Big techs surpreendem no primeiro trimestre; é hora de comprar ações?

10 de maio de 2023
Foto: Reuters / Montagem: Forbes

Ações das big techs subiram mais de 20% em quatro meses

Os últimos meses foram difíceis para as empresas de tecnologia. Elas protagonizaram demissões em massa, queda no volume de serviços e perda de valor com o aumento dos juros. Segundo analistas, a perspectiva para o futuro é de mais um período difícil para as big techs – grupo formado pelas gigantes Meta, Apple, Amazon, Microsoft e Google.

Entretanto, as ações dessas empresas voltaram a apresentar valorizações surpreendentes. Entre 1º de janeiro e 1º de maio, as ações da Meta listadas em Nova York se valorizaram 102%. No mesmo período, as cotações da Apple avançaram 30,7% e as da Microsoft subiram 27,7%. Alphabet (controladora do Google) e Amazon avançaram 21,5% cada uma.

Em contrapartida, o S&P 500, principal índice de ações de Wall Street, registrou alta de 8,5% nesses quatro meses. O Ibovespa, índice de referência brasileiro, se desvalorizou 5% no mesmo período.

Após as divulgações dos balanços de primeiro trimestre, as ações das cinco companhias passaram por um rali na Nasdaq, índice de ações de tecnologia de Wall Street. As ações da Microsoft, por exemplo, subiram 7% no dia seguinte à publicação. As demais tiveram ganhos em torno de 5% em suas respectivas datas.

Thiago Rigo, analista da Titanium Asset, afirma que, de forma geral, as big techs apresentaram resultados sólidos neste primeiro trimestre do ano. Os números foram acima das expectativas do mesmo. Entretanto, as projeções eram baixas.

“A surpresa veio principalmente devido às expectativas de que a desaceleração da economia dos Estados Unidos se refletisse em queda da demanda pelos serviços de anúncios (principais para Alphabet e Meta) e computação na nuvem (principais para Microsoft e Amazon), mas esses negócios se mostraram mais resilientes que o esperado”, diz Rigo.

A receita da divisão de nuvem da Microsoft e da Amazon cresceram ambas em 16%, enquanto a receita de publicidade do Google subiu 2%. Já na Meta, as entregas de anúncios aumentaram 26%.

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Resiliência?

Apesar dos bons resultados das grandes companhias de tecnologia neste primeiro trimestre, Rigo afirma que é importante manter em mente que há um grande fator que pode afetar a lucratividade dessas empresas no curto prazo: o atual patamar de juros nos EUA.

No último dia 3, o banco central dos Estados Unidos, Federal Reserve (Fed), aumento as taxas em 0,25 ponto percentual, para a faixa entre 5% e 5,25% ao ano. Foi o décimo aumento consecutivo dos juros no país, que chegou a sua maior taxa desde junho de 2006.

“Conforme as taxas permanecem elevadas, a tendência é que a economia continue arrefecendo e as empresas comecem a sentir mais fortemente os efeitos de menor crédito e menos consumo”, afirma o analista da Titanium Asset. “Isso deve impactar nos balanços nos próximos trimestres.”

Em seu comunicado, o Fed sinalizou a possibilidade de manter os juros no patamar atual pelos próximos meses. Embora seja positivo não ter novos aumentos, a faixa atual já exerce enorme pressão sobre custos e sobre o consumo da população.

Em relatório analisando o balanço do primeiro trimestre da Alphabet, Thiago Alves Kapulskis, analista do Itaú BBA, afirma que os números foram realmente positivos. No entanto, não há clareza sobre o futuro da companhia.

“As ações precisam de narrativas [de crescimento], principalmente em tecnologia, e há uma notável falta de uma boa história de investimento para o Google”, escreve Kapulskis em relatório. “Falta clareza sobre os custos da linguagem LLM [como o ChatGPT], nenhuma resposta clara para o relacionamento com a Apple no mecanismo de pesquisa padrão, nenhum anúncio sobre avanços da IA…”.

Para a Amazon, a análise de Kapulskis foi pessimista também. Mesmo com números melhores do que o esperado no primeiro trimestre, a dúvida que o analista aborda é “qual a confiança de que essa melhora continuará?”

Ele afirma que os estoques caíram consideravelmente em relação ao ano anterior e, com o mercado menos ativo devido ao aumento dos juros, a demanda deverá enfraquecer na segunda metade do ano. Além disso, os próprios executivos alertaram em conferência de resultados que a aquisição da nuvem AWS – um dos produtos mais promissores da empresa – está desacelerando.

