Cenários adversos exigem audácia

27 de abril de 2023
Getty Images

Utilize a audacidade para desenvolver novos negócios.

Uma das perguntas que mais tenho ouvido dos empreendedores é: como crescer diante de um cenário conjuntural complexo e, muitas  vezes, hostil para o desenvolvimento de novos negócios?

Criatividade. Sagacidade. Audácia. Esses atributos, alinhados com disciplina, conhecimento profundo dos movimentos do mercado e visão de sustentabilidade empresarial são os caminhos percorridos pelos fundadores que estão aproveitando o ambiente desafiador para guiar suas startups rumo ao futuro.

Claro que não é fácil. Depois da festa, tivemos a ressaca em 2022 e, agora, a urgência da retomada.

Vamos aos fatos.

Nos últimos anos, o mercado latino americano teve o seu grande boom para o investimento de risco.

Os ciclos das startups passaram a ser cada vez mais rápidos. Só em 2021, vimos surgir 34 unicórnios na região, contra 9 em 2018. Em 2014, as startups levavam 40 meses para alcançar 1 milhão de clientes – em 2019, apenas 6, segundo dados do Startup Study 2023, realizado pela McKinsey. De fato, acelerou.

Os investimentos de venture capital cresceram 6 vezes de 2018 a 2021, chegando a US$ 18 bilhões; o número de investidores ativos aumentou em 2,4 vezes, chegando a 1.706 em 2021.

Aí veio a ressaca da aceleração da digitalização que vivenciamos a partir da pandemia da Covid-19, período de investimento de risco farto em novos projetos e muitas contratações das big techs e das startups.

A queda dos recursos de venture capital foi de 51% entre 2021 e 2022. Mas, ainda que o volume de capital tenha caído, está 63% acima do
que víamos na pré-pandemia. E é aqui que eu gostaria de chegar.

O mercado está mais turbulento e, nós, investidores, mais cautelosos. Porém, como eu sempre digo, existem oportunidades para empresas e projetos extraordinários. E formas de driblar, inclusive, as dificuldades de captação.

Um exemplo é o movimento na direção do venture debt, caminho complementar ao venture capital que alguns empreendedores estão
buscando para incrementar o caixa por meio de operações de dívida.

Só nos três primeiros meses deste ano, as transações de dívida registraram alta de 14% a mais na comparação com o período de
2022, revelam dados do Inside Venture Capital Report, relatório elaborado pela Distrito.

Em relação ao último trimestre de 2022, o percentual cresceu 60%. Entre janeiro e março de 2023, o incremento foi de 23% na comparação com o primeiro trimestre do ano passado, com deals que somam US$ 317 milhões.

Essa é uma modalidade que ajuda a financiar startups que não possuem garantias ou giro de caixa suficiente para justificar um empréstimo tradicional, e de forma que mantenham 100% do negócio. No venture capital, o investidor fica com uma fatia da operação.

Isso já acontece há muito tempo nos Estados Unidos – esse tipo de empréstimo de risco já ajudou players como Airbnb, Facebook e Uber.

Claro que é importante que o empreendedor analise bem todas as nuances de cada ação que ele irá tomar para se capitalizar. Neste caso do venture debt, por exemplo, a dívida geralmente precisa começar a ser paga logo, e com juros. Quem não estiver preparado para isso, pode acabar enfrentando dificuldades para crescer, afastando os capitalistas de risco em futuras rodadas.

Cenários de crise forjam empreendedores capazes de tomar decisões arrojadas. Capacidade de tomar risco, porém, deve estar acompanhada de uma visão muito clara de quais são os passos fundamentais para manter o seu negócio robusto.

Acreditem, algumas empresas, mesmo crescendo, contratando, ainda não entenderam que manter um fluxo de caixa e o Ebitda positivos é essencial.

Trabalhe todos os dias para ter um ótimo produto, um time qualificado e receitas sólidas. Construa uma visão de longo prazo e lidere para ser capaz de ter ao seu lado pessoas que construam o seu sonho com você.

Em cenários adversos, fique calmo, mas seja ágil.

Camila Farani é Top Voice no LinkedIn Brasil e a única mulher bicampeã premiada como Melhor Investidora-Anjo no Startup Awards 2016 e 2018. Sócia-fundadora da G2 Capital, uma butique de investimentos em empresas de tecnologia, as startups.

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