
Que ano para Donald Trump! Doze meses atrás, suas perspectivas políticas eram incertas e seu futuro financeiro parecia um pesadelo. Ele tinha cerca de US$ 413 milhões (R$ 2,35 bilhões) em caixa e uma sentença de fraude de US$ 454 milhões (R$ 2,58 bilhões) contra ele no estado de Nova York. Enquanto a procuradora-geral de Nova York, Letitia James, cogitava confiscar seus bens, Trump fez o que sabe fazer de melhor: lutou, vendeu e venceu. O resultado? O 47º presidente dos Estados Unidos mais que dobrou sua fortuna estimada, de US$ 2,3 bilhões (R$ 13,1 bilhões) para US$ 5,1 bilhões (R$ 29 bilhões).
Trump aprendeu há muito tempo que atrasos podem ser tão valiosos quanto vitórias. Admitindo que não tinha dinheiro para pagar os US$ 454 milhões em espécie, sua equipe jurídica sugeriu que um tribunal de apelação dispensasse ou reduzisse o valor da fiança. Tribunais nem sempre concedem esse tipo de alívio, mas, neste caso, concederam, reduzindo a exigência para US$ 175 milhões (R$ 998 milhões) e adiando uma possível apreensão de bens.
Então, o presidente dos Estados Unidos mostrou por que é o maior vendedor da história americana. No dia seguinte à decisão do tribunal, ele levou sua empresa de mídia social, a controladora da Truth Social, à bolsa de valores. O negócio em si não é grande coisa — poucos milhões em receita, dezenas de milhões em prejuízo — mas isso não importou para os investidores que o adoram. Eles inflacionaram as ações a níveis impensáveis, apostando no absurdo da situação e adicionando bilhões à fortuna de Trump no processo. A euforia diminuiu, com as ações caindo 72% do pico, mas nunca desapareceu completamente, deixando o republicano com uma participação de US$ 2,6 bilhões (R$ 14,8 bilhões) em 7 de março, data em que a Forbes fixou os preços para seu ranking anual de bilionários.
Isso aumentou seu patrimônio líquido, mas, como Trump manteve suas ações, não lhe ofereceu liquidez. Então, ele começou a vender todo tipo de produto — Bíblias, tênis, guitarras — tentando contornar o problema até resolvê-lo de vez com algo ainda mais inusitado: criptomoedas com sua marca. Ele iniciou, em outubro, um projeto chamado World Liberty Financial, voltado para iniciantes no mundo cripto, oferecendo tokens que não podem ser revendidos e promessas vagas de uma “revolução financeira”. Inclusive, chegou a ser listado como “principal defensor das criptomoedas”, enquanto seus filhos Eric, Don Jr. e Barron, que estuda na NYU, foram nomeados “embaixadores Web3” — termo usado para tecnologia blockchain.
Pouca gente deu atenção até que Trump venceu a eleição presidencial algumas semanas depois. Então, com a perspectiva de menos regulamentação e US$ 75 milhões (R$ 428 milhões) em compras do investidor cripto Justin Sun, outros começaram a investir também, enviando, no total, cerca de US$ 390 milhões (R$ 2,2 bilhões) para Trump — algo em torno de US$ 245 milhões (R$ 1,4 bilhão) após impostos.
Poucos dias antes de sua posse, o presidente eleito lançou o $TRUMP, um token digital que nem sequer fingia ser um investimento, mas oferecia aos apostadores um novo jogo. Muitos entraram na onda, gerando cerca de US$ 350 milhões (R$ 2 bilhões) em taxas de negociação e criptomoedas atreladas ao dólar para entidades ligadas a ele. O lucro exato de Trump é incerto — ele tem um parceiro no projeto, supostamente ligado a Bill Zanker, um velho amigo e coautor do livro “Trump: Think Big and Kick Ass“ (Trump: pense grande e arrebente, em tradução livre), de 2007, — mas é seguro dizer que o presidente embolsou pelo menos US$ 110 milhões (R$ 627 milhões) após impostos.
Trump ainda deve o valor do julgamento por fraude — e, enquanto recorre, os juros continuam correndo, elevando o total para cerca de US$ 500 milhões (R$ 2,85 bilhões). Letitia James provavelmente já não quer mais o 40 Wall Street, cujo proprietário é o presidente dos EUA — o prédio está altamente desvalorizado devido à queda no mercado de escritórios e a um grande empréstimo sobre a propriedade. Mas é difícil imaginar que Trump, agora com cerca de US$ 800 milhões (R$ 4,56 bilhões) em liquidez estimada graças à venda de seus tokens, esteja muito preocupado com o edifício ou com a procuradora-geral. Agora, ele é um rei das criptomoedas.