Acusações de fraude contra o fundador da Nikola Motor podem ameaçar Elon Musk e seus tuítes

1 de agosto de 2021
Win McNamee/Getty Images

Apesar de indícios contra Trevor Milton, analistas têm dúvidas se a SEC investigará publicações do CEO da Tesla

Promotores federais dos Estados Unidos indiciaram nesta semana o fundador da Nikola Motor Company, Trevor Milton, por declarações públicas fraudulentas e publicações falsas nas redes sociais que enganaram investidores  sobre a disponibilidade dos produtos e tecnologia de sua startup de caminhões elétricos. 

Ao fazer isso, os reguladores também pareciam direcionar um alerta velado para outro grande executivo de tecnologia com um histórico de comentários problemáticos na internet: o bilionário e CEO da Telsa, Elon Musk.

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Milton, de 39 anos, foi bem direto ao enaltecer sua empresa enquanto fazia a transição de uma startup ‘obscura’ para uma empresa negociada na Nasdaq por meio de uma SPAC em 2020. Ele repetiu as técnicas bombásticas e promocionais usadas por Musk com a Tesla. No caso de Milton, isso se provou uma escolha imprudente: o Ministério Público norte-americano o incriminou na última quinta-feira (29) por duas acusações de fraude em títulos e uma de fraude eletrônica. Mais tarde naquele dia, ele se declarou inocente das acusações e foi libertado sob fiança de US$ 100 milhões.

A SEC (Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos) também entrou com uma ação civil contra ele por fraude em títulos.

“Os executivos não podem dizer o que quiserem nas redes sociais sem levar em conta as leis federais”, disse Gurbir Grewal, diretor de fiscalização da SEC em uma entrevista coletiva na última quinta-feira (29). “Iremos responsabilizar todos aqueles que fazem declarações materialmente falsas e enganosas, independentemente dos canais de comunicação que escolham usar”.

Grewal se recusou a responder de forma direta quando questionado se a SEC irá retomar as antigas declarações de Musk no Twitter. “Não vou falar além das alegações que estão na denúncia”, disse ele. “Independentemente dos métodos que usarem, nós responsabilizaremos funcionários corporativos por declarações falsas que fizerem.”

Apesar de sua história instável, incluindo dificuldades com falência em 2008 e 2017, a Tesla começou a prosperar, com oito trimestres consecutivos de receita líquida, expansão das vendas globais e se tornando a montadora mais valiosa do mundo, com uma capitalização de mercado de US$ 680 bilhões. O sucesso da marca trouxe uma onda de startups de veículos elétricos – entre elas Fisker, Lucid, Rivian e Lordstown Motors, cada uma buscando levantar bilhões de dólares para colocar seus carros e caminhões rivais em produção.

No entanto, Musk também mostrou uma tendência a fazer declarações excessivamente otimistas ou irrealistas sobre os negócios e planos de Tesla desde seus primeiros dias. Em 2009, ele disse aos primeiros compradores, que esperavam pelo Roadster (o primeiro modelo da montadora), que eles precisariam pagar pelo menos US$ 6.700 a mais do que o prometido, já que a Tesla não poderia vendê-lo ao preço original de US$ 92 mil. 

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O CEO da Tesla afirmou no Twitter em julho de 2018 que havia garantido financiamento para tornar a empresa privada – mas ele não tinha. Essa falsa declaração custou-lhe uma multa de US$ 20 milhões na SEC e seu papel como presidente da empresa. Em 2019, a Comissão de Valores Imobiliários dos Estados Unidos o acusou de fazer declarações imprecisas sobre as metas de produção da Tesla na mesma rede social. 

Nesse caso, um tribunal federal determinou que a Tesla precisaria examinar os tuítes de Musk relacionados à empresa antes de publicá-los. Ainda não está claro se isso está acontecendo. No ano passado, Musk mostrou seu contínuo desdém pelos órgãos reguladores, tuítando: “Na sigla da SEC, o E é de Elon. ”

O alerta dos reguladores  desta semana provavelmente não indica uma revisão dos comentários anteriores de Musk, disse John Coffee, professor de direito empresarial da Universidade de Columbia. “A SEC provavelmente só processará Musk por declarações futuras, não anteriores.” 

As falas de Milton sobre sua companhia foram certamente vergonhosas. Entre as situações incluídas na acusação estão: a afirmação que ele fez em 2016 de um protótipo de caminhão a hidrogênio que não funcionava. Em um vídeo, ele supervisionava um lançamento enganoso de um modelo de caminhão que estava apenas rolando colina abaixo, sem estar ligado. 

Além de anunciar uma produção de combustível a hidrogênio, sendo que não estava e um tuíte que a  picape Badger incluiria um bebedouro embutido com água produzida a partir de seu sistema de célula de combustível de hidrogênio. 

“Milton mentiu sobre quase todos os aspectos de seus negócios”, disse a promotora de Manhattan, Audrey Strauss, no tarde da última quinta-feira (29). “[Eu] não acho que Musk tenha chegado perto do absurdo imprudente de Milton com suas declarações.”

Separadamente, Musk está lutando contra um processo de um investidor em Delaware que alega que ele fez declarações enganosas para justificar a compra do instalador de painel solar da SolarCity pela Tesla em 2016. Para fechar o negócio, o bilionário organizou um evento no Universal Studios em Hollywood para promover telhas solares que se tornariam um grande negócio para a Tesla como resultado da aquisição. Isso não aconteceu, e as telhas solares mostradas no evento eram protótipos não funcionais que enfeitavam casas falsas do estúdio.

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Os advogados do requerente querem que Musk reembolse do próprio bolso os US$ 2,2 bilhões que a Tesla pagou pela companhia. 

A ação legal contra Milton – que enfrentará multas pesadas e potencial pena de prisão se for considerado culpado – pode eliminar os ganhos lucrativos que ele obteve ao abrir capital da Nikola. 

No pregão da última quinta-feira (29), sua participação caiu de US$ 8,7 bilhões para menos de US$ 1 bilhão, estima a Forbes.  

Seus problemas jurídicos nesta semana também coincidiram com dois comentários curiosos de Musk. Durante uma ligação, na última segunda-feira (26),  para discutir o lucro e vendas recordes no trimestre da Tesla com analistas e investidores, o CEO disse que a reunião seria uma de suas últimas. “Não ficarei mais fazendo chamadas de lucros. Ainda farei a assembleia anual de acionistas, mas acho que, no futuro, provavelmente não estarei em convocatórias de ganhos, a menos que haja algo realmente importante que eu precise dizer.

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Ontem (30), Musk tuitou um sentimento que ele expressou no passado: “Não quero ser CEO de nada”

Até a publicação desta matéria, a Tesla não respondeu a um pedido de comentário. 

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