Entretanto, as ações dessas empresas voltaram a apresentar valorizações surpreendentes. Entre 1º de janeiro e 1º de maio, as ações da Meta listadas em Nova York se valorizaram 102%. No mesmo período, as cotações da Apple avançaram 30,7% e as da Microsoft subiram 27,7%. Alphabet (controladora do Google) e Amazon avançaram 21,5% cada uma.
Em contrapartida, o S&P 500, principal índice de ações de Wall Street, registrou alta de 8,5% nesses quatro meses. O Ibovespa, índice de referência brasileiro, se desvalorizou 5% no mesmo período.
Thiago Rigo, analista da Titanium Asset, afirma que, de forma geral, as big techs apresentaram resultados sólidos neste primeiro trimestre do ano. Os números foram acima das expectativas do mesmo. Entretanto, as projeções eram baixas.
“A surpresa veio principalmente devido às expectativas de que a desaceleração da economia dos Estados Unidos se refletisse em queda da demanda pelos serviços de anúncios (principais para Alphabet e Meta) e computação na nuvem (principais para Microsoft e Amazon), mas esses negócios se mostraram mais resilientes que o esperado”, diz Rigo.
A receita da divisão de nuvem da Microsoft e da Amazon cresceram ambas em 16%, enquanto a receita de publicidade do Google subiu 2%. Já na Meta, as entregas de anúncios aumentaram 26%.
- O que difere as big techs de outras empresas de tecnologia?
- Quem são os fundadores nem tão famosos das big techs
- As reais razões das demissões nas big techs
Resiliência?
Apesar dos bons resultados das grandes companhias de tecnologia neste primeiro trimestre, Rigo afirma que é importante manter em mente que há um grande fator que pode afetar a lucratividade dessas empresas no curto prazo: o atual patamar de juros nos EUA.
No último dia 3, o banco central dos Estados Unidos, Federal Reserve (Fed), aumento as taxas em 0,25 ponto percentual, para a faixa entre 5% e 5,25% ao ano. Foi o décimo aumento consecutivo dos juros no país, que chegou a sua maior taxa desde junho de 2006.
“Conforme as taxas permanecem elevadas, a tendência é que a economia continue arrefecendo e as empresas comecem a sentir mais fortemente os efeitos de menor crédito e menos consumo”, afirma o analista da Titanium Asset. “Isso deve impactar nos balanços nos próximos trimestres.”
Em relatório analisando o balanço do primeiro trimestre da Alphabet, Thiago Alves Kapulskis, analista do Itaú BBA, afirma que os números foram realmente positivos. No entanto, não há clareza sobre o futuro da companhia.
“As ações precisam de narrativas [de crescimento], principalmente em tecnologia, e há uma notável falta de uma boa história de investimento para o Google”, escreve Kapulskis em relatório. “Falta clareza sobre os custos da linguagem LLM [como o ChatGPT], nenhuma resposta clara para o relacionamento com a Apple no mecanismo de pesquisa padrão, nenhum anúncio sobre avanços da IA…”.
Para a Amazon, a análise de Kapulskis foi pessimista também. Mesmo com números melhores do que o esperado no primeiro trimestre, a dúvida que o analista aborda é “qual a confiança de que essa melhora continuará?”
É hora de comprar?
O Itaú BBA tem recomendação outperform (equivalente à compra) para as ações da Microsoft e da Amazon. Para a Alphabet, a recomendação é neutra. Já para a Apple, a análise é underperform (equivalente à venda).
Rigo destaca que, as quedas nas cotações nos últimos meses desinflaram levemente os múltiplos de algumas dessas empresas. No entanto, muitos indicadores continuam altos. É o caso do preço em relação aos lucros (P/L) – múltiplo que calcula quantos anos demoraria para um investidor reaver o seu dinheiro aplicado na empresa apenas por meio do pagamento de dividendos.
“Mesmo que na maioria dos casos [os P/L] tenham caído em relação ao período pandêmico, quando houve um grande rali, eles continuam acima do P/L do S&P [22,23 vezes] e até do Nasdaq [23,90 vezes], que possui empresas de tecnologia pares às gigantes da tecnologia”, diz o analista. [veja os múltiplos abaixo]
Segundo um levantamento feito pelo TradeMap para a Forbes, as ações das cinco empresas acumulam ganhos desde o início da pandemia, em 23 de março de 2020. Alphabet avançou 103,4%, Apple ganhou 208,7% e Microsoft subiu 131,1%. Meta teve alta de 64,2%, enquanto Amazon subiu apenas 7,5%.
Um mês antes de decretada a pandemia, no dia 21 de fevereiro de 2020, as cinco big techs representavam sete vezes o valor de mercado de todas as empresas listadas na bolsa brasileira B3. Atualmente as big techs representam oito vezes a bolsa brasileira. O valor de mercado das empresas brasileiras é de US$ 997,5 bilhões, conforme os dados do TradeMap.
Rigo afirma que um dos motores que impulsionam essas empresas neste ano é o avanço da tecnologia de inteligência artificial. A Microsoft trabalha com seus novos serviços de AI (como o chatbot BingAI e Copilot), enquanto a Alphabet tenta avançar com o chatbot Bard.
“O investidor tem mais chances de ganhos do que aportar tudo de uma vez, sem acertar o ‘timing’ do mercado, que é uma das coisas mais difíceis que existe”, afirma Rigo.
Múltiplos das big techs
referência: 08 de maio de 2023