SÃO PAULO (Reuters) – A Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), entidade que afirma representar 850 mil caminhoneiros do país, manteve nesta quinta-feira posicionamento contrário à realização de uma greve nacional, postura que vem sendo defendida há meses por segmentos da categoria que citam os sucessivos aumentos nos preços do diesel.
Citando a pesquisa contratada pela entidade em cinco pontos do país, incluindo o Porto de Santos, e realizada entre 4 a 18 de abril com 1.000 caminhoneiros, o assessor executivo da CNTA, Marlon Maues, afirmou a jornalistas que “infelizmente, ainda hoje, ecoam nos grupos de WhatsApp falas de pessoas que nunca representaram os caminhoneiros”.
“Uma paralisação é o último recurso para qualquer categoria pleitear demandas. Enquanto tiver diálogo aberto consistente, a paralisação como houve em 2018 deve ser o último recurso”, disse Maues. “Naquela ocasião houve adesão de transportadoras, empresas de ônibus e do agronegócio”, acrescentou.
O levantamento divulgado pela CNTA nesta quinta-feira afirma que quase metade (45%) da categoria não conhece a legislação que criou a tabela de pisos mínimos de frete, principal vitória do movimento grevista de maio de 2018 que paralisou o país por cerca de 10 dias e que foi apoiado pelo então candidato à presidência da república Jair Bolsonaro.
“O que vemos hoje sobre caminhoneiro autônomo é uma paralisação técnica, com ele não tendo mais condição de abastecer o caminhão por causa dos aumentos sucessivos. Enquanto outros atores ainda possuem margem para lidar com isso”, disse Maues.
O porta-voz da CNTTL, Carlos Alberto Litti Dahmer, afirmou em vídeo distribuído pela internet que o valor do abono é equivalente a apenas 58 litros de combustível. “O que fará o caminhoneiro com 58 litros de diesel quando seu consumo mensal é muito maior? O que o presidente (Bolsonaro) precisa criar é coragem de enfrentar o problema central e não vir com desabonos, porque isso é migalha”, disse Dahmer, defendendo o fim da paridade dos preços da Petrobras com o mercado internacional.
Nesta quinta-feira, o líder do governo no Senado, Carlos Portinho (PL-RJ), afirmou que o chamado “voucher caminhoneiro” poderia chegar a 1.000 reais por mês.
Maues, da CNTA, reconheceu que leis como a da tabela dos fretes, que tem como objetivo criar um gatilho para reajustar os valores do transporte quando há aumentos nos preços dos combustíveis, “não estão sendo colocadas em prática”, mas citou outros benefícios obtidos pela categoria.
O representante da CNTA ainda mencionou como benefícios para a categoria nos últimos meses uma legislação para estimular a renovação de frota de caminhões, flexibilização de pesagens de carga nas estradas, não cobrança de eixo suspenso em pedágios, vale-pedágio e redução de tributos em pneus importados.
“Acreditamos que houve mudanças, mas isso ainda não refletiu diretamente nesta dor que os caminhoneiros sofrem no dia a dia.”
(Por Alberto Alerigi Jr.)