A história sombria e secreta do bilionário por trás do OnlyFans

17 de junho de 2021
Forbes/Reprodução

A Forbes estima que a participação de Radvinsky na Fenix International – empresa controladora do OnlyFans – vale cerca de US$ 1,8 bilhão

Em outubro de 2018, o barão das fotos sensuais na internet, Leonid Radvinsky, comprou cerca de 75% de um negócio em crescimento e parcialmente inédito, chamado OnlyFans (ApenasFãs, em português). Na época, o empreendimento era um site social e de vídeos, com sede em Londres, que permitia a artistas voltados ao público adulto ganhar dinheiro sem sair do conforto de suas próprias casas.

Os “criadores de conteúdo”, a maioria estrelas pornôs, cadastravam suas contas na plataforma e cobravam uma taxa de assinatura aos espectadores (chamados pela empresa de “fãs”). Essa taxa podia variar de US$ 4,99 a US$ 49,99 por mês. Os artistas ficam com 80% do valor cobrado.

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Durante a pandemia, com o fechamento de toda a produção de filmes – adultos ou não – e pessoas solitárias presas em casa, os negócios do OnlyFans prosperaram. No ano, até novembro de 2020, o site registrou receitas de US$ 400 milhões, aumento de 540% em relação ao ano anterior. Deste valor, 80% veio de clientes nos Estados Unidos, onde o OnlyFans é febre entre diferentes públicos.

O número de criadores quase quintuplicou, atingindo 1,6 milhão, incluindo estrelas mais populares como a cantora Cardi B, o DJ Khaled, o rapper Fat Joe e a empresária Rebecca Minkoff. O número total de fãs pagantes cresceu mais de 500%, para 82 milhões de cadastros. Os lucros após o pagamento de impostos aumentaram quase 10 vezes, de US$ 6,6 milhões para US$ 60 milhões. A Forbes estima que a participação de Radvinsky na Fenix International – empresa controladora do OnlyFans – vale cerca de US$ 1,8 bilhão, fazendo dele um novo bilionário.

Além dessas informações financeiras impressionantes, publicadas no Reino Unido, pouco se sabe a respeito de Radvinsky (atualmente com 39 anos), que não respondeu aos repetidos pedidos de comentários da Forbes. Um representante do OnlyFans também se recusou a comentar.

Sabemos que o OnlyFans foi fundado em 2016 por um empresário britânico chamado Timothy Stokely, agora com 37 anos, ao lado de seu pai, Guy Stokely, um banqueiro aposentado, e de seu irmão, Thomas. Em arquivos no Reino Unido, Radvinsky e Guy Stokely são listados como os únicos diretores da empresa. Timothy, Thomas e Guy Stokely se recusaram a participar desta reportagem.

O pouco que se sabe sobre Radvinsky não é lisonjeiro. Cerca de vinte anos atrás, antes da pornografia ser amplamente disponível de forma gratuita na internet, ele dirigia um pequeno império de sites que anunciavam o acesso a senhas “ilegais” e “hackeadas” para outros sites pornôs. Incluindo aqueles que eram advertidos pela presença de menores de idade.

No final da década de 1990, esses sites eram comuns e usados para comercializar não apenas a pornografia, mas também jogos de azar online e outras atividades do mercado paralelo. Mas a atuação de Radvinsky foi particularmente agressiva. Olhando através do arquivo disponível no portal Wayback Machine (que permite acessar páginas antigas na internet), a Forbes descobriu 11 desses sites de senhas ilegais. Todos criados por Radvinsky e sua empresa Cybertania, baseada em Glenview (Illinois), no final dos anos 1990 e início dos anos 2000.

Nas páginas de Radvinsky eram disponibilizadas o Password Universe, que em 2000 publicou um link direcionando usuários da web a um site que oferecia acesso a pornografia infantil para pedófilos. Em 1999, outro site do atual bilionário, chamado Working Passes, disponibilizava um link para conteúdo sexual com jovens de 16 anos. Também em 2000, outro portal, o Ultra Passwords, prometeu um link contendo “as melhores senhas ilegais para adolescentes” e “o site de zoofilia mais quente da web”.

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A idade legal para atores e atrizes pornôs nos EUA é de 18 anos, enquanto a zoofilia é ilegal na maioria dos estados norte-americanos. O portal Wayback Machine removeu os antigos sites de Radvinsky de seu arquivo, após falar com a Forbes.

