Empresas brasileiras foram impactadas por montanha-russa no minério de ferro em maio

1 de junho de 2021
JamesImphotographer/GettyImages

Empresas brasileiras foram impactadas por montanha-russa no minério de ferro em maio

O mês de maio foi uma montanha-russa para os preços do minério de ferro. A cotação da commodity no exterior enfrentou forte volatilidade, impulsionada pela demanda aquecida advinda da reabertura das economias e medidas de reguladores na China para conter possíveis especulações nos preços. No fechamento de ontem, o contrato futuro negociado para setembro de 2021 na DCE (Dalian Commodity Exchange) fechou o dia em 11006 iuanes, o mesmo que US$ 173,57/tonelada no câmbio do dia, segundo informações da própria. O preço do minério de ferro com 62% de teor, referência do mercado, chegou a superar pela primeira vez a marca dos US$ 200/tonelada em maio.

As oscilações nos preços impactaram as empresas brasileiras que dependem da matéria-prima. Enquanto a Vale registrou valorização no mês de 5,82%, impulsionada pelo avanço dos preços do minério, o setor de siderurgia sofreu com os custos na fabricação de produtos com a commodity mais cara, segundo análise de Ilan Arbertman, analista de research da Ativa Investimentos. “Mas é preciso entender como cada empresa se posicionou com a situação, já que muitas alteraram a composição de seus produtos de forma a não aumentar o seu preço”, explica.

A CSN Mineração e a Usiminas, por exemplo, tiveram que reajustar seus preços em curto prazo, visto que aproximadamente 70% do Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) dessas organizações responde ao preço do minério. “Ao mesmo tempo, a Gerdau sofreu menos em menor grau por trabalhar mais com produtos já finalizados e não somente o minério bruto”, comenta Arbertman. As variações nos preços, no entanto, foram compensadas pela desvalorização do dólar, que acumulou queda de 3,8% no último mês e cotado a R$ 5,2243 na venda no fechamento de ontem (31).

De acordo com Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Órama Investimentos, a escassez de oferta permitiu aos principais players brasileiros reajustar seus preços, além de outros setores. Para os próximos seis meses, as perspectivas são ainda mais positivas para o setor com a recomposição da economia. Para ele, “o mercado futuro de minério, na Bolsa chinesa de Dalian (DCE) está “invertido”, com preço para vencimento de maio de 2022 em torno de US$ 40/tonelada, abaixo do preço atual. De qualquer forma, admitindo que a economia volte para a “normalidade” em 2022, com a vacinação prosperando mundo afora, vejo o setor com bons olhos para os próximos anos.”

Dados divulgados hoje pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revelam que a economia do Brasil registrou crescimento no primeiro trimestre de 2021. O PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil avançou 1,2% entre janeiro e março, marcando o terceiro trimestre consecutivo de ganhos, mas ainda bem abaixo da alta de 3,2% observada no quarto trimestre de 2020. Ainda assim, o resultado foi suficiente para levar o PIB de volta ao patamar do quarto trimestre de 2019, período pré-pandemia.

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Modus Operandi da China

As principais Bolsas de futuros chinesas anunciaram em 11 de maio possíveis punições para negociações não-especificadas que tivessem sido violadas, uma das primeiras tentativas de contornar o cenário de elevação nos preços. Ambas as Bolsas aumentaram as exigências das margens em alguns contratos de minério de ferro. Os governos locais também trabalharam em planos de corte na produção de aço para este ano, restringindo a produção siderúrgica para tentar derrubar o preço do minério.

Para o analista da Ativa Investimentos, fatores nacionais e internacionais fomentaram a elevação nos preços. “Enquanto vivíamos um período maior de chuva no Brasil, em que dificultava a mineração e causava uma disfuncionalidade nos estoques, a China já estava se recuperando e demandando mais minério, [os chineses representam aproximadamente dois terços dos consumidores da Vale].” Esse movimento fez com que as especulações no porto de Qingdao, na província de Shandong, no leste da China, aumentassem 3% em 18 de maio, de acordo com a publicação da Fastmarkets MB, plataforma de análise voltada à precificação de commodities.

“Penso que existiu outro fator que afetou o mercado: a disputa entre a Austrália e a China. Assim como o Brasil, o país localizado no sudeste do mundo, está entre os maiores produtores de minério e sua posição é extremamente facilitadora para o escoamento de produtos aos chineses”, explicou o economista-chefe da Órama.

Nos últimos meses, australianos e chineses protagonizaram acirramento de tensões, “fruto de denúncias de espionagem, tecnologia 5G, origem do coronavírus e a suspensão de alguns pequenos projetos [como o ‘Rota da Seda’ (Belt and Road Initiative, em inglês)], por parte da ministra de negócios estrangeiros australiana, Marise Payne”, explica Lucas Carvalho, analista da Toro Investimentos.

No último dia 26, o governo chinês pediu à Cbirc (Comissão Reguladora de Bancos e Seguros da China) que as instituições financeiras deixassem de vender produtos de investimentos ligados a futuros do minério, segundo informações apuradas pela agência Reuters. O regulador também solicitou aos bancos que se desfizessem dos livros de operações da commodity. Na manhã de hoje (1º), os contratos futuros do minério de ferro na Bolsa de Dalian saltaram 7,3%, para 1.170 iuanes (US$ 183,53/tonelada).

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