É hora de comprar?

O Itaú BBA tem recomendação outperform (equivalente à compra) para as ações da Microsoft e da Amazon. Para a Alphabet, a recomendação é neutra. Já para a Apple, a análise é underperform (equivalente à venda).

Rigo destaca que, as quedas nas cotações nos últimos meses desinflaram levemente os múltiplos de algumas dessas empresas. No entanto, muitos indicadores continuam altos. É o caso do preço em relação aos lucros (P/L) – múltiplo que calcula quantos anos demoraria para um investidor reaver o seu dinheiro aplicado na empresa apenas por meio do pagamento de dividendos.

“Mesmo que na maioria dos casos [os P/L] tenham caído em relação ao período pandêmico, quando houve um grande rali, eles continuam acima do P/L do S&P [22,23 vezes] e até do Nasdaq [23,90 vezes], que possui empresas de tecnologia pares às gigantes da tecnologia”, diz o analista. [veja os múltiplos abaixo]

Ele ainda afirma que o múltiplo valor empresarial pelo lucro operacional (EV/Ebitda) de Alphabet, Meta e Amazon estão abaixo de suas medianas, o que é um sinal positivo, que pode indicar “ação barata”. Entretanto, com o rali das ações desde o começo do ano, ele acredita que esses múltiplos devem aumentar novamente e deixar “os indicadores inflados”.

Segundo um levantamento feito pelo TradeMap para a Forbes, as ações das cinco empresas acumulam ganhos desde o início da pandemia, em 23 de março de 2020. Alphabet avançou 103,4%, Apple ganhou 208,7% e Microsoft subiu 131,1%. Meta teve alta de 64,2%, enquanto Amazon subiu apenas 7,5%.

Um mês antes de decretada a pandemia, no dia 21 de fevereiro de 2020, as cinco big techs representavam sete vezes o valor de mercado de todas as empresas listadas na bolsa brasileira B3. Atualmente as big techs representam oito vezes a bolsa brasileira. O valor de mercado das empresas brasileiras é de US$ 997,5 bilhões, conforme os dados do TradeMap.

Rigo afirma que um dos motores que impulsionam essas empresas neste ano é o avanço da tecnologia de inteligência artificial. A Microsoft trabalha com seus novos serviços de AI (como o chatbot BingAI e Copilot), enquanto a Alphabet tenta avançar com o chatbot Bard.

“Não dá para saber quando essas empresas irão negociar com múltiplos menores. Para o investidor que deseja essa exposição, pode ser interessante dividir o capital para entrar em janelas de baixa”, diz Rigo. Segundo ele, investir em parcelas pode ser interessante para conseguir um preço médio de compra melhor.

“O investidor tem mais chances de ganhos do que aportar tudo de uma vez, sem acertar o ‘timing’ do mercado, que é uma das coisas mais difíceis que existe”, afirma Rigo.

Múltiplos das big techs

referência: 08 de maio de 2023

Apple (AAPL34) P/L: 27,56 vezes EV/Ebitda: 21,41 vezes Retorno (jan23/1º de maio): 30,72% Retorno (mar20/mai23): 208,74% Retorno dez anos: 1.153,15% Fonte: TradeMap - 08/05/2023more
Microsoft (MSFT34) P/L: 33,67 vezes EV/Ebitda: 22,88 vezes Retorno (jan23/1º de maio): 27,73% Retorno (mar20/mai23): 131,09% Retorno dez anos: 1.026,06% Fonte: TradeMap - 08/05/2023 more
Amazon (AMZO34) P/L: 249,95 vezes EV/Ebitda: 19,65 vezes Retorno (jan23/1º de maio): 21,49% Retorno (mar20/mai23): 7,51% Retorno dez anos: 724,15% Fonte: TradeMap - 08/05/2023 more
Meta (M1TA34) P/L: 27,08 vezes EV/Ebitda: 16,55 vezes Retorno (jan23/1º de maio): 102,08% Retorno (mar20/mai23): 64,20% Retorno dez anos: 786,55% Fonte: TradeMap - 08/05/2023 more
Alphabet (GOGL34) P/L: 20,68 vezes EV/Ebitda: 14,89 vezes Retorno (jan23/1º de maio): 21,50% Retorno (mar20/mai23): 103,39% Retorno dez anos: 422,15% Fonte: TradeMap - 08/05/2023 more