“Eu tenho qualidades médias”, avalia. “Mas a minha resiliência é muito acima da média. É aquela propriedade física de um material que é distorcido, e que consegue sacudir a poeira e voltar ao estado original.”
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“Esse teto estava muito longe de uma pessoa que tinha apenas cinco anos de experiência e estava no início da carreira, que era o meu caso quando eu saí.” O apoio que recebeu de seus ex-chefes nos bancos brasileiros também foi um dos fatores que impulsionaram a sua autoconfiança. “Eles queriam que eu me aperfeiçoasse no exterior para justamente voltar e compartilhar o que eu aprendi. Então isso foi uma coisa muito bacana.”
Retornando ao Brasil, ela cofundou a A10 Investimentos, uma boutique com foco em investimentos de impacto – ou seja, que têm como finalidade gerar impactos ambientais ou sociais positivos. A empresa começou assessorando grandes famílias brasileiras em decisões estratégicas quanto aos seus negócios. Hoje, porém, gere o fundo de private equity que controla a Sigma.
Em um âmbito mais pessoal, Ana também atribui a sua resiliência ao convívio com diferentes pessoas que a inspiraram. Em primeiro lugar, está seu filho de 22 anos, que tem deficiência desde o nascimento, e que ela diz que a ensinou a relativizar muitos problemas. Em seguida, vêm os seus pais, que vieram de famílias de militares e, ela diz, sempre foram muito rígidos e exigentes.
Apoio ao sertão
As mineradoras costumam levar parte da culpa pela agressão aos ecossistemas da região, e mesmo com todos os cuidados que a Sigma Lithium adota – o propósito da empresa, afinal, é produzir insumos para baterias de carros elétricos, que são menos prejudiciais ao meio ambiente -, a atividade é impactante por si só.
Assim, a Sigma tenta minimizar os seus impactos negativos por meio de adaptações no seu modo de operação, bem como pelo apoio à comunidade local. A proposta ESG da empresa chega a ser um fator decisivo na vida pessoal de Ana, tendo em vista que ela atrela a sua remuneração ao cumprimento dessas métricas: “Nós temos um salário, que é relativamente abaixo do mercado, e todo tipo de bônus é atrelado 100% a metas de atingimento de capitalização de mercado, sendo que um aspecto disso é atingir carbono zero até 2024.”
“Mas qual é o grande vilão de carbono da Sigma? O diesel do caminhão da mina. Não é a planta”, explica. “A gente tem um plano de substituir esse combustível por biodiesel, e compensar as emissões na região. Nós compramos áreas de mata verde que estão sob risco serem queimadas, preservamos e compensamos dentro do próprio ecossistema. Então é um trabalho muito meticuloso.”
Com a chegada da pandemia, a mineradora também conseguiu ser um meio de mudanças para a comunidade local. Houve distribuição de álcool gel e desinfetantes hospitalares, além da criação de um programa de cesta básica. Segundo a diretora, existem aproximadamente cinco mil famílias que vivem com menos de R$ 3 por dia na região, e essas foram as principais beneficiadas. No total, foram dez meses de programa, com mais de 400 mil refeições servidas.
Através da sua agência privada de investimentos, criada em parceria com o Indi (Instituto de Desenvolvimento Industrial de Minas Gerais), a empresa também investiu em iniciativas de coleta de lixo e empreendedorismo social, e tem planos de criar creches na região.
“Era aquele sonho de mudar o Brasil para as mulheres, trazendo pessoas dos mais diferentes caminhos da vida que se ajudam, se ensinam e se complementam”, afirma. “Geralmente a gente fica em grupos, né? Jornalistas com jornalistas, farmacêuticas com farmacêuticas. Mas você pega a Luiza Trajano e coloca todo mundo junto, e nota o poder incrível que se forma. Mulher competente traz mulher competente.”
Dentro do segmento de mineração, Ana diz que já sofreu discriminação por ser mulher: “Nós falamos sobre a sustentabilidade do lítio desde sempre, mas em 2017, 2018, isso não era pauta ainda. Então eu estava numa conferência global, nós tínhamos acabado de abrir capital, e uma pessoa falou: ‘A Sigma é o que acontece quando você põe uma mulher encarregada do grupo de controle.’ Eu achava graça, porque era uma coisa tão esdrúxula.”
Ana considera que a sua participação no grupo foi um dos principais canais que ela utilizou para compartilhar as suas experiências profissionais e fazer mentoria, atividade que não pratica mais por falta de tempo. Ainda assim, ela diz que um de seus planos é levar uma filial do Mulheres do Brasil ao Vale do Jequitinhonha, e já tem em mente quem irá gerenciá-la: “Eu identifiquei a empresária local mais incrível, que vem de uma família de filhos de garimpeiros e é dona do sorvete Amigo. Ela fabrica o produto e já tem mais de 50 lojas. Então você encontra alguém para carregar o bastão.”
A Sigma promete trazer vários benefícios à região em que atua, mas o seu produto final não é destinado para uso no Brasil. Segundo a NeoCharge, existem aproximadamente 60 mil veículos elétricos no país, mas Ana argumenta que essa opção de mobilidade é mais vantajosa para continentes como Europa e América do Norte, que não possuem a capacidade de produzir biocombustíveis que o Brasil possui.
“O biocombustível precisa de território e de agricultura, e não é factível em todos os países. Por isso, o insumo que nós produzimos na Sigma é justamente para viabilizar a transição energética de mobilidade nos países que não tem essa riqueza”, afirma.
Na mesma semana em que concedeu entrevista à Forbes, Ana participou de duas conferências das Nações Unidas sobre energia e neutralidade de carbono ao lado da Vale, uma das maiores mineradoras do mundo. Isso deixa evidente, ela diz, que a Sigma é uma empresa relevante e que, por ser negociada na Nasdaq, e não mais apenas na Bolsa de Valores de Toronto, é tão competitiva quanto qualquer outra grande mineradora.
No começo desta semana, a empresa também anunciou um acordo de seis anos com a sul-coreana LG Energy Solution, que é uma das maiores fabricantes de baterias de íons de lítio para carros elétricos no mundo. O acordo prevê o fornecimento de 60 mil a 100 mil toneladas de lítio por ano, de 2022 a 2027.
Porém, a sua história mal começou, e é ainda muito cedo para comemorar: “É como se fosse um filho: você não cria uma empresa para você, você cria para o mundo. E o meu objetivo é que a Sigma brilhe no mundo e se torne cada vez melhor. Também queremos que o Vale do Jequitinhonha se torne um lugar melhor, porque ali pode ser um ótimo modelo de desenvolvimento sustentável capitalista. Mas é agora que começa, foram nove anos de preparativos, e é como se um filho estivesse se formando.”