
Nesta quinta-feira (15), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou dados sobre o desempenho das vendas no varejo referentes a março. O período registrou a terceira alta consecutiva do comércio varejista, com avanço de 0,8% em relação a fevereiro, levando o setor ao seu nível da série iniciada em janeiro de 2000. No entanto, o resultado ficou abaixo do esperado. Segundo pesquisa da Reuters, o acréscimo esperado era de 1,0%.
Em relação ao mesmo período do ano anterior, houve recuo de 1,0% nas vendas, contra expectativa de queda de 0,5%. Na avaliação de Rafael Perez, da Suno Research, “o bom desempenho do varejo nesse primeiro trimestre está diretamente ligado à resiliência do mercado de trabalho. A contínua geração de empregos com carteira assinada tem impulsionado os rendimentos do trabalho e elevado a massa salarial, hoje em patamar recorde. Esse movimento tem sustentado o consumo mesmo em um ambiente econômico mais desafiador”.
No entanto, o aquecimento tende a enfraquecer. Para analistas, o cenário de inflação elevada, política monetária retracionista e acomodação no mercado de trabalho devem levar a economia a uma desaceleração gradual neste ano, podendo desanimar os consumidores, principalmente em relação a produtos mais dependentes de crédito.
Na semana passada, o Banco Central elevou a taxa básica de juros Selic a 14,75% ao ano. Ainda pairam sobre o cenário os efeitos sobre a economia global das tarifas adotadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Perez considera que os estímulos ao consumo e ao crédito, vindos do governo federal, e a solidez do mercado de trabalho podem reduzir os impactos defasados do aperto monetário.
Entre os oito segmentos pesquisados no levantamento do IBGE, seis tiveram resultado positivo sobre o mês anterior. “Em março, o que chama mais atenção é o perfil distribuído do crescimento intersetorial. Tivemos seis atividades em crescimento, inclusive as com mais peso, como a farmacêutica, e a de hiper e supermercados”, destacou o gerente da pesquisa no IBGE, Cristiano Santos.
Os destaques foram os setores de Livros, jornais, revistas e papelaria (+28,2%) e Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (+3,0%). Santos explicou que o desempenho positivo do setor de livros e jornais aconteceu em março desta vez, e não em fevereiro como nos últimos anos, por conta de variações no calendário escolar e variações nos momentos de fechamento de contratos novos.
Já as vendas de Hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo avançaram 0,4% no mês. Os demais resultados positivos em março vieram de Outros artigos de uso pessoal e doméstico (+1,5%); Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (+1,2%); e Tecidos, vestuário e calçados (+1,2%). Tiveram retração nas vendas Móveis e eletrodomésticos (-0,4%) e Combustíveis e lubrificantes (-2,1%).
“O setor de combustíveis e lubrificantes vinha de dois resultados no campo positivo em janeiro e fevereiro. No mês de março há um rebatimento desse crescimento, que reflete também uma demanda menor por combustíveis naquele mês”, disse Santos. No comércio varejista ampliado –que inclui as atividades de veículos, motos, partes e peças; material de construção e atacado de produtos alimentícios, bebidas e fumo — houve avanço de 1,9% em março sobre fevereiro.