Imposto rosa: a saia justa da mulher!

7 de fevereiro de 2020
Ruslan Dashinsky/Getty Images

Imposto rosa: produtos para as mulheres são mais caros do que os similares para os homens

Pink Tax, ou imposto rosa, não é exatamente um imposto, porém, é o nome dado ao fenômeno do sobrepreço dos produtos rosas, ou seja, os produtos destinados ao mercado feminino.

Sempre que chego em uma farmácia e cruzo os corredores do setor de perfumaria, começa minha saga: escolher produtos que atendam às minhas necessidades sem ter que pagar mais simplesmente por ser mulher. Qual o motivo para uma mesma lâmina de barbear – opa, isso é coisa para homem… Mas, vamos lá: por que uma lâmina direcionada às mulheres precisa ser mais cara? Será que alguém do marketing descobriu que não pretendemos nos barbear? Provavelmente sim, pois o departamento de assuntos do consumidor da cidade de Nova York identificou que uma lâmina de barbear rosa custa, em média, 13% mais do que uma azul.

Será que nós, seres humanos que temos mais progesterona do que testosterona, somos de fato mais vulneráveis às armadilhas de consumo?

Sim! Associamos compras à abstração da realidade e supervalorizamos o senso estético, portanto, estamos dispostas a pagar um valor maior por itens mais “bonitos”. Além de termos uma visão mais apaixonada dos fatos e das coisas, queremos ser aceitas, reconhecidas. A moda fast fashion, por exemplo, está aí para lembrar que sempre precisamos de algo a mais no look do dia. Maquiagens, cabelos escovados, sapatos, joias e bijuterias… Ah, e também unhas feitas, depilação, sobrancelhas. É especialmente caro ser mulher – seis vezes mais do que ser homem, segundo pesquisas. Além de caro, trabalhoso: esposas, mães, amigas e profissionais, tudo isso em cima do salto, de preferência. Aliás, quantos pares deles há no seu armário?

A realidade está posta. Precisamos estar atentas: tudo que é rosa ou destinado a nós custa mais. Ainda segundo a entidade nova-iorquina especializada no consumidor, o imposto de gênero é mais impactante na economia do que o esperado. Você já reparou que xampus para mulheres com a mesma marca dos homens têm uma diferença considerável no preço? Eles são, em média, 48% mais caros quando são nós. Por que não usar um xampu masculino de aroma neutro?

As roupas também custam mais. Pagamos, em média, 10% mais do que os homens pelas mesmas grifes. E os perfumes? Ah, tem como fugir? Vamos pagar mais e pronto. O imposto sobre este item chega quase 80% nos caso dos importados. Se você optar pelo nacional vai pagar quase 70% de taxas para ficar mais cheirosa. As maquiagens também encabeçam o topo da lista: as importadas carregam 69% de imposto enquanto as nacionais 51%.

Claro que a justificativa é que são produtos supérfluos, mas será que são mesmo? Será que a apresentadora de televisão ou a recepcionista do prédio podem trabalhar sem cuidar da “aparência”?

Se você tem filhos – no meu caso, um menino e uma menina – a conta dela é sempre maior que a dele. Tudo para meninas também é mais caro. Além disso, mães de primeira viagem (ela veio primeiro) são presas fáceis, afinal, muitos adereços são indispensáveis e expressam sinais de bons cuidados com a garotinha.

No Brasil temos uma das maiores taxas de imposto sobre absorventes do mundo: cerca de 25% do preço do produto é só imposto. Já parou para pensar quanto, em média, você gasta com absorventes ao longo da sua vida? Só em taxas, cada cidadã pode chegar a pagar perto de R$ 5 mil, dependendo do valor e do modelo do produto. Na Alemanha, após anos de cobranças e manifestações, o parlamento colocar um fim na taxa de 19% sobre absorventes — considerada uma das mais altas dos países da União Europeia.

Você consegue evitar menstruação? Eu ainda não descobri como, naturalmente e sem custos, podemos fazer isso. Será que é justo? Convenhamos, não!

E o que é justo? Primeiro, estamos num processo de independência. Eliminar desperdícios, aquilo que não influencia nosso bem-estar, é imprescindível para construir nossa renda futura. Por isso, esqueça a cor rosa. Sem fru-fru até conquistar sua liberdade financeira!

Quando for a uma farmácia ou loja de departamento, compare os preços. Sempre que puder, evite escolher pelo gênero. Cada vez mais opto pelo básico e pelas cores neutras, sobretudo nos caso das crianças. Além de ser chique, é cool e econômico.

Proteste. Peça descontos. Seja firme. Questione: por que um corte de cabelo igual ao de um homem tem que ser mais caro para uma mulher?

É hora de esquecer o complexo de Cinderela. Parar de aceitar as coisas como estão já é um grande passo – não somos mais indefesas alienadas, certo?

Por ora, esqueça o rosa, questione o modelo e seja a maior responsável pela suas escolhas. A maior saia justa é, com certeza, ignorar os fatos e permanecer dependente de um sistema ou de alguém.

Francine Mendes é educadora financeira para mulheres, economista pela Universidade Federal de Santa Catarina, com mestrado em psicanálise do consumo pela Universidade Kennedy. Apresentadora do canal Mary Poupe, no YouTube, e comunicadora na RiCTV Record.

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