Banco Central Europeu define nova meta de inflação

8 de julho de 2021
RalphOrlowsk/GettyImages

BCE começou sua maior reforma interna desde que foi fundado, há 23 anos

O Banco Central Europeu estabeleceu uma nova meta de inflação hoje (8) e adotou um papel na luta contra as mudanças climáticas dando início à maior reforma na instituição financeira mais poderosa da Europa em seus 23 anos de história.

Com a inflação abaixo da meta por quase uma década, a presidente do BCE, Christine Lagarde, mergulhou a fundo por 18 meses no funcionamento interno do banco, desafiando até os princípios fundamentais do banco central, na esperança de redefinir a estratégia e reforçar a credibilidade.

LEIA MAIS: Lagarde, do BCE, diz que recuperação da zona do euro ainda é frágil

Na conclusão da revisão de estratégia, o banco central dos 19 países que compartilham o euro definiu sua meta de inflação em 2% no médio prazo, abandonando uma formulação anterior que almejava inflação “abaixo, mas perto de 2%”, que dava a impressão de que o banco estava mais preocupado com o aumento dos preços acima de sua meta do que abaixo dela.

“Sabemos que não ficará constantemente na meta, pode haver algum desvio moderado e temporário em ambas as direções desses 2%. E tudo bem”, disse Lagarde em coletiva de imprensa para apresentar a revisão de estratégia.

“Estamos aplicando como meta uma inflação média como o Fed (dos Estados Unidos)? A resposta é: Não, muito francamente”, disse Lagarde sobre a política de deixar o aumento dos preços ultrapassar sua meta para manter uma taxa média.

Economistas do ING disseram que a mudança significa que o BCE está “estruturalmente mais dovish”, mas observaram que essa é uma evolução gradual de uma meta que começou “abaixo de 2%” antes de sua formulação mais recente.

“Esse desenvolvimento de longo prazo marca claramente uma tendência gradual em direção a um comportamento mais dovish (ainda que sutil)”, concluíram eles.

Lançada no início da década de 1990 por bancos centrais menores na Nova Zelândia e no Canadá, a meta de inflação é amplamente creditada por controlar o crescimento dos preços e inaugurar um período de preços estáveis.

LEIA MAIS: Fed quer estar “bem posicionado” para agir frente a inflação e outros riscos, mostra ata

Mas os resultados do experimento foram mistos, notadamente na última década, quando bancos centrais como o BCE e o Banco do Japão lutaram contra uma inflação excessivamente baixa que os forçou a cortar as taxas de juros e lançou dúvidas sobre o poder dos bancos centrais.

Esse resultado abaixo da meta de forma persistente havia levantado a possibilidade de buscar uma taxa de inflação acima da meta, mas o BCE concluiu que a inflação acima e abaixo de seu objetivo é indesejável e não buscará ultrapassá-la após um longo período de inflação baixa.

“Esta meta é simétrica, o que significa que desvios negativos e positivos da inflação em relação ao objetivo são igualmente indesejáveis”, afirmou o BCE.

EXCEDER

O banco admitiu que, em certas situações, quando um suporte monetário especialmente forte ou persistente é necessário, a inflação pode exceder moderadamente sua meta por um período transitório.

Mas a nova política não se comprometeu em superar a inflação depois de longos períodos de inflação baixa, uma possível decepção para os investidores que esperavam tal promessa, o que garantiria estímulos mesmo em meio à recuperação.

O BCE também disse que não está satisfeito com a medida atual da inflação, uma vez que omite grandes parcelas dos custos de habitação, de modo que as autoridades também examinarão outros indicadores da alta dos preços.

LEIA MAIS: Inflação, pandemia e dívidas são as principais preocupações dos bancos centrais, diz pesquisa UBS

“Em suas avaliações de política monetária, o Conselho vai levar em conta medidas de inflação que incluem estimativas iniciais do custo de moradias ocupadas pelo proprietário para suplementar suas medidas de inflação mais amplas”, disse.

Em talvez sua maior mudança, o BCE disse que fará mais para ajudar na luta contra as mudanças climáticas e vai incluir considerações sobre isso nas operações de política monetária nas áreas de comunicação, avaliação de risco e decisões sobre garantias e compras de ativos do setor corporativo.

“O BCE ajustará a estrutura que orienta a alocação de compras de títulos corporativos para incorporar critérios de mudança climática, em linha com seu mandato”, disse.

O banco também começará a divulgar informações relacionadas ao clima de seu programa de compra de ativos do setor corporativo no primeiro trimestre de 2023, acrescentou. (Com Reuters)

Siga FORBES Brasil nas redes sociais:

Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn

Siga Forbes Money no Telegram e tenha acesso a notícias do mercado financeiro em primeira mão

Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.

Tenha também a Forbes no Google Notícias.