A American Burger Delivery, hamburgueria que nasceu na garagem de Camila Guerra, em Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte (MG), quer expandir seus negócios e bater de frente com os gigantes dos Estados Unidos. Os planos, apesar de ambiciosos, não são muito distantes dos desafios que a empreendedora enfrentou desde que abriu o negócio com apenas R$ 800,00.
Guerra teve sua primeira oportunidade de sentir o gosto do empreendedorismo com 18 anos, quando precisou pagar sua faculdade de engenharia mecânica. Seu primeiro emprego foi no Banco BMG, em 2008, onde virou correspondente bancária.
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Enquanto trabalhava no banco, Guerra conseguiu um estágio na Fiat, para atuar como engenheira. Ela teve dificuldades em conciliar os dois empregos e precisou começar a vender produtos eletrônicos na porta da fabricante de carros para complementar a renda.
“Eu gostava muito mais de vender eletrônicos lá na porta do que do estágio. Minha pegada era com as pessoas e esse lado empreendedor falava mais forte”, conta.
O emprego na Fiat durou cerca de um ano e meio, quando Guerra percebeu que sua vocação realmente não estava ali e decidiu abrir um lava-jato. A ideia era montar um espaço diferenciado, com área de espera, recepção, bar e muito conforto para os clientes, mas o negócio logo deixou de ser rentável.
Sua próxima empreitada foi uma empresa de aluguel de carretas, sediada no mesmo terreno do antigo lava-jato, um espaço de sua mãe atrás da casa da família. Com o trabalho, Guerra conseguia pagar a sua faculdade, mas também vendia água de coco na praça para conseguir dinheiro extra.
Nesse meio tempo, se dividindo entre a empresa de carretas de manhã e a venda à tarde, ela descobriu que estava grávida. Faltando pouco tempo para terminar a graduação, Guerra precisou abrir mão de todas as suas atividades.
Com o nascimento de sua filha, em 2015, a empreendedora percebeu que não conseguiria conciliar o trabalho na empresa com a maternidade, já que precisava trabalhar de casa. Foi aí que veio a ideia de começar um novo empreendimento.
A ideia da American Burger Delivery surgiu após diversas tentativas frustradas de encontrar um delivery de hambúrgueres em seu bairro. Com R$ 800,00, ela fez a primeira compra de insumos para tirar os planos do papel.
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“Comecei a distribuir panfletos que tinham cara de franquia internacional para chamar a atenção dos clientes. Eu atendia o telefone, tirava o pedido, preparava o hambúrguer e saía de carro com a minha filha para entregar”, conta Guerra.
A empresária fez como o ditado norte-americano diz: “Fake it until you make it” (finja até que você chegue lá), sobre projetar confiança e ser otimista até que aquilo que antes precisava ser “imitado” vire realidade.
Quando os clientes perguntavam sobre as entregas de carro, Guerra afirmava que estava apenas dando uma ajuda aos motoboys que estavam muito atarefados. Ela conta que muitas vezes recebia pedidos depois das 23h, quando já estava dormindo. A empresária acordava, fingia uma voz de correria e pegava o pedido como se aquela fosse apenas mais uma noite lotada na hamburgueria. E, assim, o negócio foi ganhando a confiança do bairro.
“Na época, um dos meus melhores dias foi quando vendi 16 hambúrgueres. Com o avanço, comecei a entrar em aplicativos de delivery, contratei os primeiros motoboys, chamei meu marido para trabalhar comigo no atendimento. Às vezes até pedia a ajuda dos meus pais com as entregas”, conta sobre o aumento do movimento.
Com o tempo, a cozinha de casa passou a ficar pequena para o número de pedidos, e o espaço da família, que já havia sido lava-jato e pátio de carretas, voltou a ser uma possibilidade.
Com a nova sede, a empresa conseguiu começar a expandir para novas regiões de Belo Horizonte (MG), aumentando o seu faturamento e, consequentemente, o número de motoboys.
“Em 2018, conseguimos abrir a primeira loja física além da sede, também em Belo Horizonte. Seis meses depois, abrimos outra, e assim foi. Lembro que nessa inauguração vendemos 3,5 mil hambúrgueres e a fila virava o quarteirão. A política até parou para perguntar o que estava acontecendo com aquele movimento todo”, conta Guerra.
A marca virou um sucesso na região, o que deu forças para a expansão para outras locais.
“Nós decidimos abrir nossa primeira unidade em Juiz de Fora. Depois, fomos além de Minas Gerais e inauguramos uma loja no Espírito Santo, foi um sucesso. Hoje estamos em sete estados do país e queremos continuar crescendo”, diz a empreendedora.
Guerra brinca que havia estabelecido a meta de que quando vendesse 80 hambúrgueres por dia teria atingido o ápice. Os 80 logo viraram 100, 200 e por aí vai, conta ela. “Hoje nós vendemos em média 180 mil sanduíches por mês.”
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Com a expansão, o grupo montou um centro de distribuição para entregar o mesmo produto que o cliente consome na sede de Minas Gerais para todas as unidades.
A empreendedora conta que uma das maiores dificuldades no processo foi o transporte do molho American, o especial da casa. A marca conseguiu uma parceria com a Hellmann’s, empresa de condimentos, para que essa produção fosse feita de forma profissional e pudesse ser levada para todas as unidades.
Atualmente, o delivery de hambúrgueres tem 320 funcionários e 35 unidades próprias, incluindo outras duas –um restaurante japonês e uma pizzaria– que entraram no pacote durante o processo de crescimento.
Em 2021, o grupo faturou R$ 50 milhões. Para 2022, a expectativa é que a receita chegue a R$ 96 milhões com a abertura de 65 novas unidades.
“Nós estamos formatando o modelo de franquia para expandir ainda mais, mas vamos continuar com crescimento próprio também”, diz Guerra.
Expansão internacional
Além de aumentar o número de unidades no Brasil, Guerra está se movimentando para abrir a sua primeira lanchonete internacional, em Miami, nos Estados Unidos. Para isso, buscou especialistas do mercado e fez uma consultoria em Harvard que, em sua visão, a deixou preparada para o desafio.
Para ela, a empresa está preparada para esse novo passo. “Eu peguei muito da cultura norte-americana para abrir a American Burger aqui no Brasil, me inspirei em hambúrgueres de lá e tive que trazer qualidade para os produtos, a mesma que vou levar para lá”, explica a empresária.
Para garantir que a qualidade dos sanduíches não se perca no meio do caminho, Guerra planeja levar funcionários da operação brasileira para trabalhar nos Estados Unidos.
A empresa atualmente está captando recursos com investidores para conseguir dar vida à expansão internacional. Guerra afirma que, diferentemente de como fez em Minas Gerais, quer deixar todo o processo milimetricamente organizado para a chegada à Flórida. O plano da empresária é abrir as portas da unidade de Miami ainda em 2022.
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