O ano de 2021 começou marcado por um recorde de empresas solicitando autorização à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) para abertura de capital na Bolsa de Valores.
IPO é a sigla para Initial Public Offering, do inglês, e em bom português, oferta pública inicial. Ou seja, marca a entrada de uma empresa no mercado financeiro. De janeiro a agosto, 45 empresas fizeram IPO (ou oferta restrita de ações) e outras 18 aguardam liberação. Esse número é bem superior ao de 2020, quando tivemos um total de 26 empresas com Oferta Pública Inicial na B3.
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Os IPOs realizados nesse período movimentaram mais de R$ 38,2 bilhões. Entre as empresas que tiveram maior valorização até o momento, verificamos altas que vão de 14,2% a 55,9%.
Esse tipo de informação muitas vezes empolga o investidor iniciante. No entanto, existem inúmeras variáveis que precisam ser analisadas, afinal, na outra ponta, é possível observar desvalorizações de quase 70%. É o caso, por exemplo, da Oceanpact Serviços Marítimos (OCPT3), que em 27 de agosto deste ano já tinha se desvalorizado 68,07% em relação ao preço praticado no IPO.
É importante você saber que o fato de uma empresa abrir capital e valorizar-se rápido não é um dado que pode ser avaliado isoladamente. A avaliação consistente da performance de um papel na Bolsa, que é a base para a análise técnica, precisa de tempo e deve levar em conta inúmeras variáveis.
Para que o investidor tenha parâmetros sólidos e bem fundamentados sobre uma empresa, são necessários, pelo menos, três anos de histórico de resultados. Nesse tempo, será avaliada a performance da companhia em diferentes pregões, a qualidade da gestão, a capacidade de geração de caixa em cenários diversos, entre outras coisas.
Ou seja: uma estreia na Bolsa com boa valorização não quer dizer muita coisa. Da mesma forma, um IPO com performance abaixo do esperado, muitas vezes, pode ser um retrato momentâneo do pessimismo do mercado, e não uma avaliação realista do potencial da empresa enquanto investimento.
Um outro dado importante que precisamos levar em conta é que todos os IPOs realizados no primeiro semestre ocorreram em um período de altas históricas da B3.
Esses intervalos estimulam ondas de abertura de capital. As companhias aproveitam o otimismo do mercado para melhorar suas captações, que normalmente financiam planos de crescimento, como abertura de novas filiais e internacionalização da empresa, além de contribuírem para a imagem corporativa.
Portanto, muito cuidado ao avaliar números isoladamente sem considerar o cenário macro da economia e o mercado em si.
Bolsa em queda. É viável entrar em IPO?
A menos que você seja um investidor experiente e acostumado a analisar as teses, a história corporativa e os fundamentos das empresas, recomendo cuidado extra em momentos de alta volatilidade de mercado caso esteja considerando entrar em um IPO.
Tornar-se sócio de uma empresa recém-chegada à Bolsa de Valores e sem histórico recorrente de divulgação de suas informações financeiras (requisito obrigatório para empresas que irão abrir capital) requer que você saiba interpretar os indicadores da saúde financeira da empresa (análise fundamentalista) e também os sinais de mercado (análise técnica), e como ele irá reagir frente a um ativo num momento de queda, por exemplo.
Por mais que a empresa seja boa e tenha um projeto promissor, o fato de ela estar entrando na Bolsa significa que ela está em busca de crescimento, o que é ótimo! Contudo, num momento de queda, a tendência dos investidores é migrar seu capital para as empresas consolidadas no mercado de capitais, cuja performance em cenários voláteis já foi testada várias vezes.
Esse tipo de movimento pode fazer com que as novatas experimentem de maneira acentuada os impactos da volatilidade, passando por oscilações de preço maiores do que o conjunto das empresas da Bolsa.
Basta observar o desempenho de ações consideradas Small Caps e compará-lo ao das ações que compõem o Ibovespa, em sua maioria chamadas de “blue chips”. Em momentos instáveis, as empresas mais robustas e já testadas acabam funcionando como proteção para o investidor de longo prazo.
Cada IPO precisa ser estudado individualmente. Os fundamentos de cada empresa são específicos e algumas serão mais aderentes ao momento da economia do que outras.
Um período de alta não trará apenas IPOs bem-sucedidos. Da mesma forma que uma Bolsa em tendência de baixa também não significa que todas as empresas que estão abrindo capital verão suas ações se desvalorizarem. De janeiro a julho de 2021, nove empresas que solicitaram aberturas de capital à CVM desistiram do processo.
A questão é que participar de um IPO é apostar de forma um pouco mais especulativa, já que ainda não há histórico para referendar a decisão. Fazer isso em momentos de instabilidade da economia e pessimismo nos mercados amplia o risco.
Dessa forma, se você pretende entrar num IPO por tratar-se de um segmento que você acredita, ou de uma empresa que você já acompanha e na qual vê potencial, o ideal é fazê-lo com uma parcela de seu capital da qual você não dependa diretamente e, portanto, possa colocar em operações de longuíssimo prazo e com alto risco.
Entrando desta forma, você ficará mais confortável para ir avaliando a evolução da empresa dentro da Bolsa e a aceitação do mercado quanto aos fundamentos dela. Se o projeto se consolidar, posteriormente você pode fazer novos aportes.
O fato é que o cenário atual da renda variável, apesar de subprecificar inúmeros ativos e oferecer boas oportunidades de compra, requer também que o investidor fortaleça sua estratégia, foque em setores mais resilientes e em empresas mais robustas.
Uma empresa recém-chegada, da qual você não conhece a capacidade de reação em situações adversas, oferece mais riscos e deve ser evitada.
IPOs serão cada vez mais constantes. Enquanto a Bolsa brasileira tem quase 500 empresas listadas, os mercados mais consolidados apresentam números significativamente maiores, como a Inglaterra, com cerca de 2.000 empresas, o Japão, com 3.800, e a China, a Índia e os Estados Unidos com mais de 5.000 cada.
O objetivo deste texto não é desestimular a olhar para essas ofertas e aproveitar as boas oportunidades, mas trazer clareza quanto à sua condição financeira e emocional para lidar com esse tipo de estratégia.
Eduardo Mira é formado em telecomunicações, com pós-graduação em pedagogia empresarial e MBA em gestão de investimento. É analista CNPI, certificado CPA10 e CPA20, ex-gerente do Banco do Brasil e da corretora Modal.
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