O dólar disparou hoje (28), com o mercado reagindo mal à definição pelo governo de que o Renda Cidadã será custeado por recursos que não virão de cortes de gastos, o que abalou a confiança de investidores numa agenda de redução de despesas que poderia conter a deterioração em curso das contas públicas –considerada o mais grave problema macroeconômico do Brasil.
O dólar à vista fechou em alta de 1,46%, a R$ 5,6351 na venda. É o maior patamar desde 20 de maio (R$ 5,6902), período no qual a moeda vinha batendo sucessivos recordes. No dia 13 daquele mês, a cotação fechou em R$ 5,9012, máxima histórica nominal para um encerramento de sessão no mercado spot. Na mínima deste pregão, a moeda chegou a R$ 5,5145, queda de 0,71%.
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Ele destacou que houve um “consenso” e que o presidente deu sinal verde para fechar a proposta para o programa, que substituirá o Bolsa Família.
O que mais repercutiu negativamente no mercado foi o uso dos precatórios –dívidas reconhecidas pela União. Na prática, o governo vai retirar uma parcela desses recursos para bancar o novo programa.
Bruno Dantas, ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), comentou no Twitter que o uso dos precatórios parece “truque para esconder fuga do teto de gastos”. “Reduz a despesa primária de forma artificial, porque a dívida não desaparece, apenas é rolada para o ano seguinte. Em vez de o teto estimular economia de dinheiro, estimulou a criatividade”, completou.
Alfredo Menezes, gestor na Armor Capital, falou em “sinal muito ruim”. “Não sei como pode passar isso na cabeça de alguns (usar os precatórios)”, disse.
A pressão no câmbio, reforçada por saídas de recursos, levou o dólar a R$ 5,6763, alta de 2,21%. O Banco Central interveio com venda de US$ 877 milhões em leilão de moeda à vista –o primeiro do tipo desde 21 de agosto–, mas o real seguiu como a moeda com segundo pior desempenho no dia, melhor apenas que a combalida lira turca.
Na renda fixa, o estresse foi ainda mais notável. O DI janeiro 2027 chegou a saltar 75 pontos-base (maior alta desde abril), para quase 8%, quatro vezes a Selic atual (2% ao ano). O DI janeiro 2025 disparou 74 pontos-base na máxima sobre o ajuste anterior.
O secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, afirmou mais cedo nesta segunda-feira que uma nova proposta de renda mínima está sendo discutida e que será anunciada “no tempo devido”.
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Segundo fontes de mercado, o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, disse que o debate sobre eventual derrubada do teto de gastos públicos deve ser feito só em 2022.
No exterior, as atenções se voltam para o debate, amanhã (29), entre os candidatos à Presidência dos EUA: o republicano Donald Trump, atual mandatário; e o democrata Joe Biden, que foi vice-presidente no governo de Barack Obama (entre janeiro de 2009 e janeiro de 2017).
O dólar tinha desempenho misto frente a moedas emergentes, em alta de 1,7% frente à lira turca e de 1,3% ante o rublo russo, mas em queda de 0,5% contra o rand sul-africano e o peso chileno e de 0,35% em relação ao peso colombiano. (Com Reuters)
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