O projeto sofreu a primeira debandada dois dias depois e foi fatalmente enterrado na última quarta-feira (21). A Fifa e a própria Uefa, associação dos clubes europeus, se manifestaram contra o novo campeonato, e ameaçaram punir os dissidentes, podendo inclusive bani-los de suas competições, o que deixou os torcedores ainda mais furiosos com a tentativa de separatismo. Hoje (23), a Uefa decidiu que não haverá punição.
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Os investidores do setor foram atraídos pela promessa de que a nova liga poderia gerar € 3,5 bilhões para os clubes participantes, na tentativa de recuperar perdas com a Covid-19. Para fins de comparação, na temporada de 2018/2019 os times geraram € 3,2 bilhões em direitos de transmissão, somando todas as competições da Uefa, conforme informações do Globo Esporte. A decadência do projeto derrubou o sonho do mercado.
O banco norte-americano JPMorgan, que havia se comprometido em financiar a operação da nova liga, admitiu hoje (23) que “julgou mal a forma como o negócio seria visto pela comunidade do futebol e quais poderiam ser os impactos no futuro”.
Os papéis dos clubes costumam sofrer oscilações conforme os desempenhos nos campeonatos, mas foram especialmente afetados pelas pausas por conta das medidas para conter o coronavírus ao redor do mundo. No ano, o papel do Juventus acumula perda de 9,34%. A ação do Manchester United sofre menos, com recuo de 1,7% em 2021.
A tentativa de criação da Superliga da Europa, contrária à atual Liga dos Campeões, foi anunciada pelos doze principais times do velho continente no último domingo (18). São eles: Arsenal, Chelsea, Liverpool, Manchester City, Manchester United, Tottenham, Atlético de Madrid, Barcelona, Real Madrid, Inter de Milão, Juventus e Milan.
O projeto, apesar de já ter sido suspenso, deixa a mancha nos nomes dos clubes e seus dirigentes. De acordo com o especialista em gestão desportiva sediado em Portugal, Patrick Oliveira, os líderes dos clubes não esperavam tantas reações contrárias das torcidas. “Os dirigentes esperavam que torcedores poderiam gostar de ver os gigantes da elite se enfrentando com mais frequência, mas isso reduziria as rivalidades locais, a meritocracia e a ‘verdade desportiva’, fatores que movem mais a paixão pelo futebol no dia a dia.”
O gestor disse à Forbes que a criação da Superliga comprovaria que o foco maior dos dirigentes é o lucro, e não a torcida, além de promover a elitização do futebol. “A tentativa escancarou que os dirigentes priorizam o lucro em detrimento do esporte. Os torcedores são os primeiros interessados. Sem torcedores, os demais stakeholders do futebol perderiam o sentido. A Superliga ainda confirma as críticas que já existiam desde o fim dos anos 1990 sobre a elitização do futebol, deixando de lado clubes de ‘segunda linha’.”
O bilionário dono do time italiano Fiorentina, que não fazia parte dos selecionados pela Superliga, Rocco Commisso, disse à Forbes nos Estados Unidos que a tentativa da nova liga foi um enorme “fracasso de relações públicas”. Para Commisso, os clubes envolvidos acreditavam estar entre “os poucos selecionados, no topo do mundo”. Assim como Bousquet, Commisso reforçou que os times menores “precisam ter a chance de sonhar”.
O dono do time da Série A italiana ressalta que a Fiorentina não teria capacidade financeira competitiva com os clubes separatistas, que arrecadavam cerca de € 600 milhões por ano antes da pandemia. “Aqui na Fiorentina, antes da Covid, tínhamos cerca de € 90 milhões de receita. Como minha equipe vai competir?”
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