Os preços dos títulos de renda fixa, no entanto, não são fixos. Sejam os papéis de dívida do governo, como o Tesouro Direto, de bancos ou de instituições privadas, esses papéis sofrem oscilações durante todo o período em vigência no mercado, ou seja, até a data do vencimento. Essa variação nos preços é calculada segundo a marcação a mercado.
Ainda que tenham uma rentabilidade pré-determinada no momento da compra, muitas vezes o mesmo ativo, oferecido pela mesma instituição, pode sofrer variações em poucos meses.
Como todos os ativos do mercado, essa oscilação depende da perspectiva de risco dos investidores sobre os títulos negociados no país, o que, por sua vez, depende do cenário político e macroeconômico, e de como eles mudam as expectativas de fluxos de caixa no futuro, mais especificamente no momento de vencimento do ativo.
A variação do mercado em títulos de renda fixa
A marcação a mercado é o mecanismo que determina quanto custa um determinado título de dívida do governo no momento presente. Ela transforma a perspectiva de pagamento de um ativo que só seria liquidado no momento do vencimento, com um determinado fluxo de caixa futuro, a um preço que pode ser negociado antes dessa data.
Por exemplo: um investidor compra um ativo (hipotético) do Tesouro Direto prefixado com uma rentabilidade de 10% ao ano. Ao calcular a sua taxa de rendimento no futuro, determina-se que, no vencimento, ele vai valer R$ 1.000 (passo 1).
Em seguida, o investidor identifica a taxa apropriada de desconto, que está sendo negociada pelo mercado no momento presente. Ele comprou a 10% a.a., mas outra pessoa comprou o mesmo investimento à taxa de 12% a.a., que se tornou a melhor taxa disponível, e, portanto, é a que será considerada pelos demais investidores interessados no título (passo 2).
Então é preciso trazer esse rendimento para o valor presente, porque o investidor deseja vendê-lo antes de seu vencimento (passo 3). Assim, desconta-se desses R$ 1.000 a taxa contratada pelo investidor na compra do título, de 10%, chegando a R$ 900; e compara com o desconto da taxa apropriada do mercado, de 12%, a R$ 880.
Mas o cenário oposto também pode acontecer, e o mesmo título passar a ser vendido com uma rentabilidade de 5% ao ano que, trazendo ao valor presente, poderia ser vendida por R$ 950, um rendimento R$ 50 maior do que o esperado.
Von Moorsel explica que esse processo acontece porque os ativos de renda fixa, diferentemente das ações, “são negociados pela taxa com a qual o investidor será remunerado, e não propriamente pelo preço do ativo”.
O especialista conta também qual o macete básico dessa conta. “Taxa e preço funcionam de modo inverso. Quando a taxa [negociada no mercado] sobe, o preço cai; e quando a taxa cai, o preço sobe.”
É importante ressaltar que todos os ativos do Tesouro, sejam eles prefixados ou indexados à inflação (IPCA+) ou à Selic, sofrem essa oscilação em alguma medida. Porém, nos títulos prefixados a marcação exerce mais influência, seguido pelos ativos indexados.
Isso ocorre porque, no último caso, outras variáveis influenciam o preço presente do ativo, como a inflação ou o CDI, indicador que o título acompanha, diminuindo o impacto da marcação.
Por outro lado, essa oscilação só vai acontecer se o título que o investidor tem em carteira for resgatado antes da data de vencimento. Camilla Dolle, analista de renda fixa da XP Investimentos, conta que, ao chegar na data do vencimento, o investidor recebe exatamente aquilo que foi combinado quando comprou o ativo.
O interesse nos títulos prefixados, nesse sentido, depende do conhecimento sobre o objetivo de determinado papel para cada investidor. “Se o objetivo é poder sacar a qualquer momento, não tem como prever se aquele papel vai ter valorizado ou desvalorizado bem na hora da emergência, então o ideal é colocar em um ativo bem conservador”, explica Camilla.
“Não adianta colocar reservas de emergência em títulos pré-fixados ou indexados ao IPCA + X%, porque essa rentabilidade pré-definida vai oscilar, então os pós-fixados são mais interessantes nesse caso.” E conclui: “a questão é entender o mecanismo para adequar cada investimento alinhado com os objetivos pessoais, se aproveitar dele quando possível”.
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