O principal índice da bolsa brasileira fechou em alta hoje (30), na última sessão de 2021, apesar do recuo dos principais índices dos Estados Unidos.
O Ibovespa fechou 2021 em queda de 11,9%, após cinco anos de alta. Em dezembro, o índice teve alta de 2,9%, interrompendo cinco meses no vermelho.
Na sessão, o índice subiu 0,69%, a 104.822,44 pontos. O giro financeiro foi de R$ 25,6 bilhões, um avanço em relação às últimas sessões, por conta do rebalanceamento de carteiras.
Segundo Pedro Galdi, analista da Mirae Asset, não houve nenhum catalisador específico para o avanço do índice nesta quinta-feira. “Hoje foi mais para cumprir tabela”, disse ele.
Galdi classificou o desempenho da bolsa brasileira no ano como “pífio” e disse que há receio de que 2022 possa ser parecido, diante das incertezas com a eleição presidencial.
Nos EUA, os índices fecharam em leve queda em dia de volume estreito de negociações, enquanto o índice pan-europeu STOXX 600 subiu 0,15%. Os mercados internacionais seguem atentos a notícias sobre a variante Ômicron, em meio ao aumento de casos de Covid-19 em várias partes do mundo.
Destaques
– ITAÚ UNIBANCO PN caiu 1,64%, SANTANDER BRASIL UNIT recuou 1,35%, BRADESCO PN cedeu 0,5% e BANCO DO BRASIL ON teve queda de 0,4%. Os papéis reagiram à notícia de que o governo avalia manter em patamar elevado a alíquota da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) cobrada de instituições financeiras. A medida seria uma forma de compensar a desoneração da folha salarial.
– MÉLIUZ ON subiu 7,64% e LOCAWEB ON teve alta de 5,2%, enquanto as varejistas MAGAZINE LUIZA e VIA avançaram 6,8% e 4,6%, nesta ordem.
– VALE ON subiu 0,9%, após futuros do minério de ferro registrarem alta em Cingapura e de Dalian. CSN caiu 0,2%. A empresa aprovou pagar juros sobre o capital próprio de cerca de 257 milhões de reais.
– PETROBRAS PN e ON caíram 0,3% e 0,8%, respectivamente. O petróleo fechou em alta.
Wall Street
Os principais índices de Wall Street fecharam em baixa hoje, em dia de baixo volume de negócios, após máximas recordes no início da sessão devido aos fortes dados dos EUA, incluindo queda nos pedidos semanais de seguro-desemprego.
O Dow Jones caiu 0,25%, para 36.398 pontos. O S&P 500 perdeu 0,3%, para 4.778 pontos. O Nasdaq recuou 0,16%, para 15.741 pontos.
Quatro dos 11 principais índices setoriais do S&P 500 negociaram em alta, liderados pelo setor imobiliário. Investidores reagiram a dados do relatório do Departamento do Trabalho dos EUA que apontam queda do número de americanos que entraram com pedidos de auxílio-desemprego, para 198 mil ajustados sazonalmente na semana antes do Natal, ante 206 mil revisados na semana anterior.
Economistas previam que os pedidos semanais subiriam para 208 mil. Em outros fortes dados norte-americanos, o índice de gerentes de compras (PMI, em inglês) de Chicago apontou 63,1, aumento mensal de 1,3 ponto e 1,1 ponto acima do consenso.
“Os fortes dados de fabricantes em Chicago e um número inicial de pedidos de seguro-desemprego impressionantes continuam a mostrar uma economia bastante saudável e que ofusca preocupações contínuas obviamente com a variante Ômicron”, disse Ryan Detrick, estrategista-chefe de mercado.
Europa
As ações europeias fecharam em alta hoje, com expectativas de que novas medidas e restrições relacionadas ao coronavírus não sejam necessárias no início do ano, mesmo com um aumento nos casos de Covid-19 devido à variante Ômicron prejudicando os ganhos.
O índice pan-europeu STOXX 600 fechou em alta de 0,15%, a 488,71 pontos, com os setores de tecnologia, saúde e papéis relacionados a viagens, na liderança. No entanto, riscos de decisões duras dos bancos centrais para lidar com as crescentes pressões inflacionárias e preocupações persistentes com o recente aumento nos casos globais da Ômicron limitaram os ganhos até agora.
O Banco Central Europeu (BCE) está perto de alcançar sua meta de inflação de médio prazo de 2% e pode encerrar programas de estímulo econômico mais rápido do o planejado se o crescimento dos preços continuar a surpreender positivamente, disse o chefe do banco central holandês Klaas Knot a um jornal alemão.
O índice teve desempenho inferior ao de seus pares regionais em 2021, ganhando cerca de 8%, em comparação com o aumento de 22% do STOXX 600.
