Em live promovida pela Renascença DTVM e Panamby Capital, ele avaliou que a situação não deriva de uma insatisfação com a taxa Selic no nível atual de 2% ao ano, mas de uma mudança na estrutura de mercado que está diminuindo a demanda por títulos públicos.
“A raiz da questão é fiscal. O problema não são os 2%, o problema é o prêmio que o Tesouro tem que pagar acima da taxa Selic, estamos falando de algumas dezenas de ‘basis points’ (pontos-base)… e não do nível da taxa Selic propriamente dita”, afirmou ele.
Na apresentação, Serra destacou ainda a maciça captação líquida de CDBs (R$ 474 bilhões) e da poupança (R$ 174 bilhões) de 30 de setembro do ano passado a 25 de setembro deste ano, ao passo que os fundos de renda fixa de longo prazo perderam R$ 237 bilhões.
O diretor do BC ponderou que, apesar de início “um pouco mais abrupto” na reprecificação das LFTs, na margem há um movimento mais comportado do que aquele que geraria preocupação ou levantaria o alerta quanto a disfuncionalidade do mercado.
Ele destacou que, em meio à pandemia de Covid-19, a necessidade de financiamento do Tesouro aumentou muito rápido, num período em que os fundos de longo prazo pararam de crescer e inclusive tiveram seu tamanho reduzido.
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“A gente vai ter que incentivar os próprios fundos a alocar seus recursos num ativo mais longo, e o que vai incentivar vai ser preço”, disse ele, lembrando que no passado esse incentivo ocorreu via redução tributária, com instrução normativa da Receita Federal que permitiu uma incidência de alíquota menor de Imposto de Renda, de 15%, no alongamento do prazo de investimento nesses fundos.
Segundo Serra, as LFTs, títulos pós-fixados atrelados à Selic, demoraram mais para ser reprecificadas por serem menos líquidas justamente porque, com o incentivo tributário, os fundos ficavam concentrados em LFTs e carregavam o grosso dos papéis.
“O grande risco do processo é agora. Passada essa janela mais curta, eu tenderia a ficar mais tranquilo com relação ao ajuste. Acho que a gente já está no meio do processo ou no fim dele”, disse.
Os comentários foram feitos após o BC ter anunciado na última sexta-feira (9), em conjunto com o Tesouro, alterações nos critérios para os leilões de operações compromissadas com títulos públicos e também alterações no cronograma de venda desses papéis ao mercado, em um esforço para reduzir a pressão sobre as condições de financiamento da dívida pública.
As ações miram a elevação da demanda por LFTs, uma vez que haverá menos compromissadas na praça, reduzindo assim prêmio dos títulos flutuantes.
Política Monetária
Sobre a política de orientação futura implementada recentemente pela autoridade monetária, Serra destacou que, caso algum desdobramento fiscal leve o BC a abandonar o chamado “forward guidance” – por meio da qual a autoridade monetária se comprometeu a não elevar os juros mantidas algumas condições -, isso não significa que a taxa Selic seria necessariamente elevada, frisando não se tratar de um “desenvolvimento mecânico”.
“Qualquer coisa pode acontecer depois da queda do ‘forward guidance'”, afirmou o diretor, ressaltando que o BC, nesse caso, voltaria a discutir seu cenário-base, o balanço de riscos e mudanças nas projeções de inflação.
Serra defendeu que as reservas servem para proteger o país de choques externos, evitar que baques que não têm a ver com economia brasileira sejam transmitidos ou evitar o mau funcionamento do mercado de câmbio.
“Não temos receio de usar nenhum instrumento e nenhuma vontade de usar por motivos que não sejam a execução da política cambial e bom funcionamento do mercado”, disse.(com Reuters)
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