Esses números vieram acima do esperado pelos analistas. A XP Investimentos, por exemplo, projetou uma receita de R$ 19,92 bilhões, enquanto a Ativa esperava R$ 19,10 bilhões. Já para o Ebitda, a XP estimou R$ 5,21 bilhões e a Ativa R$ 5,07 bilhões.
Os ganhos de receita e lucro operacional vieram na esteira do crescimento do faturamento e do volume de vendas da operação não alcoólica brasileira. Entretanto, o carro chefe da Ambev, que são as cervejas, teve crescimento zero no mesmo período.
Por outro lado, o ticket médio de vendas das cervejas no Brasil aumentou, “graças às iniciativas comerciais, mix de produtos e repasse de custos”, aponta a Ativa. Mas isso não foi suficiente para segurar o lucro ou a margem da companhia no período.
Preços mais altos de commodities e custos de operação comeram 4,4 pontos percentuais de margem líquida na base anual, para 15,6%. Um ano atrás, a margem era de 20,1%. O lucro líquido recuou 13,4% no mesmo período, para R$ 3,21 bilhões.
Por volta das 11h30 (horário de Brasília), as ações ABEV3 apresentavam alta de 2,9% no Ibovespa, avaliadas em R$ 15,55. Em 2022, os papéis da companhia acumulam queda de 2,1%.
Empresa dos bilionários
Lemann encabeçou a lista de bilionários da Forbes sete vezes desde a sua estreia em 2012, mas no último ano a sua fortuna encolheu de R$ 96,5 bilhões para R$ 72 bilhões. Herrmann e Sicupira também perderam, R$ 16,5 bilhões e R$ 9,65 bilhões, respectivamente.
No período de análise das fortunas (maio 2021-maio 2022), as ações da companhia sofreram uma pequena desvalorização (1,31%), mas desde antes da pandemia a Ambev já vinha com problemas.
Em relatório, o Bank of America (BofA) afirma que os volumes de cervejas ficaram estagnados entre 2015 e 2019 por diversos motivos, como posicionamento incorreto de marcas e embalagens, além de portfólio e estratégia fracos.
No último Ambev Day, a empresa informou que concluiu o seu processo de reorganização e agora está pronta para crescer. O BofA mantém uma postura neutra para as ações e avalia que “o momento é desafiador para ganhos de curto prazo, enquanto as novas iniciativas devem amadurecer ao longo dos próximos anos.”
Apostas da Ambev
A principal categoria da empresa, que é a Cervejas Brasil, tem dois pilares atualmente: gestão de receita e desenvolvimento de portfólio. As garrafas de vidro retornáveis, que possuem 22 pontos percentuais de margem, são uma aposta e estão ganhando participação no consumo direto pelo consumidor.
Além disso, as marcas premium ganham espaço no mix de produtos. O chopp Brahma, por exemplo, registrou salto de 20% no volume de vendas na comparação com o terceiro trimestre de 2021. A Original também avançou no segmento.
Para o BofA, a Ambev busca rebalancear o portfólio. A meta é ter mais marcas para atender demanda por bebidas premium. “Nos países desenvolvidos, 40 marcas representam 80% do mercado, enquanto no Brasil esse número cai para 14. À medida que o mercado amadurece, é necessário um portfólio mais amplo”, diz o relatório do banco.
Entre 2018 e 2021, a participação da Ambev no mercado premium cresceu de 15% para 33%. As apostas são na Brahma (chegada da duplo malte), Spaten, Budweiser e Beck’s. Os produtos novos e inovadores possuem margem 20% maior e ajudam na penetração de mercado.
Além disso, o segmento de bebidas não alcoólicas está em alta. “A Ambev está renovando a marca Guaraná por meio de uma estratégia de marketing mais inteligente, bem como aumentando a exposição a segmentos em crescimento como refrigerantes sem açúcar, bebidas esportivas e energéticas”, segundo o relatório do BofA.
Desafios à frente
A Ambev conta com a Copa do Mundo para trazer novos produtos e aumentar a participação no mercado. Principalmente porque as vendas de cerveja no Brasil estagnaram no terceiro trimestre.
“A Copa do Mundo é sempre um momento especial para se conectar com clientes e consumidores, e graças à evolução de nossa estratégia nos últimos anos, acreditamos que estamos muito melhor posicionados em comparação com a Copa do Mundo de 2018”, diz a companhia no balanço do 3T22.
Para isso, a Ambev aposta nas plataformas Zé Delivery (para consumidores) e BEES (para empresas).
A operação no Caribe e América Central (CAC) foi o destaque negativo, com queda de 18,7% no volume entregue em comparação com o mesmo período do ano passado. Algumas regiões enfrentam gargalos logísticos e problemas com fornecimento de garrafas. Na América do Sul e no Canadá o crescimento do volume foi modesto, de 4,5% e 3,4%, respectivamente.
Para o BofA, a temporada de verão, com reabertura total da economia e Carnaval representam um bom momento para a empresa. “Apesar da perspectiva de margem difícil para o próximo ano, acreditamos que os investidores podem mudar o foco para a receita líquida e a avaliação normalizada em 2023”, diz o relatório.
O banco de investimentos projeta uma receita líquida de R$ 80,44 bilhões no acumulado de 2022, alta de 10,4% frente a 2021. Para o lucro líquido, a expectativa é de recuo de 4,9%, para R$ 12,05 bilhões. Enquanto o Ebitda deve crescer 2,5%, para R$ 23,44 bilhões.
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