Bankman-Fried reconheceu: “claramente não fiz um bom trabalho” como chefe da FTX. Ele disse que havia imensos erros contábeis que ele deveria ter detectado, mas insistiu que “nunca tentou cometer fraude” e ficou “chocado” com o colapso da bolsa no início deste mês.
Ele também negou que os laços da FTX com a Alameda Research eram inapropriados, insistindo que ele “não administrava a Alameda” e “não sabia exatamente o que estava acontecendo”, embora, como co-fundador, tivesse ligação com seus dirigentes. Bankman-Fried disse ter trabalhado como consultor da Alameda “envolvido em investimentos de risco”.
Ele disse que a empresa “falhou completamente” tanto no gerenciamento de risco quanto no “risco de conflito de interesses”, acrescentando que a FTX não tinha ninguém encarregado exclusivamente de examinar o risco assumido pelos clientes.
Bankman-Fried afirmou que a empresa estava gastando “uma quantidade enorme de energia em compliance” para obter licenças em diferentes jurisdições, embora o CEO recém-nomeado da FTX, John J. Ray, tenha dito no recente processo de falência que nunca viu em sua carreira “uma falha tão completa dos controles corporativos”.
Acompanhe em primeira mão o conteúdo do Forbes Money no Telegram
Quando questionado sobre suas doações políticas, Bankman-Fried afirmou que eram provenientes de “lucros da empresa” e que ele doou a republicanos e democratas, principalmente para o que chamou de “prevenção pandêmica” (no ciclo eleitoral de 2022, Bankman-Fried foi um dos maiores doadores bilionários para campanhas e organizações democratas).
Bankman-Fried fez as declarações ontem em uma entrevista por videoconferência com o jornalista Andrew Ross Sorkin no Dealbook Summit do Times, em sua primeira longa declaração pública desde que a FTX pediu falência no início deste mês.
Ele disse que deu a entrevista contrariando a orientação de seus advogados, afirmando que acredita ter o “dever de explicar o que aconteceu” e não está “focando” em uma possível responsabilidade criminal.
>Leia também: É o fim para o bilionário dono da FTX, Sam Bankman-Fried?
Contradições de Bankman-Fried
Em várias ocasiões, Bankman-Fried insistiu que a FTX.US, sua bolsa de criptomoedas para clientes nos Estados Unidos, permanecia “totalmente solvente” e deveria ser capaz de lidar com saques de clientes, embora a bolsa dos EUA fizesse parte do pedido de falência da FTX.
“Eu estava animado com as perspectivas do FTX apenas um mês atrás”, disse ele.
O ex-CEO também disse que não tem “quase nada” em riqueza pessoal após o colapso da FTX porque reinvestiu seu dinheiro na empresa e repetiu uma afirmação que fez à Axios de que tudo o que tem agora é uma conta bancária com cerca de US$ 100 mil restantes.
A Forbes estima que a riqueza de Bankman-Fried atingiu um pico de cerca de US$ 26,5 bilhões, quase exclusivamente vinculada à FTX e ao token FTT.
> Leia também: Os sinais vermelhos do FTX que ninguém parecia ver
Contexto
Mas o colapso nos preços das criptomoedas no início deste ano condenaria a FTX e sua empresa irmã, a Alameda Research, que supostamente usou a criptomoeda FTT da exchange como garantia para obter bilhões de dólares em empréstimos para comprar participações em startups.
A Alameda se viu com enormes lacunas de financiamento após o crash das criptomoedas, mas a FTX supostamente optou por resgatar a empresa em dificuldades, emprestando bilhões de dólares em ativos de clientes. Os extensos laços entre as duas empresas tornaram-se de conhecimento público em um relatório da CoinDesk de 2 de novembro, que revelou que grande parte do balanço da Alameda era composto pelo token FTT, que é emitido pela FTX.
As revelações bombásticas – e a decisão da exchange cripto Binance de vender sua posição FTT – alarmaram os clientes que correram para sacar dinheiro, levando a exchange a enfrentar a insolvência e declarar falência em 11 de novembro, e acarretou na renúncia de Bankman-Fried como CEO. John Ray, que foi nomeado CEO para supervisionar o processo de falência, chamou a situação financeira e a falta de controle da FTX de uma das piores que ele já viu em sua carreira. Ray liderou notavelmente a Enron depois que a empresa de energia com sede no Texas declarou falência em 2001.