O dólar fechou hoje (23) acima de R$ 5,52 pela primeira vez, batendo recordes históricos pelo segundo dia consecutivo diante do clima de incerteza no mercado doméstico do lado político e econômico.
O real liderou com folga as perdas entre as principais moedas nesta sessão e tomou do rand sul-africano o nada honroso posto de divisa com pior desempenho global no ano, com queda de 27,41% (alta de 37,75% do dólar).
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A moeda dos EUA já vinha em alta durante boa parte do dia, o que levou o Banco Central a realizar duas ofertas líquidas de contratos de swap cambial tradicional (que equivalem a injeção de liquidez no mercado futuro). No total, foi colocado US$ 1 bilhão nesses derivativos.
A cotação chegou a desacelerar a alta, mas retomou máximas em seguida e ganhou ainda mais tração por volta de 14h30, quando foi publicada a notícia de que o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, teria pedido demissão depois de decisão do presidente Jair Bolsonaro de trocar a diretoria-geral da Polícia Federal.
A Reuters apurou que Moro ameaçou deixar o cargo se Bolsonaro decidir trocar o diretor-geral da PF.
A reação foi imediata em todo os mercados. O dólar saltou de R$ 5,46 para perto de R$ 5,50. O juro longo disparou quase 20 pontos-base. E “a Bolsa perde mais de mil pontos em segundos”, disse Henrique Esteter, analista de research e equity sales na Guide Investimentos.
O mercado reagiu negativamente por entender que as notícias sinalizam mais tensões políticas dentro do governo e que uma saída de Moro poderia acabar piorando a avaliação do próprio presidente. Moro está entre os ministros mais bem avaliados pela população.
Essa nova frente de incerteza vem depois da demissão do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, também bem avaliado pelos eleitores.
No fim do dia, o dólar à vista terminou em alta de 2,19%, a R$ 5,5278 na venda, novo recorde histórico nominal e na maior valorização percentual desde o fim de março. A cotação encerrou em torno das máximas do dia.
Na B3, o dólar futuro tinha ganho de 1,67%, a R$ 5,5555, às 17h22.
As incertezas políticas retroalimentam temores de que o governo não consiga retomar a agenda de reformas, especialmente depois do aumento de gastos decorrentes da pandemia do coronavírus.
Nas contas do UBS, o dólar poderia chegar a R$ 7,35 ao fim de 2021 no pior dos cenários. “Acreditamos que o caminho final adotado pelo real dependerá crucialmente de o Brasil poder voltar e fortalecer seus esforços de reforma após o auge da atual pandemia”, disseram os economistas Tony Volpon e Fabio Ramos em nota.
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A DWS, gestora do Deutsche Bank, vai na mesma linha de preocupação fiscal. “Mais para o fim do ano é que vamos ter mais noção de que como ficará o fiscal. Dependendo da resposta que teremos vamos saber se haverá mais pressão [de alta] no dólar ou não”, disse Luiz Ribeiro, gerente do fundo de ações para a América Latina da DWS.
Para ele, o valor “justo” para o real estaria atualmente mais entre R$ 4,70 e R$ 4,80 do que em torno dos patamares atuais. Mas Ribeiro ponderou ser difícil saber o “timing” em que haverá uma convergência para esse nível. (Com Reuters)
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