É óbvio ninguém fica endividado porque quer. Especialmente nos últimos dois anos, a pandemia causou grandes danos à economia, e um deles foi o aumento do desemprego. Com isso, muita gente não teve alternativas a não ser recorrer ao crédito.
Entretanto, não são apenas os fatores externos que comprometem o orçamento familiar, e é sobre isso que eu quero refletir junto com você.
Ou ainda, quem nunca ficou com uma peça de roupa dentro do armário por mais de um ano sem nunca ter sido usada e que acabou indo para doação ainda com a etiqueta da loja?
E o que houve com aquela meta de fazer a pé as atividades que são próximas de casa, ao invés de usar o carro?
Eu poderia ficar o dia todo aqui falando sobre esses pequenos hábitos, e eu tenho certeza que você se identificaria com boa parte deles. Mas, a ideia não é te convencer que será economizando no cafezinho que você irá sair do endividamento. Até porque, eu estaria mentindo pra você.
Você pode sair destas estatísticas
Na última semana, dados divulgados pelo Banco Central sobre o endividamento dos brasileiros apontou para recordes muito preocupantes.
O saldo das dívidas das famílias equivale hoje a 49,4% da sua renda acumulada em 12 meses, e em média, 26,2% da renda é comprometida para pagar o serviço de dívidas, que envolve não só o montante principal, mas também juros e outros custos.
Temos ainda os dados da pesquisa da Confederação Nacional do Comércio, Bens, Serviços e Turismo (CNC) que aponta que no mês de outubro, 74,6% das famílias possuíam dívidas a vencer no crédito consignado, cheque especial, cartão de crédito ou carnês de loja.
São números muito preocupantes, por isso, eu achei importante falar com você sobre isso hoje. Afinal, estamos na virada de ano, aquele momento em que todo mundo se dedica a fazer novos planos e definir metas.
Eu sou um defensor incondicional de metas e fico realmente preocupado em ver que a maioria das pessoas abandona suas metas de ano novo antes mesmo de finalizar o segundo trimestre.
Esse comportamento, de certa forma, contribui para a questão do endividamento.
Sair do endividamento não é simples, principalmente para quem está desempregado ou teve sua renda mensal reduzida nos últimos meses. Entretanto, com o aumento da Taxa Selic, permanecer endividado vai ficar cada vez mais caro, então, você precisa agir rápido para evitar que a situação se transforme numa bola de neve.
Como se planejar para começar a romper o ciclo do endividamento
Em seguida, calcule a sua média mensal de despesas e compare com sua renda. Aí você já terá um indicador importante: a diferença entre receita e despesa, se positiva, é o valor que você poderá usar para começar a negociar e quitar as dívidas mais caras que você tenha em aberto.
Mas, se o saldo entre receita e despesa está negativo, ou seja, você gasta mais do que ganha, existem apenas duas alternativas: reduzir seus gastos, ou encontrar meios de aumentar a renda.
Nenhuma das duas medidas é simples, eu sei disso. Mas ficará ainda mais difícil se você não começar já.
Em paralelo a esta medida de redução de gastos ou a busca por mais receita, é necessário traçar um plano para eliminar as dívidas.
De acordo com a lei, podem ser renegociadas, para pagamento em até cinco anos, dívidas de contas de luz, água, carnês de lojas, empréstimos, etc. Ficam excluídos da repactuação de dívidas: impostos, crédito habitacional, produtos de luxo e pensão alimentícia.
Se você está endividado, eu sugiro que você busque informações sobre a Lei do Superendividamento e verifique se é possível se beneficiar com ela.
Consumo consciente é o caminho para uma vida mais equilibrada
Além disso, também recomendo que você faça uma única promessa de ano novo: não contrair nenhuma dívida que possa ser evitada.
Todos nós precisamos de moradia, alimentação, saúde e educação. São necessidades básicas sem as quais não há dignidade humana. Em paralelo, todos temos desejos: uma roupa de determinada marca, um celular moderno, uma viagem, um show, etc. A lista de desejos é infinita e cada um tem a sua.
Não há nada de errado em ter desejos, ao contrário! O erro está em não planejar sua vida de forma a transformar os desejos em metas a serem alcançadas gradativamente.
Comece agora pelo mais difícil: organizar as contas, olhar de forma realista para seu comportamento de consumo e traçar um plano para realizar as mudanças necessárias.
Eduardo Mira é formado em telecomunicações, com pós-graduação em pedagogia empresarial e MBA em gestão de investimento. É analista CNPI, certificado CPA10 e CPA20, ex-gerente do Banco do Brasil e da corretora Modal.
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