Como os juros no Brasil e nos Estados Unidos afetam seus investimentos

1 de fevereiro de 2024
Reuters

Fachada do Federal Reserve, em Washington: quando os juros americanos sobem, o capital vai para os Estados Unidos, afetando as taxas de cãmbio no mundo

A primeira super quarta do ano confirmou as expectativas do mercado: o Federal Open Market Committee (Fomc), o equivalente estadunidense ao nosso Comitê de Política Monetária (Copom) manteve inalterada a taxa de juros nos Estados Unidos, e por aqui, o Banco Central anunciou corte de 0,5 ponto percentual na taxa Selic.

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A taxa de juros dos Estados Unidos segue oscilando entre 5,25% e 5,50% e em seu comunicado desta quarta-feira, o Fed informou que segue monitorando o risco inflacionário, sem sinalizar qualquer intenção de corte na taxa para a próxima reunião, em março.

Aqui no Brasil, o Copom reduziu a Selic para 11,25% ao ano. De acordo com o Comunicado, em se confirmando o cenário de queda da inflação, e não havendo questões fiscais ou macroeconômicas que possam se antepor ao ciclo de flexibilização, os cortes da taxa de juros devem continuar ocorrendo.

O quanto tudo isso influirá ou não em seus investimentos, depende muito da forma como você os estruturou, e esse é o foco do nosso papo desta semana.

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Políticas monetárias e decisões de investimento

A política monetária dos Estados Unidos tem reflexos significativos nos mercados financeiros globais, especialmente em economias emergentes como o Brasil.

Quando o Fed aumenta as taxas de juros, os investidores institucionais e grandes gestoras tendem a mover seu dinheiro para os EUA em busca de retornos mais altos em ambiente seguro. Isso resulta em saída de capital das economias emergentes, causando a desvalorização de suas moedas. Dependendo do cenário local, isso pode aumentar a inflação ao onerar as importações, além de elevar o custo de empréstimos, entre outros efeitos.

No entanto, tudo tem dois lados, e o dólar valorizado também pode ter benefícios, tornando as exportações mais competitivas, impulsionando o crescimento econômico e favorecendo a balança comercial.

A relação entre as taxas de juros nos EUA e a inflação no Brasil é delicada e repleta de variáveis. Quando o Fed aumenta os juros ou os mantém elevados para controlar a inflação doméstica, o Banco Central (BC) brasileiro pode enfrentar dilemas intrincados ao definir sua própria política monetária, especialmente em um ciclo de afrouxamento da nossa taxa de juros, quando a pressão do mercado é por acelerar essa flexibilização. A necessidade de equilibrar o controle inflacionário com o estímulo ao crescimento econômico torna-se uma tarefa ainda mais complexa.

Como ficam os investimentos de pessoas físicas

Com as atenções dos mercados tão voltadas à taxa de juros dos Estados Unidos, entendo que você, como investidor, acabe se preocupando quanto à influência disso sobre seus investimentos.

Ocorre, porém, que sendo a taxa de juros um instrumento de política monetária cujos efeitos diretos se dão no curto prazo, eu diria que o pequeno investidor tem na alta de juros estadunidense muito mais vantagens do que propriamente riscos, seja investindo diretamente no exterior, seja diversificando sua carteira com fundos locais que investem lá fora.

No momento em que o Fed opta por manter as taxas de juros altas por mais algum tempo, os investimentos em títulos do governo dos EUA podem se tornar mais atraentes, desde que esse tipo de ativo faça sentido em seu planejamento financeiro, é claro.

Por outro lado, se você investe em ações diretamente no mercado norte-americano ou mesmo aqui no Brasil, através de fundos de investimento, deve enfrentar alguma volatilidade, o que não significa necessariamente um problema, desde que os fundamentos que o levaram a escolher esse tipo de ativo estejam mantidos, e suas aplicações forem para longo prazo.

Investir em ativos no Brasil ou nos Estados Unidos?

Esse é aquele momento do texto em que talvez eu te decepcione, pois não existe uma única resposta. Ou melhor dizendo, até existe, mas provavelmente não é a que você espera, pois a resposta é: depende dos seus objetivos e planejamento financeiro.

Como sempre explico por aqui: ciclos econômicos se alternam. Se você já compreendeu que investimento é algo que se faz pensando no longo prazo, certamente sabe que as oscilações decorrentes das políticas monetárias dos bancos centrais, não têm tanta relevância em sua estratégia.

Entender o movimento das políticas monetárias é importante para analisar as tendências econômicas, identificar oportunidades que possam contribuir para acelerar seu processo de acumulação de patrimônio, e ainda para evitar cair em ciladas, como aquelas dicas do “dinheiro rápido e sem risco ou esforços”, mas que nunca levam em conta todas as variáveis de um contexto.

Vale reforçar, porém, que acessar informações sobre taxa de juros, ciclos econômicos e tendências de mercado só será útil de verdade se você tiver um plano claro e souber para onde está indo.

A decisão sobre investir em um ou outro mercado, ou mesmo nos dois, e em qual nível de diversificação, é muito mais pautada pelos seus objetivos com os investimentos, do que pelas decisões dos comitês de política monetária, já que estas visam controlar a inflação dentro de um horizonte temporal infinitamente menor do que aquele em que você irá manter seus investimentos.

Conhecimento é poder

A verdadeira força do investidor pessoa física reside na educação financeira e na disciplina. Compreender os fundamentos dos investimentos, a importância da diversificação e o poder do tempo no mercado, permite que você se mantenha confiante e firme em sua estratégia.
Pode parecer clichê, mas não tem como escapar: o conhecimento é poder. Entender a lógica por trás das decisões dos bancos centrais, as taxas de juros e seus efeitos, o torna mais preparado tanto para lidar com incertezas quanto para identificar oportunidades.

Mantenha-se informado, tenha paciência e estude sempre, pois embora as políticas monetárias possam criar incertezas, também criam oportunidades àqueles que estão bem-informados e preparados.

Eduardo Mira é formado em telecomunicações, com pós-graduação em pedagogia empresarial e MBA em gestão de investimento. É analista CNPI, certificado CPA10 e CPA20, ex-gerente do Banco do Brasil e da corretora Modal.

Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.