A perda de força da atividade no segundo semestre já era esperada diante dos efeitos defasados dos juros altos e da dissipação do choque positivo da agricultura, que foi limitado ao primeiro trimestre e início do segundo.
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O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil registrou expansão de 0,1% no terceiro trimestre na comparação com os três meses anteriores, marcando o terceiro trimestre seguido de expansão depois de queda de 0,1% nos últimos três meses do ano passado.
No primeiro trimestre, a economia teve avanço de 1,4%, enfraquecendo a 1,0%% no segundo, em dados revisados pelo IBGE de altas de 1,8% e 0,9% informadas antes, respectivamente.
Na comparação com o terceiro trimestre de 2022, o PIB teve alta de 2,0%, contra expectativa de 1,9% nessa base de comparação.
O PIB opera agora 7,2% acima do nível pré-pandemia, no quarto trimestre de 2019.
Ainda do lado da produção, tanto indústria quanto serviços — setor que responde por cerca de 67% da economia do país — cresceram 0,6%.
Quatro trimestres negativos
Do lado das despesas, os gastos das famílias aumentaram 1,1% em relação ao segundo trimestre, em meio à resiliência do mercado de trabalho. Já as despesas do governo cresceram 0,5%.
Já a Formação Bruta de Capital Fixo, uma medida de investimento, apresentou retração de 2,5% no terceiro trimestre, marcando quatro trimestres seguidos no vermelho.
Depois de resultados fortes nos dois primeiros trimestres do ano, a economia brasileira sofreu entre julho e setembro o peso dos juros em patamar restritivo, que influencia tanto o ímpeto de crescimento da economia quanto a oferta de crédito e o ritmo da inflação, ainda que o Banco Central tenha dado início a um ciclo de afrouxamento monetário.
Desde agosto, o BC reduziu a Selic em um total de 1,5 ponto percentual, para os atuais 12,25%, e deve promover novo corte de 0,5 ponto em sua última reunião do ano, em 12 e 13 de dezembro, mas já indicou que a intenção é manter a taxa em nível restritivo.
Incertezas no ambiente externo também pesam, principalmente com a perspectiva de manutenção dos juros norte-americanos em patamar alto por mais tempo e conflitos geopolíticos. Por outro lado, a inflação vem sendo considerada sob controle no Brasil, e o mercado de trabalho ainda se mantém forte, mas sem pressões salariais importantes.
Repercussão
William Jackson, economista-chefe para mercados emergentes da Capital Economics
“A economia do Brasil teve um desempenho melhor do que o esperado no terceiro trimestre, mas o panorama geral é de que o forte crescimento observado no primeiro semestre do ano chegou ao fim. Do lado da produção, a agricultura foi um obstáculo ao crescimento no terceiro trimestre, uma vez que a colheita abundante do início do ano foi parcialmente revertida. É difícil prever o que acontecerá no quarto trimestre, dada a volatilidade da produção no sector agrícola. Mas… pensamos que a economia está entrando numa fase de crescimento mais fraco –mais semelhante às taxas de crescimento registradas nos anos anteriores à pandemia, de 1,0-1,5%.”
Gabriel Couto, Economista do Santander
Alberto Ramos, diretor de pesquisa macroeconômica do Goldman Sachs para a América Latina
“A atividade real durante o terceiro trimestre foi apoiada pelos setores industrial e de serviços e arrastada pelo declínio considerável, mas menor do que o esperado, na atividade agropecuária. À frente, esperamos que a atividade continue a se beneficiar de estímulos fiscais significativos e de perspectivas positivas para a produção de petróleo e gás, mas seja pressionada por condições monetárias e financeiras internas restritivas, níveis ainda elevados de endividamento das famílias, baixos níveis de margem disponível na economia, indicadores de confiança fracos e a inversão do ciclo de crédito.”
Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura