IPOs movimentam R$ 30 bilhões entre janeiro e abril, mas conjuntura eleva régua do mercado

5 de maio de 2021
iStock/GettyImages Plus

Percepção de risco impacta ofertas e aumenta desconto para candidatas à listagem na Bolsa brasileira

Apenas nos quatro primeiros meses de 2021, o mercado de capitais brasileiro registrou 33 IPOs (Oferta Pública Inicial, na sigla em inglês), responsáveis pela captação de mais de R$ 30 bilhões, segundo dados da CVM (Comissão de Valores Mobiliários). O total de ofertas no quadrimestre superou a marca das 28 operações realizadas no último ano. Os números, no entanto, podiam ser ainda melhores, já que ao menos 30 ofertas foram suspensas ou canceladas pelas empresas no período, acima dos 25 cancelamentos registrados em 2020. Entre as principais razões apresentadas pelas companhias estão as condições de mercado, com o aumento na percepção de riscos refletida no maior desconto dos ativos.

“O que vimos nas primeiras semanas do ano foram companhias que já estavam prontas para lançar suas ofertas. O investidor estrangeiro também estava na Bolsa, entrando nos deals. A partir da segunda metade de fevereiro, o investidor estrangeiro começou a sair do mercado local por essa percepção de risco”, explica Fabiana Sakai, sócia do Milbank.

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Na análise do Levindo Santos, sócio da G5 Partners, entre os fatores que colaboram para um cenário mais seletivo do mercado nos IPOs brasileiros estão o agravamento da pandemia e a normalização dos juros, iniciada pelo Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central em março. As medianas das projeções do mercado apontam para a taxa básica de juros da economia em 5,5% ao fim de 2021, segundo Boletim Focus desta semana. Hoje, o Copom encerra sua reunião de maio e deve elevar a taxa Selic em 0,75 ponto percentual, para 3,5% ao ano.

“Os investidores estão disponíveis, mas agora há uma visão de maior risco que se reflete em preço”, comenta Santos.

Em abril, nove empresas cancelaram ou suspenderam suas ofertas de ações, enquanto seis empresas estreavam na Bolsa brasileira, algumas após conceder desconto em suas ações, como no caso da Mater Dei, que aceitou um desconto de 20% sobre o piso da faixa e o Grupo GPS, que reduziu a faixa de preço por ação.

“O mercado começa a ficar mais restritivo e, sinceramente, que bom, porque isso significa que alguém está, de fato, colocando regras e parâmetros, e exigindo níveis de qualidade que são muito mais benéficos sendo colocados agora do que depois”, comenta Santos.

Apesar do cenário mais restritivo, os especialistas avaliam que o movimento de cautela não sinaliza outro “voo de galinha” dos IPOs no Brasil, expressão utilizada para designar movimentos de curto alcance e que não se sustentam em longo prazo.

“Na pandemia, a gente teve uma confluência de fatores, que fez com que o mercado se desenvolvesse. Agora, as companhias enxergam o mercado de capitais como uma via de financiamento das operações. Essa visão vai continuar e elas devem seguir usando isso nas suas estratégias”, avalia Fabiana.

Santos recorda ainda que, em 2007, o boom de IPOs foi altamente concentrado em dois ou três setores. “A gente ainda tem concentrações e ainda temos muitos segmentos da economia pouco representados na Bolsa, mas já começamos a ver muito mais qualidade e eu espero realmente que seja um movimento mais sustentado”, adverte o executivo, complementando que, entre os setores que podem se beneficiar de um mercado mais seletivo e maduro nos próximos meses estão o varejo, saúde, serviços financeiros e o agronegócio.

Entre as estreias previstas para maio na Bolsa brasileira estão GetNinjas, Athena Saúde e Dotz.

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