De herdeira a criminosa: como Clare Bronfman financiou uma seita

13 de agosto de 2022
TIM TADDER/CORBIS/GETTY IMAGES | MARY ALRTAFFER/AP

Clare Bronfman é filha do falecido bilionário Edgar Bronfman Sr e herdeira do império de bebidas Seagram

Eram 16h da Sexta-feira Santa de 2019 e Clare Bronfman estava diante de um juiz em um tribunal federal no Brooklyn já sabendo seu destino.

Ela havia feito um acordo com os promotores para se declarar culpada de acusações criminais relacionadas ao seu papel como membro do conselho executivo do grupo NXIVM, uma seita que os promotores federais descrevem como um esquema de pirâmide profundamente manipulador que forçou condições semelhantes à escravidão a alguns membros. Outros foram supostamente coagidos a fazer sexo com o fundador do NXIVM, Keith Raniere.

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Mas Bronfman, que completou 40 anos alguns dias antes, frequentemente pareceu perplexa durante as audiências, usando um lenço branco e azul enquanto lançava olhares para os jornalistas e outros espectadores que entraram no tribunal. É como se ela se fizesse a mesma pergunta que a maioria das pessoas que assistiu ao julgamento se fez: como uma herdeira da fortuna multibilionária do grupo canadense Seagram se tornou a peça central de um grupo que ficou conhecido como uma seita sexual?

Bronfman, que se recusou a falar com a Forbes, concordou em pagar US$ 6 milhões ao governo federal dos EUA e se declarar culpada das acusações criminais de abrigar um estrangeiro ilegal e fraudar a identidade de uma pessoa falecida. Se ela tivesse ido a julgamento, poderia ser condenada a 25 anos de prisão.

Muitos observadores viram o acordo como um bom negócio, considerando que ela investiu aproximadamente US$ 150 milhões no NXIVM desde 2002. Em 2020, ela foi condenada a seis anos e nove meses de prisão.

Enquanto ela se dirigia ao juiz, sua voz, modulada por um típico sotaque britânico, era quase inaudível. A galeria de jornalistas se inclinava, levantando os ouvidos para ouvir.

“Meritíssimo, recebi um grande presente de meu avô e meu pai”, disse Bronfman. “Com o presente vem um imenso privilégio e, mais importante, uma tremenda responsabilidade. Não vem a capacidade de infringir a lei; vem com uma responsabilidade maior de cumprir a lei. Eu falhei em cumprir as leis estabelecidas por este país e por isso estou verdadeiramente arrependida.”

Mas foi esse “grande presente”, sua enorme riqueza, que tornou as irmãs Bronfman alvos irresistíveis do guru em ascensão do grupo, Keith Raniere, que foi julgado por sete acusações criminais que incluem conspiração para extorquir, tráfico sexual e conspiração para cometer trabalho forçado.

Raniere, contatado por meio de seu advogado, não respondeu às perguntas da reportagem. O guru foi condenado em 19 de junho de 2019. A soma das sentenças, proferidas em setembro de 2020, é de 120 anos de prisão.

As filhas do bilionário

Clare e Sara são as duas filhas mais novas do falecido bilionário Edgar Bronfman Sr., que se aposentou dos cargos de presidente e CEO da Seagram Company em 1994. Edgar Sr. morreu em 2013 e teve cinco filhos, incluindo Edgar Bronfman Jr., do seu primeiro casamento, que assumiu a empresa do pai.

Depois que Edgar Sr. e sua terceira esposa, Rita “Georgiana” Webb se divorciaram (pela segunda vez) na década de 1990, as meninas passaram a infância na Inglaterra estudando em internatos e visitando a mãe, que morava no Quênia, durante as férias.

Quando Clare estava no segundo ano do ensino médio, ela se mudou para estudar em um internato em Connecticut, mas desistiu no ano seguinte para morar com o pai na Virgínia. Ela nunca terminou o ensino médio, mas se tornou uma amazona talentosa.

Em 2002, Sara, que não foi acusada de envolvimento nos os crimes supostamente cometidos pelos membros do NXIVM, começou a cursar aulas na sede de um grupo de auto-aperfeiçoamento perto de Albany, Nova York.

Fundado por Raniere e uma enfermeira chamada Nancy Salzman em 1998, o centro oferecia aulas de coaching misturadas com um pouco de programação neurolinguística e técnicas de terapia de grupo. Os iniciantes geralmente faziam um curso intensivo de cinco dias.

