Por que as separações grisalhas aumentaram

26 de maio de 2021
Mikroman6/Getty Images

Nos últimos 20 anos, o percentual de divórcios de homens de mais de 50 anos subiu 49% e o de mulheres, 66%

Nos últimos artigos, falamos de mudanças e de como aproveitar de forma saudável os 20 ou 30 anos que o aumento da expectativa de vida nos trouxe. Em outras palavras, falamos sobre a importância de sair do piloto automático, alterar a direção das nossas vidas e criar objetivos para aproveitar o bônus demográfico.

Sabemos que, mesmo quando a mudança é uma decisão pessoal, ela não é fácil. Mais difícil ainda é quando somos forçados a mudar pela decisão de outras pessoas. O fim de um casamento pode ser um exemplo disso.

Nos últimos 20 anos, o percentual de divórcios de homens de mais de 50 anos subiu 49% e o de mulheres, 66%. Segundo o IBGE, em 1999, apenas 12% das mulheres e 19% dos homens que se separavam tinham mais de 50 anos. Em 2018, esses números já representavam 28,69% para homens e 21,05% para mulheres dessa faixa etária.

Além disso, a maior parte dos divórcios ocorria nos primeiros anos de casamento. Em 2018, no entanto, o percentual de separações após 20 anos de matrimônio já foi semelhante ao de separações nos cinco primeiros anos de união.

Normalmente, a paixão leva um casal a decidir viver junto, mas a vida a dois requer mais do que paixão. Os desafios provocam os divórcios precoces. Superada a barreira inicial do casamento, existe uma queda das separações quando chega a fase em que a maioria dos casais se dedica à criação dos filhos.

Vencido o desafio da maternidade e da paternidade, muitos casais passam a sofrer o que os psicólogos chamam de “síndrome do ninho vazio”. É quando a tarefa hercúlea de criação dos filhos dá uma trégua. Em um passado recente, poucas pessoas se separavam nessa fase. E o que contribuía para isso era a dependência financeira das mulheres e a pequena expectativa de vida saudável dos cônjuges.

Por um lado, com o aumento da longevidade e os avanços da medicina, homens e mulheres têm faculdades mentais, corpos saudáveis e vida sexual ativa por mais tempo. Por outro lado, se o relacionamento a dois não vai bem, muitos casais grisalhos acabam decidindo que não vale a pena manter um casamento que perdeu o brilho de outrora.

Só que a realidade pode ser mais complicada do que parece. Muitas vezes apenas um dos lados quer a separação, e aí vem a mudança forçada. O divórcio de um casal com longos anos de convivência não afeta apenas os cônjuges e os filhos, também prejudica amizades e rompe laços de família que são tramados ao longo do tempo. Normalmente, quanto mais tempo dura um casamento, mais laços afetivos se formam em torno do casal.

Quando se trata de uma decisão consensual, é mais fácil preservar relações que são importantes para o casal e para os filhos. Quando a separação não é da vontade de ambos os cônjuges, tudo se torna bem mais difícil.

Outro ponto que frequentemente ocorre é a dificuldade de divisão dos bens materiais. Algumas vezes, o cônjuge que se sente abandonado usa o dinheiro como último campo de batalha, e o custo financeiro de uma briga judicial pode destruir patrimônios duramente construídos ao longo da união, ora desfeita.

Como nos contos de fadas, os casais sonham com a convivência romântica até que a morte os separe. Porém, o longo horizonte de vida saudável, a independência financeira das mulheres e os avanços da medicina tornam mais difícil a realização desse sonho.

Será, então, que todos os casamentos irão acabar um dia? Felizmente, isso não é verdade. Quanto mais tempo vivemos, mais iremos mudar ao longo da vida. Para um relacionamento durar, ambos os cônjuges precisam mudar.

Gosto muito da história de um casal que resolveu comemorar os 30 anos de união indo ao mesmo hotel onde tinha passado a lua de mel. Tudo parecia perfeito. No quarto, os dois puderam observar os mesmos cuidados de 30 anos antes. O restaurante continuava maravilhoso, o café da manhã continuava delicioso, até o som do bar continuava divino.

Ao sair, o casal chamou o gerente geral para dar os parabéns e perguntou como era possível manter o hotel igual ao que era há três décadas. O gerente desolado respondeu: “Como assim? Nunca ficamos um mês sequer sem mudar. Nem de longe somos o que éramos há 30 anos.”

Talvez, seja esse o segredo para manter um casamento por uma vida: os dois lados devem mudar todos os dias. E a mudança contínua pode tornar tudo tão belo e funcional que vai parecer que nada mudou.

Jurandir Sell Macedo Jr é doutor em finanças comportamentais, professor universitário e, desde 2003, ministra na Universidade Federal de Santa Catarina a primeira disciplina de finanças pessoais do Brasil. É autor de inúmeros livros sobre educação financeira e tem pós-doutorado em psicologia cognitiva pela Université Libre de Bruxelles. Escreve sobre Finanças 50+ sempre às quintas-feiras. Instagram @jurandirsell E-mail jurandir@edufinanceira.org.br

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