Copom: certezas em 2023 e indefinições para 2024

12 de dezembro de 2023
REUTERS/Adriano Machado

Fachada do Banco Central, em Brasília: de olho na dinâmica da inflação

Há zero dúvidas entre os profissionais do mercado financeiro sobre o resultado da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que se iniciou nesta terça-feira (12) e vai se encerrar na quarta-feira (13). A taxa referencial Selic será reduzida em meio ponto percentual, dos atuais 12,25% ao ano para 11,75%, nível que valeu de março a maio de 2022. No entanto, há menos certezas em relação ao que pode ocorrer nas reuniões seguintes.

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Até esta terça-feira, era dado como certo que haveria dois cortes de 0,50 ponto percentual nas duas primeiras reuniões de 2024, agendadas para 30 e 31 de janeiro e para 19 e 20 de março. Isso reduziria a Selic para 10,75% ao ano.

Como a expectativa para a Selic em dezembro de 2024 é de 9,25% pela edição mais recente do Relatório Focus, divulgado todas as semanas pelo Banco Central (BC), o corte adicional de 1,5 ponto percentual seria dividido entre as seis reuniões seguintes. Os mais otimistas previam uma concentração das baixas no primeiro semestre. Já os mais conservadores antecipavam que esse corte seria espalhado ao longo do ano. Isso mudou, por dois motivos.

Inflação em baixa

Um deles foi a perspectiva de que a inflação fique abaixo do esperado abaixo do esperado e um cenário internacional um pouco mais positivo. O IPCA de novembro, divulgado nesta terça-feira pelo IBGE, registrou uma inflação em 12 meses de 4,68%, abaixo dos 4,82% nos 12 meses até outubro e da mediana das expectativas, que era de 4,70%.

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Isso vai além do índice “cheio”. Segundo Jonas Carvalho, CEO da gestora Hike Capital, “a média anualizada do núcleo do IPCA no último trimestre foi de 2,7%, uma queda mais intensa do que o esperado”. Segundo ele, esse percentual segue abaixo da meta estipulada pelo BC, o que concede mais espaço para o Copom reduzir a Selic.

Outro problema que vinha causando ruído nas expectativas era a grande dispersão das expectativas de inflação no longo prazo. Além disso, as dúvidas do mercado com a estabilidade fiscal mantêm as expectativas desancoradas. “Mas essas projeções seguem estáveis há bastante tempo, e esperamos que o BC melhore a sua projeção de IPCA para 2023 e mantenha os números de 2024 e 2025 praticamente inalterados” diz João Savignon, da Kínitro Capital.

Cenário internacional

A segunda causa da mudança das expectativas foi uma melhora do panorama visto de fora. Até há poucos dias, as perspectivas não eram das melhores. “O que chamou a atenção foram os juros elevados nas principais economias, particularmente nos Estados Unidos, e também para as incertezas geopolíticas geradas pelo conflito no Oriente Médio”, diz Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad.

O núcleo do Consumer Price Index (CPI) americano de novembro, que exclui os preços mais voláteis de alimentos e de energia, registrou uma inflação de 0,3%, levemente acima do consenso de 0,2%. O mercado de trabalho nos EUA ainda mostra sinais de aquecimento, com a queda do desemprego divulgada na sexta-feira (8), o que vinha despertando dúvidas acerca do início de cortes de juros por parte do Federal Reserve (FED), o banco central americano.

No entanto, ao longo das últimas semanas o mercado promoveu uma relevante revisão para baixo nas expectativas para a trajetória da taxa básica de juros americanos. “A conjuntura internacional melhorou em relação ao último encontro, com forte recuo nos rendimentos dos juros de longo prazo”, diz Eduarda Schmidt, economista da Órama

O que esperar?

Qual a conclusão? Para os especialistas, o Comunicado da reunião deve manter grande parte da comunicação recente, reafirmando a expectativa de cortes de 0,5 ponto percentual nas duas próximas reuniões “e avaliar que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”, diz Savignon.

No entanto, pensando em um horizonte mais longo, a trajetória futura dos juros é incerta e defende mais profundamente dos dados. “Estaremos atentos ao Comunicado desta reunião, especialmente em relação aos próximos passos da política monetária”, diz Gustavo Sung, economista-chefe da Suno.

Segundo ele, o Copom tem sinalizado cortes de meio ponto percentual e deve fornecer a mesma indicação para a reunião de janeiro. “No entanto, talvez ele deixe o cenário mais aberto para o futuro, possibilitando quedas mais acentuadas ou até uma desaceleração, dependendo da evolução dos dados.”