Após levantar R$ 1,9 bilhão em IPO, Multilaser aposta em aquisições e internacionalização

5 de outubro de 2021
Reprodução / Arquivo Pessoal

O CEO Alexandre Ostrowiecki prevê crescimento da indústria brasileira como consequência do aumento dos preços dos fretes internacionais

Pouco mais de dois meses após a estreia da Multilaser na Bolsa de Valores, numa operação que levantou R$ 1,9 bilhão, a companhia ainda é lembrada apenas pela marca homônima e por seus produtos de entrada – aqueles com preços acessíveis e pouca complexidade. Mas para o CEO Alexandre Ostrowiecki, isso não significa que a Multilaser não possa conquistar outros segmentos, como o premium.

“As principais linhas da empresa são de tecnologia, mas estamos com várias apostas novas, como pet shops, linhas de utilidades domésticas e produtos vendidos em farmácias”, afirma o CEO.

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Para os próximos anos, a companhia planeja aquisições e aposta na criação de novas marcas para penetrar nesses mercados. Os produtos que levam o nome do grupo, porém, devem continuar sendo acessíveis, “para não perderem a alma”, diz ele.

“A gente se espelha na arquitetura de marca da Unilever. Ela tem muitos negócios, e o picolé Kibon não é associado ao sabão Omo. Cada marca é uma coisa, todas na mesma empresa e cada uma campeã em seu nicho”, afirma o CEO.

Ostrowiecki cita como exemplo a Atrio (de equipamentos esportivos), a Pulse (de acessórios para áudio), a Warrior (de games), e a Essenza (de eletroportáteis de beleza): nenhuma delas costuma ser associada à Multilaser, apesar de pertencerem ao grupo.

“Temos 13 unidades de negócios, 21 marcas próprias, sendo 18 delas criadas pelo grupo. Estamos conversando com mais 15 empresas; devemos fechar uma ou duas aquisições”, afirma ele. Todo o montante levantado com a abertura do capital da empresa foi destinado ao seu caixa, e 15% estão sendo usados para adquirir outras marcas.

O CEO explica que a escolha pela estratégia multimarcas ocorreu depois que a companhia concluiu que sua participação no segmento de produtos de entrada havia chegado ao ponto máximo. Segundo ele, os próprios clientes – as empresas varejistas – passaram a demandar produtos destinados a outros perfis de clientes, como os premium. “A gente também começou a distribuir marcas globais, como Toshiba e Nokia”, diz.

Em 2020, em meio à pandemia do coronavírus, a Multilaser recorreu ao programa do governo federal que permitia a redução de jornada e de salários de funcionários e conseguiu fechar o ano sem demissões.

Para o ano de 2021, a empresa projeta um crescimento de 60% na receita líquida consolidada no ano em comparação com 2020. “Além da inflação, novas linhas de produtos de utilidades domésticas e de pets foram responsáveis pelas altas”, diz.

Durante o segundo semestre do ano passado, o pior período da pandemia para a Multilaser, a inflação nos custos de matéria-prima e do frete internacional estiveram no centro das dificuldades do grupo. “Os preços dos contêineres que importamos da China subiram dez vezes, e o real depreciou muito. Isso gerou uma tempestade”, diz ele.

Para lidar com as altas inflacionárias de frete e matéria-prima, a Multilaser teve como estratégia fechar contratos de longo prazo, antecipar compras para evitar atrasos, trocar produtos mais volumosos por menos volumosos, que têm fretes mais baratos, e trazer linhas de produção para o Brasil.

“No lugar de importar o produto acabado, trouxemos os componentes principais e produzimos as peças mais volumosas no território nacional. Acredito que a reindustrialização no Brasil, pelo aumento do frete, vai crescer”, avalia Ostrowiecki.

Inflação e crise

Alexandre Ostrowiecki afirma que a maior dificuldade da Multilaser hoje é lidar com o ambiente macroeconômico brasileiro. “Me preocupa a inflação, o desemprego e [a diminuição do] poder de compra da população”, diz o CEO, que acrescenta que esses fatores são especialmente desafiadores para a companhia, uma vez que ela depende do consumo.

O executivo afirma que houve queda de vendas de produtos do grupo, principalmente nas categorias intermediária e premium. “Consumidores migraram de produtos mais sofisticados para os de entrada, diminuíram a compra do tablet de dez polegadas para os de sete polegadas, do mouse sem fio para o com fio”, exemplifica.

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Porém, aqueles que já concentravam suas compras em modelos mais acessíveis mantiveram seu padrão de consumo. “Se um mouse de R$ 20 deixar de funcionar, o consumidor ainda pode trocar por um de R$ 30, não vai ficar sem o produto”, explica. “Já nos tickets mais altos, as pessoas postergam a compra, fazem trade down [migração para itens similares mais baratos] ou compram produtos usados”, diz Ostrowiecki.

Internacionalização

No Brasil, os grandes clientes da Multilaser são os varejistas nacionais. O grupo trabalha atualmente com 19 mil empresas e 40 mil pontos de venda. O contato com o consumidor final acontece apenas no site da companhia e na única loja física, em São Paulo. O foco desses dois canais, porém, é a apresentação da marca, e não vendas, afirma o CEO.

Para os próximos anos, uma das metas da empresa é sair do Brasil e vender seus produtos de informática em países em desenvolvimento. “A Multilaser tem uma linha boa, barata, bonita e competitiva para os mercados emergentes. Atingimos o nicho daquele consumidor que busca qualidade e quer economizar”, diz Ostrowiecki.

Com a internacionalização em mente, a empresa deve estrear até o final deste ano um centro logístico no Uruguai para atender países do Cone Sul da América Latina – Uruguai, Argentina, Paraguai e Chile. “Queremos trabalhar com os distribuidores locais das regiões”, afirma.

A empresa também estuda criar centros de distribuição para seus produtos de entrada na América do Norte e Central, assim como na China. “Por enquanto, na América do Sul, a gente ganha no frete. Quando um argentino compara um produto da Multilaser com um da China, o nosso é mais barato. O Mercosul nos permite vender sem imposto de importação”, conclui Ostrowiecki.

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