Fundos de investimento estão no vermelho. O que esperar de 2023?

21 de dezembro de 2022

Fundos de investimentos Os fundos de investimento funcionam como uma cesta de produtos financeiros, administrada por um profissional do mercado. Para investir é preciso adquirir o número de cotas desejado. A negociação é feita através das plataformas de investimentos. Paula explica a diferença entre os fundos e os ETFs: “os investidores entram na plataforma na aba de fundos e compram cotas deste fundo, conforme eles abrem e fecham para a captação, é mais simples para o investidor leigo, não precisa saber o código ou operar no home broker”. A analista comenta também que os fundos costumam ter uma taxa um pouco maior que os ETFs.

Teradat Santivivut/GettyImages

Indústria de fundos de investimento fecham 2022 no vermelho, mas continuam sendo opção para 2023

O ano de 2022 não foi bom para a indústria dos fundos de investimento. No acumulado do ano (até 13 de dezembro), a indústria registrou um resgate líquido (somando depósitos e retiradas) de R$ 26,16 bilhões, com destaque para o fluxo negativo dos fundos de ações e multimercados, segundo dados da Anbima, associação que representa o setor.

Em termos absolutos, a maior baixa foi nos fundos multimercado. Eles perderam R$ 84,24 bilhões desde janeiro, montante equivalente a 5% do total de R$ 1,6 trilhão que o setor acumulava até o último dia 13. Já em termos relativos, os fundos de ações foram os mais prejudicados, com resgates líquidos de R$ 67,89 bilhões, equivalentes a 15% do patrimônio atual de R$ 460,89 bilhões.

Fundos cambiais e ETFs (fundos que acompanham índices de referência) também acumulam fluxos negativos no ano, de R$ 147 milhões e R$ 356 milhões, respectivamente, enquanto previdência e renda fixa se encaminham para fechar 2022 com saldos maiores do que em janeiro: previdência ganhou R$ 10,5 bilhões e renda fixa R$ 73,8 bilhões.

Rafael Marques, CEO da Philos Invest, explica que o cenário de 2022 foi muito avesso a ativos de risco. “Com o início da guerra na Ucrânia mais o período eleitoral, é razoável a diminuição do apetite por risco nas carteiras”, diz Marques.

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Somado a esse contexto, o mercado brasileiro também registrou aumento na taxa de juros e maiores emissões de títulos de renda fixa. “Com retorno acima da inflação, e com possibilidade de render mais até do que o CDI, dá para entender que os investidores optem por diminuir seus riscos e optar pelo porto seguro de um ativo de renda fixa com bons rendimentos”, acrescenta o CEO da Philos.

Instrumentos de renda fixa isentos de Imposto de Renda, como CRIs (certificados de recebíveis imobiliários) e CRAs (certificados de recebíveis do agronegócio), tiveram aumento de emissão neste ano quando comparados com 2021. As emissões de CRI aumentaram em 50%, para R$ 41,25 bilhões até novembro, enquanto os lançamentos de CRA quase dobraram de volume, para R$ 38,68 bilhões, segundo dados da Anbima.

O que esperar de 2023

Para o próximo ano, os analistas consultados pela Forbes foram unânimes ao afirmar que o cenário é incerto e a leitura é difícil tanto no contexto global quanto no nacional.

“Ser conservador em 2023 parece ser a melhor opção”, diz Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos. “Manter os ativos aplicados em títulos pós-fixados, com juros a 13,75% ao ano, garante ao investidor uma rentabilidade próxima de 1% mensalmente.”

O sócio-fundador da assessoria de investimentos afirma que 2023 será complicado para a bolsa brasileira e as bolsas internacionais. Segundo ele, dado o aperto de juros em nível global, a pressão no segmento de renda variável irá continuar.

Fundos de renda fixa

Neste ano, os fundos de renda fixa entregaram o melhor retorno, de 11,77%, segundo dados de mediana da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), compilados pela Economática. Rodrigo Correa, estrategista-chefe da BRA-BS, acredita que o cenário para os fundos de renda fixa em 2023 continuará favorável, com entrega “de 100% do CDI, em média” – as variações seriam entre 80% do CDI até 120%, indica Correa.

