A Bagaggio é uma das líderes do mercado brasileiro de malas de viagem e mochilas, com aniversário de 80 anos à vista em setembro de 2022. Sua aura tradicional e familiar, no entanto, está se transformando – processo inclui um novo CEO, uma nova forma de fazer negócios e um rebranding total da marca.
A empresa sempre foi comandada por membros da família que abriu a primeira loja da rede no centro do Rio de Janeiro, em 1942. A gestão do atual CEO, Filipe Barbosa, é um marco na história da Bagaggio: com 32 anos, ele tem menos da metade da idade da empresa que hoje chefia.
Barbosa também é mais novo que os herdeiros do negócio, que segue nas mãos da mesma família de origem espanhola.
O executivo entrou como CFO em 2017, assumiu também a logística em 2018 e tornou-se CEO em outubro de 2020. Antes de sua chegada, ele conta, não havia cargos C-level: a colaboração dos quatro irmãos da empresa familiar era hands-on e até detalhes do dia a dia da operação eram decididos pelo grupo.
“Entrei muito jovem na companhia, no meio de uma família com sucessores igualmente jovens. Mas todos tiveram muita humildade e clareza para entender que isso seria bom para os negócios”, diz Barbosa.
Formado em engenharia de produção, ele chegou à Bagaggio depois que a butique de fusões e aquisições em que trabalhava prestou uma consultoria de gestão para a empresa, em 2016. Sua experiência e conhecimentos o levaram ao comando da área financeira primeiro, onde ele começou a organizar a governança da companhia.
A logística revelou-se o principal gargalo do negócio e foi ao assumir essa segunda área que, de fato, começou a trilhar o caminho das pedras para tornar-se CEO. “Como CFO, eu estava em uma zona de conforto. Chamei atenção porque decidi olhar para o negócio de forma holística”, diz o executivo.
Para Barbosa, uma das suas maiores conquistas é ter construído um galpão próprio, projeto em conjunto com a Codin em Duque de Caxias (RJ). O projeto fez parte de um processo de internalização da logística da empresa, que antes era quase 100% terceirizada – hoje é 95% própria. De quebra, o espaço de sete mil metros quadrados gera 200 empregos diretos.
Outra conquista veio em um momento de estresse para o setor varejista: a pandemia. Assumindo a frente da Bagaggio em meio às profundas incertezas de 2020, Filipe conseguiu contornar a crise da Covid-19 mantendo a grande maioria dos funcionários – 10% do quadro foi demitido – e de lojas. Hoje são 153 unidades espalhadas por 23 estados brasileiros.
“Quando cheguei em 2017, tínhamos 110 lojas”, conta ele, acrescentando que, apesar da expansão, crescer não era o foco inicial da estratégia. “Tenho a sensação que só vou começar a pensar em crescimento de verdade agora.”
No ano passado, as vendas totais da Bagaggio caíram 60%, para cerca de R$ 100 milhões. A expectativa para 2022 – que já foi de apenas recuperar as perdas – é superar o faturamento de R$ 250 milhões registrado no pré-pandemia, em 2019.
Muitos de seus rivais sofreram mais durante a pandemia. A Le Postiche, por exemplo, fechou 35 lojas desde que pediu recuperação judicial em 2021 e tem hoje 138 unidades (45 são próprias). A dívida total do grupo é de R$ 64,6 milhões.
Filipe diz que a crise da Covid-19 fez a Bagaggio se destacar no mercado, e já descreve empresas como a Le Postiche de “ex-concorrentes”. Para ele, os principais diferenciais da Bagaggio são a aceleração das estratégias digitais, o aperfeiçoamento das vendas omnichannel e o esforço de profissionalização – um processo que incluiu sua própria contratação.
“Gostamos de fazer esforços auto-sustentáveis”, conta ele, explicando que os investimentos para a expansão do e-commerce são feitos com o lucro do próprio e-commerce. Neste ano, o objetivo é pelo menos dobrar o faturamento das vendas digitais. Em 2021, a receita do e-commerce quase quintuplicou em relação a 2020.
Apesar das transformações digitais, o CEO afirma que a Bagaggio não tem planos de abandonar o comércio tradicional: “Não existe marketing mais barato que uma loja física. Ela transmite credibilidade, é um outdoor vivo, e ela dá lucro”.
A rede comercial também ajuda a logística, porque fica mais fácil distribuir produtos pelo país todo, explica ele.
O executivo conta que costuma perguntar para todo mundo: Você pega a mala para viajar quantos dias antes da viagem? Segundo suas evidências anedóticas, quase 100% das pessoas só fazem a mala com 2 ou 3 dias de antecedência. “É por isso que a Bagaggio entrega em 24h”, diz.
Depois de fazer o dever de casa e reestruturar a companhia, Filipe Barbosa agora tem a missão de modernizar a empresa octogenária por fora. Além de repaginar a aparência das lojas, seus produtos também começaram a ganhar cara nova – especialmente a linha que lançaram em parceria com o reality Big Brother Brasil para a edição deste ano.
O objetivo da empreitada era ampliar a visibilidade da companhia entre o público mais jovem e “cabeça aberta”, com opções coloridas de malas e mochilas que brincam com o design e são menos gênero-normativas.
“Tinha um pedaço nosso que estava com medo da recepção dessa nova linha, mas nosso público tradicional também abraçou a mudança”, diz ele. “Conseguimos aliar tradição e qualidade a uma cara muito mais jovem e brincalhona.” Ele brinca que é presidente da empresa, mas continua sendo um cara de 32 anos, acima de tudo.
Segundo Filipe Barbosa, a Bagaggio tem várias outras parcerias no forno, mas ele por enquanto prefere não entrar em detalhes. Todas seguem a mesma toada de renovação: “Desde que me tornei CEO, quis repensar tudo do zero. É como se fôssemos uma startup de 80 anos”.