Fabricante brasileira de pás eólicas, Aeris mira ganhos com políticas de Biden

20 de janeiro de 2021
Pascal Rossignol/Reuters

A Aeris espera se beneficiar nos próximos anos de uma onda de investimentos em renováveis, prometida pelo presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden

A fabricante brasileira de pás para energia eólica Aeris espera se beneficiar nos próximos anos de uma onda de investimentos em renováveis, prometida pelo presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden.

A empresa, que fez uma oferta inicial de ações (IPO) em novembro movimentando R$ 1,13 bilhão, já exporta parte de sua produção e tem como clientes grandes fornecedores globais de turbinas eólicas, como a dinamarquesa Vestas, a norte-americana GE e a alemã Nordex, além da local WEG.

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“Com a vitória do Biden, e agora com a vitória dos democratas no Senado, obviamente isso impulsionou todo o setor eólico, todo o setor de renováveis, porque é até difícil prever o que virá de demanda, dado todo o ‘pacote’ que ele está prometendo“, disse o presidente da Aeris, Alexandre Negrão.

Ele avalia que expectativas com o próximo governo dos EUA e a crescente preocupação de investidores com sustentabilidade, governança e temas sociais (ESG) têm impulsionado as ações da Aeris, que subiram quase 90% desde o IPO.

A empresa também está otimista com perspectivas no Brasil, onde investidores têm, cada vez mais, apostado em construir usinas eólicas para vender a produção no chamado mercado livre de eletricidade, onde grandes consumidores, como indústrias, negociam diretamente contratos e preços com empresas do setor de energia.

“Estamos vivendo um momento muito especial, pensando não só em exportação, mas também pegando uma forte alta no mercado livre [no Brasil]. Quem acompanha sabe o quanto cresceu esse mercado nos últimos três anos”, comentou o executivo.

A Aeris, que possui instalações industriais no porto de Pecém (CE), já vendeu pás eólicas para projetos nos EUA, Europa, países da América do Sul, como o Chile, e até para a Austrália. “O principal mercado é o norte-americano, porque é o maior mercado disparado em relação aos outros. E a Aeris tem uma posição muito competitiva, pelo lugar onde estamos. Pecém (CE) é relativamente perto de Houston (Texas), para onde as pás vão, então a gente chega com preço bem competitivo”, detalhou Negrão.

Em 2019, as exportações responderam por 70% da produção. Em 2020, a proporção do mercado local cresceu, mas não por falta de demanda externa, e sim por aceleração no Brasil, disse o CEO. Ele estimou que apenas empreendimentos eólicos no Brasil deverão representar uma expansão anual de entre 3 gigawatts e 4 gigawatts em potência instalada ao longo da próxima década. A Aeris possui capacidade para produzir pás para 4,5 gigawatts em turbinas eólicas por ano.

“Hoje, no Brasil, cerca de 10% da matriz é eólica, e ainda tem muito espaço para crescer. E também no mundo”, afirmou Negrão. A expansão do mercado brasileiro, segundo ele, deve ser guiada agora principalmente por projetos no mercado livre, dada a já verificada redução ao longo dos últimos anos no ritmo de contratação de novas usinas em leilões promovidos pelo governo.

Em 2020, por exemplo, o governo suspendeu licitações para novos projetos de geração devido à crise do coronavírus. Algo semelhante havia ocorrido no final de 2016, mas com outra reação naquela época, lembrou Negrão. “Em 2016, o cancelamento do leilão foi uma péssima notícia de Natal (para investidores em eólica). Agora, quando cancelou, ninguém falou nada, não teve nenhuma reação. Isso é um sinal claro que o mercado livre está tomando grandes proporções.”

PARTICIPAÇÃO NO MERCADO

A Aeris pretende aumentar a participação no mercado eólico, calculada atualmente em 7% na indústria global, exceto China, e em cerca de 70% se considerados somente projetos no Brasil. A empresa espera ganhar espaço em meio a um movimento de grandes fabricantes internacionais que buscam aumentar a parcela de pás adquiridas junto a terceiros.

“Eles fabricam as próprias pás também, cerca de 50% da demanda total deles é fabricada ‘dentro de casa’ e já anunciaram que querem chegar a 70% de outsourcing”, disse Negrão. “Temos um objetivo, no médio e longo prazo, de tentar capturar dentro desses clientes uma participação na casa de 20%, 30%, o que acredito que é totalmente factível”, acrescentou.

Para atender essa demanda, a Aeris poderá apostar em expansão, modernização ou novas unidades, acrescentou o CEO, embora com a ressalva de que a companhia não tem um plano de investimentos relevante no momento.

Negrão, que também é automobilista com atuação na Stock Car, contou que a entrada no setor de energia veio após sua família ter vendido a participação na farmacêutica Medley, ao ter contato com um grupo de quatro ex-engenheiros da Embraer que procuravam um investidor para a fabricação de pás eólicas. “Queríamos investir novamente, em alguma coisa ligada à energia, pegamos uma fase de mercado muito boa”.

Ele também comentou que a Aeris cresceu mesmo em meio à pandemia de coronavírus, e fechou 2020 com cerca de 6 mil funcionários, de 3 mil no início do ano. “O setor [eólico] se mostrou muito resiliente. Acho que os principais gargalos em 2020 foram do fator logística, não o fator demanda, a demanda continuou muito forte e isso é impressionante”. (com Reuters)

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