Dados do Banco Mundial de 2019 indicam que os mercados estão exigindo pessoas com habilidades cognitivas e sociocomportamentais avançadas, como consequência das transformações no universo do trabalho.
O capital humano, o S do ESG, é o fator central do crescimento sustentável e da redução da pobreza. No entanto, é senso comum entre os formuladores de políticas financeiras ser difícil defender os investimentos privados nesta área.
As lacunas significativas nos investimentos em capital humano estão deixando o mundo mal preparado para o que está por vir.
Mais dados do Banco Mundial, agora de 2018, apontam que quase um quarto das crianças em todo o mundo têm suas habilidades subvalorizadas, vulneráveis ao mau desenvolvimento cognitivo e com sua capacidade de aprender comprometida.
Historicamente, crises tendem a acelerar processos de mudança. E com os investimentos ESG isso não tem sido diferente. Apesar de não sabermos se o futuro será melhor, o momento atual “não é de previsão, mas, sim, de preparação para o que vem a seguir”, assim se manifesta Amy Webb, futurista e fundadora do Future Today Institute.
É nesse cenário de superação das condições socioeconômicas adversas, que João Paulo Malara, o Jotapê, em conjunto com voluntários, nascidos e criados na periferia da zona oeste da cidade de São Paulo, desenvolveram um modelo para reduzir a pobreza de aprendizagem.
Do sonho de um garoto, surgiu uma startup de educação digital que tem como objetivo “oferecer um horizonte às crianças e aos jovens das favelas e periferias brasileiras”, diz Jotapê. New School App é o nome da plataforma que aborda conteúdos socioemocionais, educacionais e profissionalizantes em uma linguagem própria da periferia.
O desafio de dar oportunidades para os adolescentes da “quebrada” reflete sobre temas importantes e caros para as pessoas da base da pirâmide, como preconceito, ódio e liberdade, quase sempre, distantes dos currículos escolares. Além disso, o app tem conteúdos sobre programação digital, fotografia e empreendedorismo. De uma “quebrada” para todas, revelam-se conteúdos da periferia que visam preparar o jovem para o mercado de trabalho e para a vida.
Se por um lado, o contexto de investimentos ESG requer cautela, por outro, a desigualdade social pode abrir caminho para possibilidades e experimentações diante de problemas ainda não completamente apresentados.
As tendências são referências para ajudar a antecipar estados futuros num mundo onde a incerteza se aproxima. Assim, surgem as oportunidades para os negócios emergentes.
Com ousadia, surgem mudanças radicais na sociedade. O segredo é inovar. Inovação não é acessório: é compreender os fundamentos do ecossistema e prover uma visão sistêmica com criatividade.
O momento é de investir pesadamente em negócios inovadores e geradores de impacto positivo nas pessoas. O momento é de mais Jotapês, o momento é da periferia, o momento é da “quebrada”. Sem inovação não haverá futuro – e, aliás, essa é a melhor maneira de mudar.
Haroldo Rodrigues é sócio-fundador da investidora in3 New B Capital S.A. Foi professor titular e diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Universidade de Fortaleza e presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Ceará.
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