Desemprego atinge 14 milhões de brasileiros e números devem aumentar. Entenda o porquê

16 de outubro de 2020
SEAN GLADWELL/GettyImages

Economistas avaliam dados do mercado de trabalho e o impacto da pandemia

De acordo com os dados sobre o mercado de trabalho da pesquisa PNAD COVID-19, conduzida pelo IBGE e divulgados hoje (16), 14 milhões de pessoas seguem desempregadas no país. Em relação à população ocupada, os números mostram que na última semana do mês a estimativa era de 83 milhões de pessoas, número estável em comparação com a semana anterior e à semana de 3 a 9 de maio.

A taxa de desemprego, no entanto, tende a aumentar nas próximas semanas. Isso porque a pesquisa considera desempregados apenas os que procuraram por trabalho, e não os chamados desalentados, trabalhadores que desistiram de procurar emprego. À medida em que mais pessoas busquem vagas, os números devem mudar.

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Na visão de alguns economistas, a dinâmica do pandemia impacta nos números do desemprego, diminuindo a procura por trabalho em virtude do medo do vírus. Fernanda Consorte, economista-chefe do Banco Ourinvest acredita no aumento dos números na próxima pesquisa. “Essa taxa de desemprego está mais baixa do que deveria estar, não reflete o mercado de trabalho, existe um desalento muito grande.”

Renan Pieri, professor de economia da FGV-SP, enfatiza que o aumento do desemprego não deve ser visto como reflexo de piora da economia, mas sim da normalização. “Com alguma melhora nos números da doença, especialmente nos grandes centros, é esperada uma melhora na procura por trabalho, fazendo com que os números do desemprego aumentem”, diz o economista.

Para Consorte, o que explica a saída da força de trabalho é o auxílio emergencial, o medo de se expor à doença e a falta de confiança na economia. “Quando essas pessoas voltarem, a taxa vai ser maior do que o total dessa pesquisa”, completa Consorte.

Por outro lado, para Pieri, a fase mais aguda do desemprego passou, fazendo com que o comércio e os serviços aumentem ofertas de emprego. “As políticas públicas que surtiram efeito agora, como suspensão de contratos e redução de jornada, impediram que muitas empresas falissem ou demitissem funcionários”, aponta Pieri.

Os dados do IBGE mostraram que entre os trabalhadores ocupados e não afastados do trabalho o total é de 77,9 milhões. Destes, cerca de 7,9 milhões seguem trabalhando remotamente, o que totaliza 10,2% da população ocupada e não afastada.

A PNAD COVID-19 também mostrou que os brasileiros afastados do trabalho devido ao distanciamento social totalizaram cerca de 2,7 milhões (ou 3,3% da população ocupada). Esse total segue em estabilidade quando comparado à semana anterior (2,8 milhões ou 3,4%) e caiu frente à semana de 3 a 9 de maio (16,6 milhões ou 19,8%).

Sobre ao cenário futuro, Pieri não acredita em uma volta rápida aos níveis anteriores de emprego. “Para isso é preciso que haja a vacina e políticas públicas para garantir distanciamento e segurança das pessoas. Aliado a isso, com a reforma tributária, a diminuição da burocracia e o controle da dívida pública podem alavancar a economia e aumentar o emprego”, conclui o economista. Para Consorte, em caso de possível piora econômica, é possível estender o auxílio emergencial. “Mas é preciso haver contrapartidas como corte de gastos, reforma administrativa e ajustes de salários de servidores”, completa.

Para Diana Gonzaga, professora e pesquisadora da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e coordenadora do Grupo de Pesquisas em Economia do Trabalho da UFBA (GeTrab), as medidas de natureza emergencial para o mercado de trabalho que tem sido adotadas pelo governo parecem cumprir os seus objetivos esperados, mas possuem um prazo de manutenção que, a princípio, será até o final do ano de 2020. “O Brasil já vinha apresentando taxas elevadas de desemprego e informalidade antes da pandemia, o que torna a tarefa de estimular o mercado de trabalho mais desafiadora”, disse a pesquisadora.

Gonzaga aponta que, após o fim das medidas de auxílio emergencial, qualquer tentativa de recuperação econômica precisa dar prioridade à adoção de políticas de estímulo à geração e à manutenção de empregos formais. “Experiências internacionais bem-sucedidas podem ser usadas como modelos”, diz a economista. E completa: “No entanto, até que tenhamos algum sinal de recuperação, será necessário combinar as políticas para o mercado formal com ações de proteção social para as populações mais vulneráveis, que possuem maior dificuldade de inserção neste segmento.”

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