A proposta inicial, aberta para discussão em audiência pública até 16 de setembro, traz como exigência a eleição de pelo menos uma mulher e um integrante de minorias no conselho ou diretoria de empresas listadas em Bolsa.
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A mudança cultural tem que ser de dentro para fora
Como profissional do mercado financeiro, e cercado por uma equipe predominantemente feminina, quero aproveitar essa importante pauta aberta pela B3 e fazer um recorte que, a meu ver, precisa ser contemplado nos debates e merece um olhar especial por parte da indústria dos investimentos: a participação das mulheres em cargos de liderança dentro do mercado financeiro.
E para começar, vamos a alguns dados do mercado brasileiro:
– Dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais) informam que do total de profissionais CGA (Certificação de Gestores de Carteiras Anbima) somente 7% são mulheres;
– Dos 966 nomes de pessoas físicas cadastradas na CVM como consultores de investimento, 21% (212) são mulheres (abre parêntese para o professor aqui, orgulhoso, dizer: algumas delas foram minhas alunas);
– De acordo com pesquisa do IBGE, em 2021, apesar das mulheres terem maior escolaridade que os homens, apenas 37,4% dos cargos gerenciais são ocupados por elas. Sua renda também é 77% menor.
Exigir que as empresas de capital aberto de variados segmentos tenham mulheres em seus quadros de comando é um avanço que precisa se desdobrar também para o board de todas as empresas que constituem o ecossistema de nosso mercado de capitais.
O mercado precisa ser mais inclusivo em todas as pontas
A pesquisa indica que 73% dos gestores entrevistados acreditam que a indústria de investimentos seria capaz de atrair mais mulheres para investir se o setor tivesse mais gestoras do sexo feminino.
Esse dado é ainda mais significativo se levarmos em conta outro dado apontado pelo mesmo estudo: se mulheres investissem na mesma proporção que os homens, o mercado financeiro global teria uma injeção de capital superior a US$ 3 bilhões.
Nesse sentido, um mercado financeiro que propicie mais espaço de comando às mulheres, além de mais justo, será também mais próspero e dinâmico.
Apesar de alguns avanços terem ocorrido na última década, o fato é que a gestão de ativos ainda é predominantemente dominada por homens.
No estudo do BNY Mellon, 50% das empresas gestoras de fundos afirmou que 10% ou menos de seu board é composto por mulheres.
Isso, inclusive, nos ajuda a entender porque o setor ainda enfrenta tantos desafios para ter também, na outra ponta, maior número de investidoras no mercado.
Temos um mercado (incluindo o setor focado em educação financeira) em que o conceito de performance e êxito na construção de patrimônio é expresso por desempenho, gamificação e competição, em vez de focar em sustentabilidade, interesse coletivo e construção de riqueza no longo prazo, que são aspectos com os quais as mulheres têm, sabiamente, muito mais afinidade de valores.
O mercado financeiro precisa evoluir nesse quesito e compreender que não se trata de apenas colocar rostos femininos em sua publicidade ou usar cor de rosa em alguns materiais. Trata-se de trazer a maturidade e inteligência de mercado das mulheres para a gestão de fundos, corretoras e bancos, bem como para sua estratégia de comunicação institucional.
Mudar o mercado de capitais para mudar o mundo para melhor
Inúmeras pesquisas revelam que mulheres pensam finanças pessoais com um olhar de longo prazo, focado em independência e no impacto social que seus investimentos podem ter.
Essa linguagem com maior inteligência emocional e compromisso com sustentabilidade só será possível quando o setor financeiro tiver ações concretas para eliminar a lacuna entre gênero e investimento.
Mulheres à frente de grandes empresas do mercado financeiro trarão muitas outras para o mundo dos investimentos, e isso beneficiará a sociedade, o mercado financeiro e o planeta.
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