Os alunos chamavam Raniere de “Vanguard” (vanguarda, em inglês) ou “Grão-Mestre” e se referiam a Salzman como “Prefeita”. A NXIVM fez afirmações audaciosas sobre suas práticas. Raniere disse que sua “tecnologia”, que ele registrou como “Método de Investigação Racional”, era capaz de diminuir os sintomas da síndrome de Tourette, ensinar crianças a falar até 13 idiomas e ajudar estudantes universitários a aumentar sua “capacidade de decisão moral”.

O grupo começou a chamar a atenção de pessoas influentes. Entre os 17 mil alunos que participaram de aulas ou workshops do NXIVM estão Sheila Johnson, cofundadora da Black Entertainment Television; Antonia Novello, ex-cirurgiã geral dos EUA; e Stephen Cooper, agora CEO da Warner Music Group. (Sara e Clare também organizaram um evento NXIVM em uma ilha que pertence ao bilionário Richard Branson, que é amigo das duas.)

Sara convenceu Clare, que tinha 23 anos e disputava competições de hipismo, a se juntar ao grupo e logo elas estavam pagando Salzman por serviços de coaching. Clare comprou uma casa perto da sede da NXIVM em Clifton Park, no estado de Nova York, e uma fazenda de cavalos na região para que ela pudesse continuar treinando.

Entre as aulas, ela competia em torneios. Eventualmente, Clare abandonou seu patrocinador, uma empresa de roupas alemã, e optou por usar uma jaqueta roxa e preta estampada com “NXIVM”. Quando ela começou a ganhar torneios, rumores de que ela fazia parte de um grupo estranho em Albany começaram a se espalhar na comunidade de hipismo.

Foi então que Raniere começou a se interessar por Clare, dizem ex-membros da seita. Sem nenhuma experiência de hipismo, ele começou a treiná-la para integrar a equipe olímpica dos EUA. “Eles a encorajaram a competir porque Keith achava que se Clare chegasse às Olimpíadas ele ficaria conhecido como um grande treinador no mundo todo, ganharia fama e seria exposto ao mundo olímpico”, diz Barbara Bouchey, que foi uma das líderes do NXIVM e namorada de Raniere antes de deixar o grupo, em 2009.

Bouchey diz que se lembra de ver Clare competir com Salzman e Raniere. Depois de fazer parte da equipe dos EUA mas não conseguir se classificar para as Olimpíadas de 2004, Clare acabou abandonando o esporte.

No início de 2003, a nova obsessão de suas filhas chamou a atenção de Edgar Bronfman Sr., que se matriculou em um curso intensivo de cinco dias no NXIVM. “Uma das razões pelas quais ele fez o workshop foi porque viu as duas evoluírem e crescerem ao longo de alguns meses”, diz Bouchey. “Ele ficou intrigado.” Em pouco tempo, ele também se tornou um apoiador, e ofereceu um depoimento que se referia a Salzman como “uma das mulheres mais influentes da minha vida”.

O entusiasmo de Edgar Bronfman Sr não durou muito. Ele ficou desconfiado depois que descobriu que Clare havia emprestado US$ 2 milhões a Raniere e Salzman. Ele parou de frequentar as aulas. “Ele estava com medo de que Keith e Nancy limpassem o dinheiro de suas filhas”, diz Bouchey.

Então, em 2003, quando a Forbes publicou uma reportagem crítica sobre Raniere e o grupo, explicando que, embora o grupo parecesse explorar a “moda de alto lucro do coaching executivo”, os críticos viam um “lado mais sombrio e manipulador” de Raniere. E a matéria de capa incluía uma acusação pesada de Edgar Sr.: “Acho que é uma seita.”

O artigo teve repercussão imediata. Raniere, de acordo com Bouchey, culpou Clare pela reportagem, dizendo que ela nunca deveria ter contado ao pai sobre o empréstimo. Raniere se convenceu de que o sr. Bronfman havia contratado um “agente duplo” para se infiltrar no NXIVM e coletar informações que poderiam prejudicar o grupo, diz Bouchey,

Daquele ponto em diante, Raniere alegaria que Clare havia cometido uma “violação ética” – um pecado capital no mundo do NXIVM, explica outro ex-membro. As críticas mordazes de seu pai e a atenção indesejada que o artigo atraiu seriam usadas contra ela nos próximos anos, dizem ex-membros.

