Real tem pior desempenho no mundo com mal-estar sobre fiscal no Brasil

19 de agosto de 2020
Ricardo Moraes

Às 15h29, com o dólar perto das máximas do dia, o Banco Central anunciou oferta líquida de US$ 500 milhões em contratos de swap cambial

O dólar voltou a mostrar firme alta ante o real hoje (19), indo a máximas em quase três meses, com o mercado de câmbio afetado ainda por mal-estar em relação ao cenário fiscal no Brasil, o que também impactou os juros futuros.

O real teve o pior desempenho entre as divisas comparáveis neste pregão. Às 15h29, com o dólar perto das máximas do dia, o Banco Central anunciou oferta líquida de US$ 500 milhões em contratos de swap cambial. A moeda desacelerou os ganhos, mas, faltando uma hora para o fim das operações no mercado à vista, recuperou terreno até encerrar próxima dos picos intradiários.

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O BC vendeu todo o lote de 10 mil contratos de swap cambial ofertados.

O dólar à vista subiu 1,14%, a R$ 5,5309 na venda, maior patamar desde 22 de maio (R$ 5,5739).

Ao longo do dia, o dólar variou entre alta de 1,29%, para R$ 5,5393, e queda de 0,60%, a R$ 5,4356.

O dia foi negativo para outras praças financeiras brasileiras. Os juros longos dispararam quase 20 pontos-base, enquanto o Ibovespa, termômetro do mercado local de ações, caiu 1,2%, segundo dados preliminares.

A piora em Wall Street no meio da tarde, após a divulgação da ata da última reunião de política monetária do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) endossou o movimento negativo nos mercados domésticos. Mas o real desde o fim da manhã operou de forma mais pressionada que seus pares emergentes, que chegaram ao fim da tarde em valorização.

O tema fiscal continua como uma nuvem sobre a confiança dos investidores locais. “Apesar do noticiário recente (sobre tentativas de consenso), ainda há muita incerteza sobre o futuro do teto de gastos e da agenda de reformas de modo geral”, disse Paloma Brum, economista da Toro Investimentos, que citou “desancoragem” das expectativas do mercado em termos de ajuste das contas públicas.

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“Difícil falar em patamar exato de dólar, mas no atual contexto com certeza ele fica acima de 5,50 reais. Ainda há muita coisa para ser desvendada (sobre o debate fiscal)”, completou.

Helena Veronese, economista-chefe na Azimut Brasil Wealth Management, avaliou que uma flexibilização na agenda de correção das contas públicas é o principal risco aos mercados brasileiros neste momento. “À economia como um todo, ainda existe a preocupação sobre o elevado desemprego e ao risco de a economia perder fôlego passados os efeitos do auxílio emergencial”, disse.

Segundo pesquisa do Bank of America com gestores de fundos, a deterioração fiscal foi citada por 67% dos respondentes como o maior risco de cauda para o Brasil, seguida por ruído político (selecionado por 15%) e pelo coronavírus (8%).

No mercado, a percepção é que o Banco Central pode ter “exagerado” na dose de corte de juros. Na última reunião do Copom, de 4 e 5 de agosto, o BC reduziu a Selic em 0,25 ponto percentual, para mínima histórica de 2% ao ano, e não fechou totalmente a porta para nova distensão monetária, mesmo citando preocupações do lado fiscal.

O temor é que a deterioração das contas públicas obrigue uma correção de rota na política monetária, com alta antecipada da Selic, o que causaria desconforto entre investidores e elevaria a percepção de risco, impactando negativamente dólar e bolsa.

Na ata do Fed divulgada nesta quarta-feira, o BC dos EUA fez referência ao Brasil, citando que o real desvalorizou ante o dólar entre as reuniões de junho e julho do Fed em meio a “turbulência política” e a “crescentes” casos de Covid-19 no país. (Com Reuters)

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