privado em ESG marca uma oportunidade real para a indústria de mineração reavaliar como isso aparece e impacta a transição para uma economia centrada nas pessoas e em seus territórios.

Reitero que está na hora de um grande pacto nacional de dignidade dos territórios. Investimentos ESG – educação, moradia, estímulos de emprego e ganhos econômicos – da indústria da mineração são imprescindíveis para regenerar as pessoas em seus territórios degradados. Vida digna é a emergência do pacto.

Haroldo Rodrigues é sócio fundador da investidora in3 New B Capital S. A. Foi professor titular e diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Universidade de Fortaleza e presidente da Fundação de Amparo a Pesquisa do Ceará.

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