Em uma troca de emails de 6 de janeiro de 2011, que foi apresentada como prova no julgamento de Raniere, Edgar Sr. tentou explicar para sua filha que ele não estava financiando os detratores do grupo.

“Quer você acredite ou não em mim, não estou mentindo e amo muito vocês duas”, escreveu Edgar Sr. a Clare. “Alguém não está lhe dizendo a verdade. Por que você não tenta descobrir quem pode ser? Quem tem algo a ganhar? Certamente não eu. Qual seria a minha motivação?”

Ele assina: “Toneladas de amor, mesmo que não correspondido, Papai”. A relação entre Clare e seu pai seria tensa até a morte dele, em 2013.

RETRATO DE KEITH BEATY/ZUMA/NEWSCOM; ANEXO CORTESIA DA ADVOGADA DOS ESTADOS UNIDOS, DISTRITO LESTE DE NOVA YORK

Email de Edgar Bronfman Sr. para sua filha Clare

“Purificando” o legado da Seagram

De acordo com Steve Pigeon – que junto com o notório consultor Roger Stone, trabalhou para o NXIVM como consultor político –, Raniere havia convencido Clare de que o dinheiro de sua família era mau e que ela tinha que purificá-lo gastando-o em coisas éticas, como o NXIVM.

Samuel Bronfman, avô de Clare, fez a fortuna da família graças à Lei Seca dos EUA, lembrou ele. A destiladora de uísque canadense se estabeleceu na fronteira entre os Estados Unidos e o Canadá e ganhou milhões quando as destilarias dos EUA começaram a falir.

Ambas as irmãs, de acordo com ex-membros, viam seu apoio financeiro ao NXIVM como uma forma de limpar sua fortuna e deixar seu próprio legado filantrópico. “As meninas assumiram um papel sentindo que poderiam fazer a diferença no mundo, e isso se tornou uma carreira muito importante para elas”, diz Bouchey.

Com o tempo, foi Clare quem se envolveu mais profundamente com a organização. Em documentos apresentados à Justiça, os promotores dizem que Clare apoiou Raniere financeiramente ao longo dos anos, “fornecendo-lhe milhões de dólares e pagando por viagens em aviões particulares que custavam aproximadamente US$ 65.000,00 por voo”.

Uma grande parte do dinheiro – estimado em cerca de US$ 50 milhões, diz Peter Skolnik, um advogado que lutou contra o NXIVM por anos – também foi usado para processar os inimigos do culto, tanto os reais quanto aqueles que eram vistos dessa forma por Raniere.

Depois que ela parou de disputar competições de hipismo, Clare escreveu (em seu site extinto) que seu papel no NXIVM era focado em “áreas do direito” e “ética corporativa”. Ao longo de 15 anos, estima-se que ela contratou de 50 a 60 advogados de 30 escritórios diferentes para processar quase uma dúzia de críticos do NXIVM, diz Skolnik.

Clare também financiou dois casos frívolos contra a AT&T e a Microsoft, alegando que as empresas violavam a propriedade intelectual de Raniere. (Ele perdeu e foi condenado a pagar centenas de milhares de dólares para cobrir os honorários legais das empresas.)

“O NXIVM era uma máquina de litígios”, diz Rick Ross, o conhecido especialista em seitas, que se defendeu de um processo épico movido pelo grupo que durou 14 anos. “A conta bancária de Clare era sugada por advogados e processos judiciais. Se você colocar em uma lista todas as vezes que eles contrataram um advogado para defendê-los ou processar alguém, US$ 50 milhões não parece uma quantia tão exorbitante.”

Pelo menos três pessoas que se defenderam contra a estratégia legal agressiva do NXIVM – a ex-membro Bouchey, o ex-consultor Joseph O’Hara e outra ex-namorada de Raniere, Toni Natalie – acabaram pedindo proteção contra falência pessoal, de acordo com documentos judiciais públicos.

O NXIVM também processou, sem sucesso, jornalistas que expuseram os segredos de Raniere. Um dos alvos foi James Odato, um jornalista investigativo do Times Union, de Nova York, que fez uma cobertura reveladora; assim como Suzanna Andrews, da Vanity Fair, por uma longa reportagem publicada em 2010; e outros.

