Presente nas cinco regiões do país, o mercado brasileiro representa um dos mais importantes da companhia com 16 marcas, R$ 8 bilhões em vendas (2018) e mais de 17 mil colaboradores. Globalmente, a operação da Saint-Gobain movimenta € 52,3 bilhões (US$ 63,28 bilhões) e emprega cerca de 170 mil pessoas no ramo industrial, distribuídas em 67 países –a operação latino-americana, comandada por Fournier, representa 6% dos negócios e é a maior em rentabilidade.
Em um movimento recente realizado na tarde de ontem (28), o grupo anunciou a inauguração da primeira unidade da OBRA JÁ!, em Campinas, no interior de São Paulo. A nova bandeira, voltada para o atacado da construção, oferece produtos e soluções pensados para profissionais do setor, como crédito facilitado, preços por unidade e por volume e, em breve, e-commerce independente e programa de relacionamento com o cliente.
Veja a seguir, a entrevista de Thierry Fournier, CEO da Saint-Gobain para América Latina, concedida com exclusividade para a Forbes Brasil:
Forbes: Conte um pouco sua formação e trajetória.
F: Qual foi o momento mais desafiador da sua carreira? E o de maior satisfação?
TF: Desafios de negócios e entregar dividendos fazem parte. Logo, os momentos mais desafiadores são os acidentes de trabalho –eu não aceito e não tolero. É um choque emocional muito forte pelo qual já passei seis vezes. O mais satisfatório, é conhecer e ver pessoas ao meu redor crescerem, ganharem força e se tornarem líderes. Isso me anima muito, e eu trabalho para isso.
F: Já recebeu algum não? Qual seu maior aprendizado de carreira nestes anos de estrada e vida profissional?
F: Quais dicas você daria para jovens que estão iniciando suas vidas profissionais e planejam alcançar cargos de alto escalão em grandes companhias?
TF: O equilíbrio é importante para alavancar da melhor forma sem tomar muitos riscos e ter a certeza de que sempre é o melhor. Mas a dica principal é escolher onde você quer chegar em dez anos e qual é a sua ambição –pode ser social, profissional, humanitária. Busque isso em cada decisão do dia a dia e tenha em mente que esse objetivo pode mudar. Nada vai sair exatamente da forma esperada, mas ter um norte é a melhor opção. E tenha ambição, tudo é possível. Se o homem não quisesse ir para a Lua, ninguém teria chegado lá.
TF: A honestidade e o engajamento. O meu papel é criar um clima de confiança e colaboração para incentivar as pessoas e deixar elas trabalharem sem interferir em tudo. Engajar pessoas é um trabalho de longo prazo, ganhar confiança demora, mas quando chega a esse momento as pessoas se tornam capazes de construir coisas incríveis.
F: Tem algum sonho ou meta que ainda queira alcançar?
TF: Sim. Temos muita responsabilidade social, somos grandes e impactamos a vida dos brasileiros. Quero poder fazer mais pela juventude e pelos setores em que atuamos. Ano passado fechamos uma parceria com a Unicef para educar pessoas e oferecer oportunidades. Também lançamos um programa de diversidade e inclusão, a ideia é ser exemplo e ter em nossas equipes pessoas de todos os extratos da sociedade.
F: Qual sua maior motivação e quem é sua maior inspiração profissional?
F:O que você faz para aliviar a pressão e quais são os seus hobbies?
TF: Para aliviar a pressão, eu não trabalho em casa. Me dedico 100% ao trabalho quando estou nele. Criar uma barreira entre o profissional e o pessoal requer muita disciplina –ainda mais com a facilidade que os celulares proporcionam de estar em contato com todo mundo a qualquer horário. Também pratico muito esporte e tenho muitos amigos.
F: Dos lugares por onde já passou, qual o seu favorito? E sobre o Brasil, o que o agrada e desagrada mais?
É difícil fazer um resumo sobre o Brasil, é uma terra de otimismo, rica em recursos, gastronomia, praias, emoções, pessoas com vontade de crescer e fazer melhor. Nunca vi um país com tanto potencial, amei desde o primeiro dia que cheguei. Tem menos para melhorar em comparação ao que tem de bom. Aqui não tem resistência à mudança, existe um apetite para fazer as coisas de forma diferente. Por outro lado, como executivo, é preciso acompanhar de perto para não deixar as coisas se perderem. E, por fim, o brasileiro se encanta demais quando está no topo e é pessimista demais quando está em uma fase ruim. É muito importante tentar buscar a mediana entre os dois mundos.
F: Qual o balanço da operação da Saint-Gobain neste ano atípico de pandemia que paralisou diferentes setores da economia? Houve impacto negativo?
