Além disso, Leclerc é co-fundador do venture studio Templo Ventures, que hoje tem sete empresas no portfólio. Personagem conhecido na cena tech nacional, o hoje empreendedor e investidor também encontra tempo para voluntariar na Câmara de Comércio França Brasil, é membro do conselho da comunidade French Tech, comunidade de expatriados franceses atuantes no setor de tecnologia, e um árduo defensor do potencial da Cidade Maravilhosa enquanto ecossistema de inovação.
“Sou carioca por morar no Rio, e ao mesmo tempo sou um francês que traz as experiências de ter morado na China, Estados Unidos, Canadá. Isso enriquece meu ponto de vista, e a habilidade de trazer outras vivências e experiências que podem ajudar as pessoas e enxergar a realidade do Rio de um outro jeito”, aponta.
Em meio às gravações do Rio.Futuro, Leclerc parou para conversar com esta coluna sobre suas visões do porvir, o receio sobre o avanço tecnológico, trabalho e próximos passos. Confira alguns dos destaques da conversa a seguir:
Rumo Futuro – O que tem motivado você a organizar o Rio.Futuro, e o que você diria serem as principais conquistas nesses sete anos de fomento de discussões sobre futuros?
Xavier Leclerc – A primeira motivação é muito ligada à minha experiência profissional. Quando eu era diretor de negócios do Facebook na França, percebi que as diretorias não-técnicas precisavam se aproximar da tecnologia, precisava entender seus impactos. Este foi meu ponto de partida, que ampliei [ao concluir] que a sociedade como um todo precisava ter algumas chaves para ter o que eu chamo uma opinião informada.
Geralmente, criamos nossas opiniões com base naquelas que estão ao nosso redor – e dentro dessas mudanças tecnológicas muito grandes, rápidas e impactantes, é preciso [entrar em contato com] perspectivas que nos façam sair das nossas percepções para ter um entendimento maior. Tendo dito isso, as maiores conquistas nestes sete anos são ter conseguido atrair muitos palestrantes que aceitaram nosso convite para participar do evento, e espalhar esse conhecimento.
Nesta edição, o evento propõe que “um outro mundo é possível”. Como você imagina um futuro em que tecnologia, meio ambiente e sociedade coexistam harmoniosamente?
Não é uma tarefa fácil. Digo isso com base no fato de ter oito sobrinhos, e ver que eles têm medo do futuro. Isso não é normal: uma pessoa de 15 anos não pode ter este tipo de sentimento. Acredito que a mídia tem uma responsabilidade muito grande nisso: se por exemplo, você lê notícias de que a inteligência artificial vai acabar com os empregos e o mundo está com os dias contados, isso causa medo.
Um outro tema presente no evento é o medo e ansiedade frente ao avanço tecnológico. Qual é a principal causa desses sentimentos?
A celeridade. Trabalho como tecnologia há 18 anos e de fato é muito complicado ficar atualizado, dada a rapidez do setor. Ao mesmo tempo que isso é complicado, eu acredito muito na capacidade de adaptação do ser humano. O [historiador e professor] Yuval Harari diz que nós, humanos, somos seres sociais que atuam melhor em grupo. Com base nessas características, precisamos trabalhar.
Uma das coisas que eu acredito ser um pouco problemática na narrativa atual é [a teoria] do fim do trabalho. O emprego pode acabar. Por outro lado, o trabalho pode mudar, mas nunca vai acabar, porque temos um monte de problemas para resolver, oportunidades de empreender, de desenvolver novas regras.
O que está nos seus planos para o Rio.Futuro daqui para a frente?
Em um futuro imediato, estarei pelo terceiro ano consecutivo no Rio Innovation Week atuando [como curador] do palco .Futuro, com discussões sobre o futuro do trabalho e dos empregos, e abordando as questões de inteligência artificial. Em relação ao Rio.Futuro, acho que estou fechando um ciclo.
Há sete anos, não existiam muitas conferências [abordando temas de futuro] de forma um pouco mais geral, mas societal como Web Summit, ou o próprio Rio Innovation Week. Vejo que há cada vez menos espaço para o independente. Por isso, devo repensar o formato, o conceito [do evento]. O propósito sempre vai ser o mesmo, que é o de ter uma opinião informada, mas acho que temos outros caminhos para chegar lá.
Pessoalmente, acredito muito no modelo capitalista, no sentido de ele é o mais eficiente para alocar recursos, seja em termos de trabalho, ou capital para lucrar. Mas o lucro não é necessariamente financeiro: ele também pode ser social, ou ambiental. Com base nessa premissa, nós temos que redefinir a noção de lucro.
Antigamente, nós só olhávamos para o custo financeiro, sem olhar para o custo socioambiental. Isso está mudando, e é por isso que especialistas como Marina Grossi [economista e presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável] falam muito em capitalismo de stakeholders. Acredito que esta é uma noção muito verdadeira e necessária para enxergar qual é o propósito do nosso trabalho, e o que ele traz de benefícios ou danos para a sociedade como um todo. É preciso perguntar: qual é a sociedade que queremos criar?
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