A generosidade de Clare Bronfman também protegeu Raniere de suas más decisões de investimentos. Entre 2005 e 2007, o suposto guru, que gostava de se gabar de ter um dos QIs mais altos do mundo, perdeu quase US$ 70 milhões em uma aposta no mercado de commodities de milho. De acordo com Pigeon, que estava trabalhando para Clare e o NXIVM na época, Raniere alegou que o mercado de commodities era controlado pelos Illuminati, que eram liderados por Edgar Bronfman Sr..

Clare e Sara cobriram cerca de US$ 65 milhões que Raniere havia perdido, diz Pigeon.

Em 2007, as irmãs Bronfman gastaram mais de US$ 26 milhões em um projeto imobiliário concebido por Raniere para construir e vender casas caras em bairros nobres como Sherman Oaks e Hollywood Hills em Los Angeles, na Califórnia.

In 2007, the Bronfman sisters spent over $26 million on a Los Angeles real estate project cooked up by Raniere to build and sell expensive homes in posh neighborhoods like Sherman Oaks and Hollywood Hills.

“No final, percebi que Keith estava no controle”, diz Pigeon, que trabalhou para o NXIVM de 2003 a 2011. “Ela [Clare] era sua devota e deu a Keith tudo o que ele precisava.”

Cicatrizes, abuso sexual e cárcere privado

Além de financiar projetos, a riqueza e o status social das Bronfman desempenharam um papel crucial na construção da credibilidade do Nxivm. As irmãs chegaram a gastar US$ 2 milhões para persuadir o Dalai Lama a visitar Albany em 2009 e conhecer Raniere pessoalmente.

Durante anos, essa estratégia funcionou. Mas a imprensa local começou a publicar várias reportagens críticas ao NXIVM, e a cobertura negativa se transformou em uma tempestade que não poderia ser ignorada em outubro de 2017, quando o New York Times publicou um artigo detalhando os supostos horrores de um pequeno círculo interno de elite dentro do NXIVM chamado DOS, sigla para “dominus obsequious sororium”, ou latim imperfeito para “mestre sobre mulheres submissas”.

Descrito como um grupo de empoderamento feminino dentro do NXIVM, o DOS supostamente exigia que suas recrutas, chamadas de “escravas”, fornecessem fotos nuas a seus “mestres” e outras informações potencialmente prejudiciais como garantia, de acordo com informações de uma reportagem do New York Times que também foram usadas por promotores federais e corroboradas por testemunhas em audiências.

Algumas mulheres do DOS foram marcadas com as iniciais de Raniere usando uma caneta cauterizadora. Allison Mack, a atriz do seriado “Smallville” e membro de longa data do NXIVM e do DOS, mais tarde diria à New York Times Magazine que queimar as letras nos corpos das mulheres tinha sido sua ideia.

Algumas das “escravas” eram frequentemente obrigadas a fazer sexo com Raniere para mostrar seu compromisso com o grupo. Esperava-se que elas seguissem as ordens de seu “mestre” e recrutassem outras mulheres, afirmam os promotores.

As “escravas” eram obrigadas a seguir dietas rigorosas e instruídas a manter seus pêlos pubianos longos para atender ao gosto pessoal de Vanguard. O New York Times descreveu uma “cerimônia de marcação de iniciais” na qual seis membros foram convidados a se despir e deitar em uma mesa de massagem enquanto cantavam “Mestre, por favor, marque-me, seria uma honra” e eram seguradas à força pelas outras mulheres.

Em resposta às reportagens do jornal, Raniere emitiu uma declaração aos membros do NXIVM na qual negou seu envolvimento com o DOS e afirmou que ele havia contratado investigadores para garantir que os membros do grupo não estivessem sendo abusados ou coagidos.

Nos processos judiciais, os promotores afirmam que diversas formas de abuso aconteceram dentro do DOS. Mack, que se declarou culpada de várias acusações de extorsão em março de 2019, admitiu ter recrutado mulheres para se tornarem “escravas” e coletado suas “garantias”, que incluíam fotos explícitas de si mesmas e confissões de vários crimes gravadas em vídeo.

Em seu caso contra Raniere, os promotores alegam que ele agrediu sexualmente duas meninas menores de idade e cometeu o que parece ser atos de tortura psicológica grave, incluindo supostamente dizer a uma mulher que ela deveria permanecer em seu quarto – onde ela ficou por quase dois anos – para remediar uma ” violação ética” que ela havia cometido.

