Ecossistemas de inovação globais estão em um processo de adaptação ao impacto do trabalho remoto e à realidade “figital” (físico+digital) que vivemos. Quando a Covid-19 impôs o distanciamento social, passamos a questionar muitos hábitos. O período de confinamento passou e, já restabelecidos, podemos dizer que, no mundo corporativo, a imposição do home office virou uma opção para muita gente. Colaboradores perceberam vantagens em um modelo ‘work from anywhere’ e já não têm interesse em retomar a rotina de trabalho presencial.
Companhias que não estiverem atentas, podem perder talentos. As mudanças no comportamento dos profissionais a partir de 2020 gerou um fenômeno chamado de Great Resignation: a tendência a demissões voluntárias devido a questões não necessariamente ligadas à remuneração.
No Brasil, a Grande Renúncia é um movimento gerado especialmente pelos jovens e mais escolarizados. Segundo o Cadastro Geral Empregados e Desempregados (Caged), em 2022, o total dos trabalhadores que aderiram ao desligamento espontâneo chegou a 6,8 milhões. Destes, 39% têm de 18 a 24 anos e 34% de 25 a 39 anos. Entre os trabalhadores com pós-graduação, a demissão voluntária superou os 50%.
As novas gerações, especialmente no pós-pandemia, priorizam a qualidade de vida e a flexibilidade proporcionada pelas jornadas híbridas. Com a expansão da internet e o desenvolvimento de tecnologias de comunicação, trabalhar longe das sedes das empresas passou a ser realidade para muitos. O home office transpôs fronteiras e profissionais qualificados e talentosos ampliaram as suas oportunidades de trabalho, sendo vistos de forma irrestrita ao redor do mundo.
Assim, líderes se depararam com o desafio de levar os colaboradores de volta ao escritório das companhias. No entanto, não é uma mudança simples. O modelo de trabalho está enraizado na cultura de uma empresa. Flexibilizar o presencial para híbrido ou completamente remoto são alternativas. Mas, para isso, as companhias devem se reorganizar e equipar seus times com as ferramentas necessárias ao melhor funcionamento deste processo migratório.
Nesse cenário, além de proporcionar as tecnologias, os especialistas do MIT recomendam quatro recursos para viabilizar o modelo remoto:
- estabelecer regras básicas
- avaliações de desempenho
- reuniões de equipe
- reuniões individuais
Temendo a debandada de profissionais de ponta, organizações como Ambev, PicPay, Dell, Gol, Amazon, XP Inc, entre outras, adiantam-se na abertura de vagas exclusivamente para atuação em home office. De acordo com pesquisa da Cortex, os ramos que mais apresentam ofertas de trabalho em casa são os de desenvolvimento de programas de computador sob encomenda; treinamento em desenvolvimento profissional e gerencial; consultoria em tecnologia da informação; desenvolvimento e licenciamento de programas de computador customizáveis e atividades de consultoria em gestão empresarial (exceto consultoria técnica específica).
Para isso, é indispensável que:
- Haja foco em desempenho e resultados, priorizando a qualidade (e pontualidade) das entregas ao tempo da jornada de trabalho.
- Líderes deem aos funcionários a responsabilidade e os recursos para explorar totalmente esses instrumentos.
- Gestores ainda garantam a confiança necessária ao trabalhador para resolver problemas à distância.
Em média, as empresas que investem no trabalho remoto, entregam 19% a mais de crescimento na receita do que seus concorrentes e têm 15% a mais de lucro (dados da MIT). O trabalho remoto / híbrido pode, também, gerar redução de custos (com equipamentos, energia elétrica e aluguéis), aumento da sua inserção no conceito de ESG (que reúne as políticas de meio-ambiente, responsabilidade social e governança) e diminuição das taxas de turnover (rotatividade) de funcionários.
Mas é importante lembrar: nada substitui o olho-no-olho. Por isso, o momento é de buscar equilíbrio entre espaços físicos e virtuais e apostar em tecnologia para promover a interação das pessoas. Seja presencial ou à distância, o foco deve ser em oferecer as melhores condições de trabalho, reter talentos e garantir os resultados do negócio.
*Camila Farani é Top Voice no LinkedIn Brasil e a única mulher bicampeã premiada como Melhor Investidora-Anjo no Startup Awards 2016 e 2018. Sócia-fundadora da G2 Capital, uma butique de investimentos em empresas de tecnologia, as startups.
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