Na França, o índice CAC-40 ganhou 0,16%, a 7.173,23 pontos e deu um salto de 29,2% no acumulado do ano, o que superou os ganhos do STOXX 600, já que as expectativas de uma recuperação econômica fizeram as ações de luxo se valorizarem, apesar das perspectivas para a demanda da Ásia permanecerem sombrias para 2022.
Vários mercados europeus, inclusive os da Itália, Alemanha e Espanha, serão fechados na sexta-feira, enquanto Paris e Londres negociarão por meia sessão, antes do Ano Novo.
Em FRANKFURT, o índice DAX subiu 0,21%, a 15.884,86 pontos.
Em MILÃO, o índice Ftse/Mib teve oscilação positiva de 0,01%, a 27.346,83 pontos.
Em LISBOA, o índice PSI20 desvalorizou-se 0,05%, a 5.571,67 pontos.
Dólar
O dólar à vista fechou o último pregão de 2021 em queda de 2,11%, a R$ 5,5735 na venda, sua perda diária mais acentuada desde 24 de agosto (-2,25%), o que investidores atribuíram a dados fiscais melhores do que o esperado e à sanção do projeto de lei de modernização da regulação cambial pelo presidente Jair Bolsonaro, em meio ainda a volumes reduzidos de negociação.
Apesar das perdas desta sessão, a moeda norte-americana à vista registrou ganho de 7,36% em 12 meses, seu quinto ano consecutivo de valorização. Embora expressivo, o salto deste ano foi bem mais comportado do que o registrado em 2020, quando a moeda disparou 29,4%.
Para Felipe Steiman, gerente comercial da B&T Câmbio, boa parte da valorização anual do dólar contra o real refletiu a deterioração da credibilidade fiscal do Brasil, uma dor de cabeça para os mercados locais que promete se estender para 2022.
“O investidor olhava para cá e via um Congresso ‘parado’ durante meses para aprovar uma PEC para abrir espaço no Orçamento para um auxílio que ninguém sabia de quanto ia ser, e as reformas estruturais que realmente precisam acontecer não foram feitas”, disse Steiman.
“Foi um cenário complicado, e eu digo me colocando na cabeça de um investidor estrangeiro, uma pessoa que pensa em trazer dólares para cá.”
Mesmo com a PEC dos Precatórios já aprovada e o Auxílio Brasil – o novo programa de transferência de renda do governo — definido em R$ 400 por família, a falta de previsibilidade continua na frente fiscal.
“O maior desafio para o real (em 2022) será, localmente, a credibilidade fiscal e as incertezas advindas do cenário político com eleições presidenciais”, disse André Digiacomo, estrategista de juros e moedas para América Latina do BNP Paribas.
Segundo ele, as incertezas do cenário político-fiscal foram as responsáveis pela alta de 13,6% do dólar em relação à mínima deste ano, de R$ 4,9062, atingida no final de julho, ofuscando o apoio ao real oferecido pelo ciclo de aperto monetário do Banco Central, iniciado em março passado.
Riscos X Selic
A taxa básica de juros está atualmente em 9,25% ao ano, após o BC elevá-la em 1,5 ponto percentual em seu último encontro de política monetária, no início deste mês, e a mais recente pesquisa semanal Focus espera que a Selic chegue a 11,50% em 2022.
“Contudo, os ruídos políticos os mantiveram afastados, e a procura pelo dólar como porto seguro fez nossa divisa enfraquecer ainda mais.”
Digiacomo, do BNP, concorda que o maior diferencial de juros entre o Brasil e economias avançadas passou a ser fator mais secundário em meio à escalada de ruídos domésticos, mas acredita que os patamares elevados da Selic podem proteger o real de possíveis efeitos adversos do exterior.
O Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, projetou em seu último encontro de política monetária, mais cedo neste mês, que promoverá três aumentos de 0,25 ponto percentual nos juros básicos em 2022, “afetando negativamente moedas de mercados emergentes”, segundo o estrategista.
Eleições 2022
Os brasileiros irão às urnas escolher um novo presidente apenas no quarto trimestre de 2022, mas as eleições têm rondado o radar de agentes do mercado há meses.
“Na história brasileira recente, as cotações do dólar são muito afetadas em períodos eleitorais. Nossa visão é que não será diferente desta vez, a moeda americana deverá oscilar entre R$ 5,50 e R$ 5,70, com eventuais exageros para cima”, afirmaram os especialistas da Órama.
Já Digiacomo, do BNP Paribas, disse que “a proximidade das eleições aumenta a probabilidade de que ações políticas do atual governo deteriorem ainda mais o cenário fiscal do país, o que também seria negativo para o real”.