Raniere negou as acusações de abuso e afirmou que todas as suas relações com membros do DOS foram consensuais.

Os promotores não acusaram Clare de ser membro do DOS nem de cometer tráfico sexual. Clare foi inicialmente indiciada por acusações de extorsão, roubo de identidade e lavagem de dinheiro. Ela seria julgada junto com Raniere e os outros co-réus, incluindo Mack, Nancy Salzman e sua filha Lauren, e a contadora de longa data do NXIVM Kathy Russell. Mas todas as mulheres fecharam acordos com a promotoria nos quais se declararam culpadas de algumas acusações em troca de penas mais brandas.

Documentos apresentados à Justiça norte-americana sugerem que os promotores estavam preparados para apresentar provas de que Clare estava em um relacionamento sexual com Raniere e que ela ajudou a facilitar o acesso dele às mulheres.

No primeiro dia do julgamento de Raniere, uma mulher identificada apenas como uma ex-membro do DOS chamada “Sylvie” prestou depoimento. Ela descreveu como Clare a contratou, aos 18 anos, para ajudar a manter seus estábulos e a levou para o NXIVM, pagando por suas aulas. Ela afirmou que mais tarde foi recrutada como “escrava” do DOS por outro membro do grupo, Monica, que a instruiu a conhecer Raniere e fazer o que ele pedisse. Quando Sylvie se encontrou com Raniere, ele lhe disse para se deitar em uma cama e fez sexo oral nela, afirmou Sylvie.

A batalha final de Clare Bronfman

Após a publicação do artigo do New York Times, em 2017, o Federal Bureau of Investigation começou a entrevistar vítimas e testemunhas, e Raniere logo fugiu para o México. Ele parou de usar o telefone e se comunicava apenas por meio de emails criptografados, segundo os promotores.

Em fevereiro de 2018, um mandado de prisão foi emitido nos EUA. Um mês depois, a polícia federal do México encontrou Raniere escondido dentro de um armário em um resort de luxo nos arredores de Puerto Vallarta com várias mulheres, incluindo Mack.

Mesmo quando as autoridades começaram a fechar o cerco, Clare Bronfman permaneceu leal. Em 14 de dezembro de 2017, Clare publicou uma declaração em seu site: “Alguns me perguntaram por que continuo sendo um membro e por que ainda apoio NXIVM e Keith Raniere. A resposta é simples: vi tanta coisa boa vir de nossos programas e do próprio Keith.”

“Seria uma tragédia perder as ideias e ferramentas inovadoras e transformadoras que continuam a melhorar a vida de tantas pessoas”, afirmou.

Nos meses seguintes, Mack, os Salzmans, Russell e Clare Bronfman foram indiciados e presos. Clare foi libertada sob uma fiança de US$ 100 milhões, dos quais US$ 25 milhões foram pagos em dinheiro vindo de um de seus fundos fiduciários e outros US$ 25 milhões, em imóveis dados em garantia, incluindo a ilha que ela possui em Fiji.

A lealdade de Clare a Raniere e ao grupo pareceu inabalável após sua prisão. De acordo com registros públicos, Clare estabeleceu um fundo irrevogável para pagar os honorários legais de Raniere e dos outros co-réus.

Mas pouco a pouco a fachada de família unida começou a rachar. Em março de 2019, com a pressão aumentando em torno da próxima audiência, Nancy Salzman se declarou culpada de uma acusação de conspiração de extorsão.

A realidade e o peso das denúncias pareciam desgastar Clare. Durante uma audiência em 27 de março, o juiz Nicholas Garaufis perguntou a Clare se ela havia consultado o famoso – e de repente notório – advogado Michael Avenatti. Ela tinha. Apenas alguns dias antes da audiência, Avenatti havia sido indiciado sob a acusação de ter tentado extorquir US$ 20 milhões da Nike.

O juiz também perguntou a Clare se ela havia lido reportagens que indicavam que Mark Geragos, o principal advogado da herdeira, era o co-conspirador não identificado de Avenatti. Segundo relatos, o rosto de Clare ficou pálido e ela desmaiou. O juiz acabou encerrando a audiência e remarcando os procedimentos.

No dia seguinte, o juiz Garaufis perguntou se Clare estava totalmente recuperada. “Eu estou. Obrigada”, disse ela. “Sinceramente, eu estava com muito medo ontem.” Dias depois, ela aceitou fazer um acordo com a promotoria.

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