O mercado de investimento de risco vive um momento peculiar esse ano. Ok, o volume de aportes no mundo e no Brasil caiu, e não é novidade que nós, investidores, estamos mais cautelosos em razão de um cenário macroeconômico e político global instável, marcado por alta de juros e da inflação, e uma guerra interminável. Mas, a verdade é que, como eu sempre comento, existe um oceano de oportunidades e, para empreendedores e empresas extraordinários, nunca faltarão recursos.
Prova disso é que, mesmo com o pé no freio, as startups da América Latina arrecadaram mais de US$ 5 bilhões no primeiro semestre de 2022 – o segundo melhor ano para investimento em venture capital, atrás apenas de 2021. Os dados são da LAVCA – Associação de Investimento em Capital Privado na América Latina. Outra boa notícia é que, em três anos, os investimentos em startups lideradas por mulheres na região quase dobraram. O índice passou de 16% em 2019 para 31% em 2022.
E porque eu falei em momento peculiar? Porque mesmo com esse cenário, não dá para negar que a aceleração de negócios baseados na nova geração dos produtos de blockchain empolga. É o caso da Web3. Para quem pensa que esse é apenas hype ou até mesmo uma bolha, atenção: existe um grande volume de dinheiro e de startups se direcionando para esse mercado.
Prova disso é que a Web3 dominou o interesse do capitalistas de risco nos últimos meses quando o assunto foi a indústria de blockchain, que envolve ainda as Finanças Descentralizadas (DeFi), Finanças Centralizadas (CeFi) e os Tokens não Fungíveis (NFT).
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Do ponto de vista dos investimentos, DeFi era, até então, líder na entrada de recursos de capital de risco. Mas, nos seis primeiros meses de 2022, os aportes em Web3 foram responsáveis por 42% do total, enquanto DeFi ficou com 16%, destaca relatório da Cointelegraph Research.
A Web3 promete uma internet descentralizada, construída em uma rede blockchain aberta e, pela lógica, inaugurando uma era de dados de serviços digitais de e-commerce, redes sociais e games, rodando em muitos computadores, sem o controle de poucos. Claro que temos ainda uma bela caminhada para ver o que disso, de fato, se concretizará, mas essa jornada já iniciou.
E quando falamos na nova geração da internet, inevitavelmente falamos em Metaverso. Da indústria de eventos, games, varejo, mídia social, todos querem capturar uma oportunidade de cerca de US$ 800 bilhões até 2024.
Eu já havia comentado com vocês aqui que o pipeline do capital de risco tradicional está se transformando para atender as tendências que chegam junto com o amadurecimento dos consumidores e do mercado. Vivemos uma aceleração, impulsionada pela necessidade de rápida digitalização de setores importantes como indústria, saúde, educação e varejo.
Os investidores estão sempre procurando mercados potenciais, o que passa pelos novos desejos dos consumidores. E o mundo figital é a resposta. Recentemente li um estudo da consultoria WGSN, que traz como um dos perfis de consumidores para 2024 os Neosensorialistas – que desejam, justamente, o melhor do mundo físico e do digital. Um exemplo prático dessa união? Pagar um almoço presencial com criptomoeda ou desbloquear recompensas no Metaverso para usar na vida real.
O novo consumidor não tem receio da tecnologia. E os investidores, claro, vão seguir as oportunidades, e o dinheiro. E você, empreendedor, que empresa extraordinária você ainda não está construindo?
Camila Farani é Top Voice no LinkedIn Brasil e a única mulher bicampeã premiada como Melhor Investidora-Anjo no Startup Awards 2016 e 2018. Sócia-fundadora da G2 Capital, uma butique de investimentos em empresas de tecnologia, as startups.
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