A estudante de psicologia Luanna Ramos, de 21 anos, decidiu comprar uma casa própria logo no começo da vida adulta. Um divórcio resultou na disputa pelo imóvel em que sua família morava e ela não queria passar por esse estresse. Inicialmente, seus planos eram de comprar um apartamento após terminar a faculdade. No entanto, surgiu uma oportunidade para antecipar isso: seu carro foi roubado e a indenização superou o valor pago. Foi o suficiente para custear a entrada em um apartamento de 33 metros quadrados na Zona Sul de São Paulo, pelo preço total de R$ 190 mil. As chaves devem ser entregues em agosto deste ano, para alegria da estudante. “Fico muito mais tranquila em ter meu cantinho”, afirma.
Assim como Luanna, que trabalha desde os 13 anos, muitos integrantes da Geração Z (nascidos a partir de 1995) estão comprando a casa própria. Uma pesquisa recente da incorporadora BRZ Empreendimentos constatou que 30% dos jovens de 18 a 26 anos que são clientes da companhia, especializada em investidores de renda média e alta, já adquiriram sua casa própria. A pesquisa abrange 4.805 unidades vendidas ao longo do ano de 2022.
Isso contraria a percepção que há sobre essa geração, que tende a gastar a maior parte de seu dinheiro com serviços. Os nativos digitais são conhecidos por preferirem viver experiências a possuir bens duráveis. No entanto, Thaís Giuliani, doutora e especialista na geração Z, explica que uma das características desses jovens é a busca pelo equilíbrio, ou seja, a busca por uma combinação de segurança e experiências.
“Em comparação com a geração Y (os millennials, nascidos a partir de 1980), a geração Z nasceu e cresceu durante um período de instabilidade econômica, política e social no Brasil. Isso fez com que eles herdassem da geração Y a busca por qualidade de vida, que é importante, mas com um pouco mais de pé no chão.”
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Longo prazo
Vale a pena? Para os especialistas, apesar de a resposta depender principalmente de circunstâncias individuais, isso tem mais desvantagens do que vantagens.
Alberto Ajzental, coordenador do curso de Negócios Imobiliários da FGV, explica que a aquisição do imóvel exige um compromisso de longo prazo, o que requer destinar grande parte da renda para manter o contrato. O aluguel para os jovens seria uma melhor opção, pois se adapta às mudanças de emprego ou à redução ou o aumento da renda.
Fernanda Rogozyk, da Planejar, observa também que a geração Z ainda está no momento de poupar dinheiro e se desenvolver na carreira, e a compra da casa pode adiar sonhos, como o de realizar um intercâmbio.
A aquisição do imóvel neste momento não é viável nem como investimento de locação. Com base em dados de maio de 2023, o retorno médio do aluguel residencial foi calculado em 5,24% ao ano, um patamar inferior à rentabilidade da poupança, que é de 6,17% mais a taxa referencial (0,5029%), de acordo com o índice FipeZap+.
Portanto, a vantagem de comprar um imóvel para essa faixa etária é mais psicológica do que financeira, pois está relacionada à segurança de ter seu próprio espaço. Não se trata apenas de possuir uma propriedade, mas sim de ter um lugar para chamar de seu. Assim, a segurança é uma vantagem pela qual você paga para obter. “Não é apenas um bem como qualquer outro. A casa representa segurança, abrigo e tem um efeito psicológico na vida da pessoa”, afirma Ajzental.
A estudante Luanna não se arrepende de ter comprado seu imóvel, afinal, “é uma conquista que todo mundo gostaria de ter”. No entanto, a jovem paulistana optou por seguir uma carreira acadêmica e teve seu projeto aprovado em Minas Gerais em junho. Isso significa que ela ficará dois anos longe de seu apartamento. “Percebi que poderia estar mais segura ao residir em outro estado se não tivesse gastos com o apartamento.”