Inspirado em ‘À Procura da Felicidade’, ele foi de atendente a sócio

30 de janeiro de 2023
Divulgação

Gilvan Bueno, sócio da Órama Investimentos

Foi assistindo ao filme “À Procura da Felicidade” que Gilvan Bueno viu no mercado financeiro uma possibilidade de alavancar a carreira. A trajetória de Chris Gardner, interpretado por Will Smith nas telonas, fez com que o atual sócio da Órama Investimentos sonhasse em deixar de ser atendente de uma rede de fast food. “Eu nunca tinha pensado em atuar no mercado financeiro. O filme acendeu isso em mim”, diz ele.

Nascido em Salvador, na Bahia, Bueno começou a se sustentar logo cedo. Aos 11 anos, sua mãe faleceu e ele foi morar com a avó, no Espírito Santo. Quatro anos depois, decidiu ir sozinho para o Rio de Janeiro em busca de oportunidades.

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O começo da vida profissional foi como auxiliar de pedreiro, carregando cimento nas obras. Já aos 19, Bueno passou a se dividir entre o balcão de um restaurante da Rodoviária do Rio de Janeiro de manhã e uma unidade de uma rede de fast food à noite.

Os dois empregos foram necessários para conseguir alugar seu primeiro imóvel — até então, ele morava de favor. Aos 25, Bueno assistiu pela primeira vez “À Procura da Felicidade” (“The Pursuit of Happyness”, 2006).  e foi atrás do livro para mergulhar de vez na história. Segundo o executivo, ele já assistiu a obra diversas vezes. “Foi a partir disso que a minha trajetória tomou outro rumo.”

Nos restaurantes, o soteropolitano compartilhava com os clientes o que tinha aprendido, contava as histórias dos livros e também deixava claro a sua intenção de trabalhar com finanças no futuro. “Sempre fui bom de papo”, relembra Bueno. E foi trabalhando em uma pizzaria na Barra da Tijuca, na zona norte do Rio de Janeiro, que um cliente o indicou para uma entrevista de emprego em uma corretora. “Fui após um dia de trabalho, acabei chegando mais de uma hora atrasado. Mas consegui a vaga e fiquei um ano e meio lá”, conta.

Durante esse tempo, ele se formou em gestão financeira e foi em busca dos certificados necessários para atuar no mercado. “Estudei muito mesmo para conseguir tudo o que precisava”, diz. Após a primeira experiência na área, ele foi trabalhar no Itaú Unibanco, depois no BTG Pactual e em um escritório da XP Investimentos. “Olhando assim, parece que foi uma trajetória fácil. Mas não foi”, diz ele. Bueno conta que precisou lidar com algumas dificuldades no meio do caminho.

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A maior delas foi a competição com pessoas mais qualificadas, que tinham um histórico profissional mais avançado. “A maioria das pessoas tinha boa formação, além de falar três ou quatro idiomas. Foi difícil competir. Precisei ser muito resiliente e esforçado”, diz ele. A falta do inglês o fez perder uma vaga muito desejada. Após o baque, ele foi aprender o idioma nos Estados Unidos. “Lá conheci pessoas que trabalhavam no Merrill Lynch e no Bank of America, e elas aumentaram a minha vontade de empreender e ensinar outros jovens, para que eles não precisassem passar por todas as dificuldades que passei.”

Para ele, a educação financeira precisa ser abordada com mais intensidade. “Eu não tive acesso a ela. Era tudo muito limitado e sinto que ainda é para a maioria das pessoas. Isso me rendeu problemas”, conta. A primeira dívida de Bueno foi com um celular pré-pago. Já a segunda foi com roupas, que ele precisou parcelar em 18 vezes. “A roupa desgastou e a dívida continuou”, relembra ele, aos risos.

“É preciso também excluir a ideia que ‘basta guardar R$ 50 por mês que você está fazendo algo de bom para a sua vida financeira’. Esse valor é muito representativo para quem está na escassez”, complementa. “Por isso me dedico a mudar isso.”

Repassando conhecimento

Hoje com 40 anos, Bueno tem como foco ajudar outros jovens a ascenderem profissionalmente. Dois anos atrás, em 2020, o executivo montou um projeto em parceria com a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) para capacitar jovens do Pelourinho a obterem as certificações da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais). Em um grupo de 90 jovens, a maioria negros, 70% conquistaram a aprovação.

No mesmo ano, Bueno fundou a Financier Educação, com o intuito de oferecer soluções para ensinar qualquer pessoa a investir seus recursos e trabalhar no mercado financeiro. A iniciativa rendeu o selo Black Founders Fund do Google for Startups, um reconhecimento por trabalhar em prol da diversidade e inclusão social. Além de sócio da Órama Investimentos, Gilvan Bueno também trabalha como gerente de educação da gestora e é voluntário do Instituto Consuelo.

Para ele, a maior realização em sua vida é conseguir colocar mais pessoas de outras realidades econômicas e sociais no mercado financeiro, desmistificando a área. “Minha maior conquista é fazer com que outras pessoas consigam ascender profissionalmente e aumentar sua renda. Se eu cheguei até aqui, preciso trazer mais pessoas comigo e repassar os meus conhecimentos”, conta. “Eu não fiz nada sozinho, então quero devolver isso de alguma forma para a sociedade.”

Quando conheceu o seu grande ídolo, Chris Gardner, que participou de um evento em São Paulo, Bueno teve de se segurar. “Apertei a mão dele e falei que ele era o meu herói. Foi impossível não me emocionar”, relembra. “Ele é, sem dúvidas, um cara muito incrível na minha vida.”