Arte de Tomie Ohtake na Biennale de Veneza e na Galeria Nara Roesler

25 de abril de 2024
Arquivo pessoal

Tomie Ohtake com os filhos Ricardo e Ruy, final dos anos 1950

Tomie Ohtake foi uma mulher extraordinária. Em busca de seu irmão, às vésperas da Segunda Grande Guerra mundial, em 1936, embarcou sozinha em um navio que a levou depois de seis meses de travessia oceânica ao Brasil, onde desembarcou na condição de imigrante. Tinha 23 anos, não conhecia vivalma, nem ao menos falava a língua!

Não fossem sua garra e talento não teria criado a vasta obra finalmente celebrada na edição deste ano da Biennale de Veneza, comandada pelo craque Adriano Pedrosa, sob o tema “Estrangeiros por toda parte”, que foca nos direitos humanos homenageando artistas imigrantes, como ela, aqueles que transitam entre gêneros e os que pertencem a etnias até hoje negligenciadas.

Arquivo pessoal

Tomie Ohtake, em 1980, no estúdio de sua casa projetada em 1970 por seu filho, o arquiteto Ruy Ohtake

  • Siga o canal da Forbes e de Forbes Money no WhatsApp e receba as principais notícias sobre negócios, carreira, tecnologia e estilo de vida

Antes de vir para São Paulo, representei-a na minha galeria de Recife. Quando me estabeleci aqui, estreitamos os laços, ficamos amigas e continuamos trabalhando juntas até seu falecimento aos 102 anos em 2015. Além da homenagem póstuma que Pedrosa presta a ela na Biennale, na exposição no Núcleo Histórico da mais importante e antiga coletiva de arte do mundo, organizamos a individual “Tomie Ohtake: Infravermelho”, em nossa galeria em São Paulo. A mostra com 39 obras da artista, produzidas entre 1987 e 2004, tem curadoria de Paulo Miyada e expografia originalíssima do arquiteto e designer Rodrigo Ohtake, neto de Tomie, filho do falecido arquiteto Ruy Ohtake, o mais velho da artista.

Foto: Flavio Freire/Galeria Nara Roesler

“Tomie Ohtake, Infravermelho” em exposição na Galeria Nara Roesler, São Paulo

Ricardo Ohtake, gestor cultural, arquiteto e artista gráfico, fundador e presidente do Instituto Tomie Ohtake, filho caçula da artista:

“Tomie Ohtake está presente na atual Biennale com um trabalho selecionado pela curadoria, uma pintura de 1978 que faz parte da fase posterior àquela das grandes formas de cores vivas, quando as composições não são tão definidas. Neste caso, é uma forma montanhosa com dois topos curvos, bem simétricos e faixas que variam entre o azul e o laranja alternadamente, acompanhando a forma das montanhas. Apesar de ser brasileira naturalizada, Tomie nasceu no Japão, leva influência de seu país de origem e faz arte abstrata brasileira. Esta é a característica desta Biennale, ‘Stranieri Ovunque’ (Estrangeiros por toda parte), com curadoria de Adriano Pedrosa, que enfatiza a ideia dos estrangeiros no mundo todo até no próprio país, como ocorre com os indígenas brasileiros. Na verdade, é a segunda vez que ela participa da Biennale. A primeira foi em 1972, na mostra “Graffica d´Oggi”, quando a curadoria organizou uma exposição de pintores que faziam gravura, com três obras de cada artista. Os trabalhos de Tomie foram exibidos ao lado das gravuras dos americanos Robert Rauschenberg, Frank Stellla e outros importantes participantes do expressionismo abstrato, da Pop Art e do movimento Hard Edge”.

Foto: Erika Mayumi/Cortesia Galeria Nara Roesler

Na 60ª Bienal de Veneza, tela de Tomie Ohtake, sem título, 1978, tinta acrílica sobre tela, 124x134cm

Paulo Miyada, diretor artístico do Instituto Tomie Ohtake e curador adjunto do Centre Pompidou, Paris, explica sua visão curatorial para “Tomie Ohtake: Infravermelho”:

“No período da presente exposição, a artista afinou sua atenção às gestualidades pictóricas na sobreposição de camadas e transparências, tendo uma coleção de formas arquetípicas como seu objeto recorrente. Nesse sentido, Ohtake se afasta das matrizes da arte abstrata concreta e aproxima-se, simultaneamente, de tradições orientais, como o ensō no zen-budismo, e de imagens evocativas da natureza, em especial as do cosmo.”

Leia também:

SERVIÇO

“Tomie Ohtake: Infravermelho”

Até 6 de junho, 2024
Galeria Nara Roesler, São Paulo

“60ª Bienal de Veneza”

Até 24 de novembro, 2024
“Estrangeiros por toda parte”, Núcleo Histórico

Com colaboração de Cynthia Garcia, historiadora de arte, premiada pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) cynthiagarciabr@gmail.com

Nara Roesler fundou a Galeria Nara Roesler em 1989. Com a sociedade de seus filhos Alexandre e Daniel, a galeria em São Paulo, uma das mais expressivas do mercado, ampliou a atuação inaugurando no Rio de Janeiro, em 2014, e no ano seguinte em Nova York.

info@nararoesler.art
Instagram: @galerianararoesler
http://www.nararoesler.com.br/

Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.