O estrategista pontua que a Selic deve permanecer em dois dígitos ao longo de todo o ano de 2023, com o cenário político-fiscal como o principal influenciador deste cenário. Para Correa, a manutenção dos juros altos está diretamente ligada à inflação, que no momento está atrelada à postura do novo governo com os gastos públicos. Muitos gastos desencadeariam aumento de inflação, enquanto uma postura austera ajudaria a desacelerar o aumento dos preços.

“Caso a realidade se desenvolva de uma forma mais responsável fiscalmente poderemos esperar que a inflação será domada pelo efeito das altas taxas de juros e que o Banco Central terá espaço para reduzir tais taxas, naturalmente trazendo o resultado dos fundos de renda fixa para baixo junto com tal ajuste”, diz Correa.

Segundo o último relatório Focus do Banco Central, a Selic deve terminar o próximo ano em 11,75%, enquanto a inflação fecharia em 5,17%. Para efeito comparativo, hoje a Selic está em 13,75% e a inflação em 5,90% (até novembro).

Fundos multimercado

Na sequência dos retornos dos fundos de renda fixa aparecem os fundos multimercados, com entrega de 8,51%, na mediana. Marques, da Philos, vê esses fundos como um diferencial importante de diversificação, dado que é possível investir em muitas classes de ativos e trabalhar melhores retornos.

“Os multimercados podem ter as mais variadas faixas de retorno. Isso pelo simples fato de que, por regulamento, tais fundos podem fazer praticamente o que quiserem e muito do resultado dependerá da habilidade do gestor”, diz Marques.

Para essa classe, Correa acredita que o cenário internacional também irá influenciar, além da questão fiscal interna.

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“Globalmente, esperamos um mundo com crescimento baixo e que não irá ajudar muito o Brasil. Nesse cenário, faz sentido aproveitar-se da habilidade dos bons gestores de multimercado, que tiveram um 2022 expressivo, muito maior que a mediana de 8,51%”, diz o estrategista.

Segundo ele, esses gestores surfaram a onda do atraso do banco central dos EUA no combate à inflação. “Pode-se argumentar que os EUA ainda não estão no controle desse fenômeno sugerindo que mais dinheiro pode ser feito nessa linha. De toda forma, os multimercados também têm uma característica importante: são ágeis na alocação e na mudança de direção da carteira, coisa valiosa em um mundo turbulento.”

Fundos de ações

Em termos de retorno, os fundos de ações tiveram o pior desempenho de 2022, com mediana negativa de 9,79% no ano. Em 2023, a perspectiva não é de melhora, pelo menos no curto prazo.

Por um lado, Correa afirma que as ações brasileiras estão precificadas de acordo com a geração de lucros das empresas, o que indica um bom momento de entrada no setor. Por outro lado, a questão fiscal está fragilizando a economia e sugerindo um potencial de crescimento lento à frente.

“Temos, portanto, uma situação na qual apesar de a bolsa estar barata, não há fortes e claros gatilhos que a façam andar. Em um cenário de contexto fiscal melhor do que o esperado atualmente podemos esperar uma apreciação mais sustentada da bolsa”, diz o estrategista-chefe da BRA-BS.

Marques indica que, na hora de considerar um investimento, é importante calcular três pilares: risco, retorno e liquidez. “Não é possível ter os três ao mesmo tempo. Então é primordial sempre olhar para o risco e, a partir dele, decidir o retorno dentro do tempo de investimento”, aconselha Marques.

O CEO da Philos também afirma que, em tempos de crise como o atual, estar atento à liquidez e aos indexados econômicos também é importante na hora de montar uma carteira. “É esperado para 2023 movimentos mais agressivos, então é importante estar bem fundamentado nas escolhas para não ser levado e, sim, identificar se é uma oportunidade de entrar em um ativo.”