Caroline Celico fala sobre doação e a rentabilidade do investimento social

11 de dezembro de 2020
Divulgação

Caroline Celico está à frente da Fundação Amor Horizontal

O que é doar e o que é investir? Há quem acredite que doar e investir são termos completamente distintos. O primeiro vem acompanhado da ideia de perda, de retirar algo seu para compartilhar com o outro, enquanto o segundo transmite o conceito de um resultado no futuro. Este talvez seja um dos principais motivos porque muitas pessoas ainda não doam na mesma medida que investem, mas o ato de doar é também um investimento.

A doação nunca vem vazia, ela transforma na medida em que unimos um ato de amor à oportunidade de trazer conhecimento e um novo olhar para a vida de outrem, por isso, substituo a palavra doar por investir, que é quando investimos em nossa sociedade, nas pessoas em nosso entorno e no mundo que estamos deixando para os nossos filhos, amigos e familiares.

No dia 1º, celebramos o Dia de Doar, e eu tive o prazer de falar sobre doação com alguém que dedica o seu ativo mais precioso, o tempo, ao investimento em outras pessoas, através da Fundação Amor Horizontal (@FundacaoAmorHorizontal): Caroline Celico. Abaixo, veja um resumo dessa conversa rica sobre o valor do investimento na sociedade, também conhecido como doação, e como passar esses valores para as crianças e, assim, impactar vidas através do exemplo.

Investidor social

O investidor social é aquele que investe em iniciativas responsáveis e que impactam o mundo. Esse investidor pode ser tanto uma pessoa física como uma pessoa jurídica, investindo no trabalho de instituições, como ONGs e iniciativas sociais. O investimento social vai muito além de deixar bens para os filhos e família, ele nos permite deixar algo para a sociedade: ensinamentos, consciência, mudança de comportamento e propósito.

Na Fundação Amor Horizontal, as doações são transformadas em kits de material escolar, em produtos de higiene e em muitas outras necessidades que dão às crianças e suas famílias dignidade para viver o presente, e possibilidades de sonhar no futuro. “Essas crianças que hoje recebem material escolar, remédios, colchões, produtos de higiene, roupas e mochilas novas são crianças que estão aprendendo que merecem mais. Não é apenas sobre dar oportunidades, mas sobre transformar os seus sonhos. Cada centavo investido em doação é triplicado na vida dessas crianças, poucos investimentos dão esse tipo de retorno”, explica Caroline.

O trabalho de acompanhar as crianças e adequar as doações de produtos às suas demandas é feito pela fundação, que atua, principalmente, na primeira infância, mas atende a crianças e adolescentes de todas as idades. Mas cada centavo investido vai além, já que as instituições que atuam diretamente com as crianças recebem também apoio e estrutura para acompanhar a evolução dos pequenos, fornecendo assim um suporte que os permita transformar suas realidades de dentro para fora. Da infância para toda a vida.

O que fazemos quando investimos socialmente: transformamos amor em conhecimento, sobretudo, quando investimos na educação das crianças. Conhecimento com amor é a base da sociedade.

Como educar crianças para investir socialmente?

Não existe manual para a educação das crianças e, mesmo se existisse, não daria conta das individualidades de cada pequeno ser humano. Mas existem alguns comportamentos que podemos incentivar nos pequenos e, um deles, é transformar a ideia da doação como um ato de investir, em que os retornos são vultosos e colhidos em coletivo.

Para a educação financeira das crianças, recomendo que os pais autorresponsabilizem os pequenos pelas suas escolhas. Como? O primeiro passo é estipular uma mesada, que pode ser R$ 10. O ideal é que todos os pais possam retirar 2,5% do seu orçamento para essa educação financeira dos filhos, mas, caso não seja possível no momento, qualquer quantia é bem vinda, já que o importante é o aprendizado, e não a acumulação.

As crianças podem abrir conta em bancos digitais com muita facilidade, basta ter um CPF. Com a conta, os pais podem, e devem, automatizar as transferências mensais. A criança, então, deverá organizar o seu pequeno orçamento, separando 50% para o consumo e 50% para os investimentos e, aqui, incluímos a doação. Nada de presentes fora de época ou estratégias para burlar a relação consumo e investimentos na mesada. Se a criança deseja comprar algo, precisa trabalhar no seu orçamento e ter criatividade para conseguir.

Neste processo, a criança também é ensinada sobre investir na sociedade, já que, desde pequena, automatiza as transferências para a plataforma de investimentos e para a entidade que deseja doar, como a Fundação Amor Horizontal.

Por que eu recomendo tudo isso? Porque assim nossas crianças começam a ter projetos de vida, ainda que curtos, e responsabilidade social. Se ela quer comprar um presente, terá de avaliar se tem dinheiro para isso. A importância dessa mudança de comportamento é ensinar aos pequenos que as coisas têm valor e precisam ser conquistadas, assim como investir é fundamental para os nossos projetos de longo prazo. Automatizando e autorresponsabilizando, criamos adultos que poderão transformar o mundo a sua volta.

Consumo consciente, investimento também

O consumo em excesso está sempre atrelado a alguma falta, ao preenchimento de algum vazio, de algo não resolvido. Existe o consumo por status, que é quando você consome o que não precisa, para parecer quem você não é. As redes sociais promovem muito isso, assim como outras síndromes, como a FOMO (Fear of Missing Out, que em português quer dizer “medo de ficar de fora”) e se traduz no consumo em busca de aceitação, para não se sentir excluído ou diferente. Como se reeducar e, principalmente, educar as crianças para não caírem nessas armadilhas? Coloque os valores da família no centro das decisões de consumo. Isso significa consumir de forma consciente e, principalmente, investir nossos recursos em empresas e projetos que estejam alinhados com as coisas que desejamos ver na sociedade.

Neste sentido, algo muito importante é nunca reclamar do trabalho na frente das crianças. O trabalho não pode ser visto como algo penoso, feito somente por dinheiro, mas como uma fonte de prazer que torna possível conquistas e a mudanças na sociedade.

As famílias não estão sozinhas nessa jornada. As empresas já se conscientizaram sobre a importância de impactar o mundo de forma positiva, trabalhando e investindo em aspectos não tangíveis na sociedade. Em todo o mundo, mais de US$ 40 trilhões já estão alocados em ativos ESG (em português, Meio Ambiente, Social e Governança), mostrando que as empresas e os grandes investidores têm colocado, lado a lado, os seus propósitos com os investimentos, pois sabem que isso muda o mundo.

Francine Mendes é educadora financeira para mulheres, economista pela Universidade Federal de Santa Catarina, com mestrado em psicanálise do consumo pela Universidade Kennedy. Apresentadora do canal Mary Poupe, no YouTube, e comunicadora na RiCTV Record. Instagram: @francinemendes

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