Não há, no entanto, evidências de que qualquer um dos sites de Radvinsky tenha realmente redirecionado usuários para a pornografia infantil ou zoofilia. Em vez disso, eles parecem ter sido uma forma de Radvinsky ganhar dinheiro cobrando de seus parceiros (sites pornôs verdadeiros) por cada clique.

A Forbes, proibida de acessar tais imagens, pediu que a Internet Watch Foundation (IWF) olhasse páginas arquivadas contendo links anunciando pornografia de menores. O IWF é um grupo especializado na remoção desse tipo de conteúdo da web. De acordo com a organização, nenhuma das páginas estava vinculada a material ilegal.

Em vez disso, os links direcionavam o usuário para sites semelhantes, que ofereciam mais links para senhas pornográficas gratuitas ou de outro conteúdo adulto. Em 2002, um ano antes de Radvinsky se formar na Northwestern University, onde estudou economia, sua empresa Cybertania processou a Verisign, registradora de domínios e provedor de backbone da internet, alegando que a companhia teria transferido um de seus sites para outra pessoa.

“A Cybertania ganhava uma quantia em dinheiro por cada conexão de hiperlink ou senha usada dos respectivos proprietários e operadores destes portais de referência”, escreveram os advogados da Cybertania. Em outro processo contra Radvinsky, o autor da queixa afirmou que Ultra Passwords “apresenta a imagem enganosa de fornecer senhas roubadas para obter serviços gratuitos de outros sites pornográficos. Mas que, na verdade, era um lucrativo portal de referência afiliado”.

Esse era um negócio desprezível, mas lucrativo. Um dos sites de Radvinsky gerava receitas de US$ 5.000 por dia em 2002, ou US$ 1,8 milhão ao ano.

Passaram-se 20 anos entre o início dos negócios de links sexuais e a compra de 75% do OnlyFans. No início dos anos 2000, Radvinsky criou uma série de sites com links para vídeos sexuais de celebridades. Também fundou o MyFreeCams, um portal que afirmava ser o serviço número um do mundo de pornografia via webcam.

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Ele também apareceu ocasionalmente em processos judiciais. Em 2003 e 2004, a Amazon e a Microsoft processaram Radvinsky em um tribunal nos EUA por supostas campanhas de spam que usavam o nome da Amazon e ferramentas de e-mail da Microsoft para oferecer aos destinatários “dinheiro grátis do governo” ou links para sites adultos. Ele negou todas as acusações.

Os casos foram resolvidos fora do tribunal, em 2005, e Radvinsky e seus negócios foram impedidos de usar o nome da Amazon em envios de spam ou usar qualquer uma das ferramentas de e-mail da Microsoft. Seu negócio na Cybertania também foi processado em 2005 por uma modelo, Sheila Lussier, por usar sua imagem (vestida), em um de seus sites pornôs, uma alegação também negada pela empresa. Pela ação, Sheila recebeu o pagamento de uma quantia não revelada.

O próprio OnlyFans teve seus problemas com usuários menores de idade. Como o site não verifica a idade dos produtores de conteúdo adulto de forma independente, é bastante fácil para as pessoas mentirem durante o cadastro.

No final de maio, uma investigação da BBC revelou que uma menina de 14 anos conseguiu registrar uma conta como artista no OnlyFans usando o passaporte de sua avó. Uma autoridade policial disse à BBC que o OnlyFans “não está fazendo o suficiente para colocar em prática as proteções que evitam que crianças explorem a oportunidade de gerar dinheiro, mas que evitam também que essas crianças sejam exploradas.”

Em resposta, o OnlyFans emitiu uma declaração de que usa “tecnologia de ponta” e “monitoramento humano” para tentar evitar que menores de 18 anos compartilhem conteúdos na plataforma. E que levou o problema “muito a sério”.

Signy Arnason, diretora-executiva associada do Centro Canadense de Proteção à Criança, afirma que o grupo costuma receber notificações sobre modelos no OnlyFans potencialmente menores de idade. Ela descreve os esforços da plataforma para proteger os menores de idade como “mínimos”. O OnlyFans tem “uma responsabilidade moral e ética a melhorar”, acrescenta ela.

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