A gestão de caixa foi um problema, mas conseguimos linhas de crédito em dois dias –acabamos não usando. No final das contas, conseguimos manter um bom fluxo e estamos em condições saudáveis. A Saint-Gobain sai da crise com crescimento entre 10 e 12%, não cortamos nenhum posto de trabalho e não fizemos nenhuma reestruturação.
Para 2021, esperamos crescimento de 17% no primeiro semestre.
F: Como a companhia lidou com a pandemia no quesito operacional e relação com os funcionários?
Hoje, voltamos aos escritórios de maneira cautelosa e em rodízio, funcionários do grupo de risco permanecem em trabalho remoto. Não tivemos nenhum caso de infecção no escritório. A cada semana, reunimos toda a diretoria e executivos para discutir a evolução –não só no factual mas também no emocional das equipes.
F: O período de pandemia, para além das dificuldades operacionais e de faturamento, gerou outro problema verificado por um levantamento da CNI: a escassez de matéria-prima para produção industrial. Esta problemática chegou às fábricas da Saint-Gobain, gerando diminuição na produção e até redução de faturamento? Se sim, como a companhia tem negociado e contornado a questão?
TF: Tivemos problemas de desabastecimento, mas conseguimos resolver porque temos fornecedores dentro e fora do Brasil. A distribuição encontrou problemas para receber produtos, como o aço, mas agora estamos voltando a um patamar mais saudável. Na parte da cerâmicas, ainda temos certa escassez, mas pela gama de opções finais ainda conseguimos satisfazer os desejos dos clientes. O ponto principal é que não perdemos oportunidades e passamos a negociar mais prazos para as entregas.
TF:A operação da América Latina representa entre 6% e 7% dos negócios. Em termos de rentabilidade é a maior –o peso do resultado é maior que o do faturamento.
F: Como a Saint-Gobain está se posicionando em inovação aberta, visto que inovar faz parte do modus operandi da companhia?
TF: Em 2020 a Saint-Gobain no Brasil foi escolhida como a empresa mais inovadora do setor da construção pelo Prêmio Valor e, no ano passado, estivemos entre as dez mais inovadoras em todos os setores.
Começamos uma jornada de inovação: revisamos nossa maneira de pensar o novo e treinamos nossas equipes para treinar. Entramos como parceiros no Cubo Itaú e estamos interagindo com mais de 500 startups –seja da área digital ou industrial. Temos mais de 100 projetos com startups. Também estamos trabalhando o intraempreendedorismo: o foco é trazer a cultura da agilidade, então deixamos para os funcionários a possibilidade de desenhar um plano para converter ideias em negócios. Hoje, no Brasil, 25% das vendas feitas pela companhia são de produtos que não existiam há cinco anos.
F: Quais as tendências de mercado identificadas pela Saint-Gobain nos setores em que atua?
TF: O setor da construção vai continuar forte. O industrial e o automotivo devem melhorar um pouco, mas ficar abaixo. Com a chegada da vacina, o nível de imprevisibilidade cai, mas precisamos ter certeza de que vamos nos ajustar independentemente do cenário. Já é a terceira crise que enfrento no Brasil e ainda não saímos dela, mas podemos ver a luz no fim do túnel. O que me preocupa é a onda que ainda vamos enfrentar economicamente no mundo todo. Quem vai pagar a conta da inflação? O longo prazo está cada dia mais próximo.
TF: Claro. Em cinco anos, fizemos 14 aquisições na região. Não tenho um plano em particular, são sempre oportunidades que se apresentam. Temos outros projetos na Colômbia, México, Chile e Argentina também.
Meu problema no Brasil agora é bom: após seis anos de parada de investimentos em fábricas, nosso time precisa correr para abrir novas plantas o mais rápido possível em Goiás. Estamos preparando um novo investimento lá.
F: Sobre a operação global, qual o faturamento da companhia, número de funcionários e crescimento da operação ao longo dos anos?
F: Como a companhia trabalha o tópico sustentabilidade e o que tem feito para reduzir a pegada de carbono?
TF: Acabamos de nos comprometer para chegar à neutralidade de carbono em 2050. Para 2025, temos objetivos de reduzir a emissão de CO2, consumo de energia, de água e geração de lixo não reciclável. Temos objetivos para 2030 também: a meta é criar novos processos e descarbonizar nossas matérias-primas. Nós só vamos neutralizar a emissão, mas também fazemos parte da solução porque contribuímos para a reduzir o impacto ambiental onde nossos produtos estão.
F: Quais as diferenças de comportamento de consumo do mercado brasileiro em comparação às demais regiões?
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