Empreendedora cria femtech para empoderar mulheres

19 de novembro de 2020

Ste, da Oya Care: menos tabus, mais empoderamento

As voltas que a vida deu fez com que Stephanie Von Staa Toledo aprendesse, desde muito cedo, a ter resiliência e independência. Ainda bebê, mudou-se com a família para os Estados Unidos. Aos cinco anos, de volta ao Brasil, foi morar numa fazenda no interior do Paraná, onde viveu até os 14 anos. Saiu de lá em direção à capital paulista, onde estudou Administração na Fundação Getulio Vagas. Fez MBA na Wharton School, da Universidade da Pensilvânia, trabalhou no mercado financeiro norte-americano e na filial alemã da McKinsey, uma das maiores consultorias do mundo.

“Para conseguir fazer tudo isso, eu precisei me adaptar sempre muito rápido e ser independente. E, para ser independente, eu precisava estar saudável. Percebi isso muito cedo e, por isso, sempre cuidei muito de mim. A fazenda onde eu morei era longe de tudo. Uma vez quebrei a perna e precisamos dirigir por 300 quilômetros para chegar ao hospital mais próximo”, lembra.

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Essa filosofia acabou se tornando uma causa e Ste, como é mais conhecida, passou a acompanhar de perto a atuação e o desempenho das femtechs – startups de tecnologia para o setor de saúde feminina – internacionais. O segmento vem crescendo, afinal, a população mundial é 50% de mulheres. Estimativas indicam que esse mercado – que já conta com mais de 3 mil aplicativos e dispositivos – deve alcançar US$ 50 bilhões até 2025.

Entre as referências da empreendedora estão as norte-americanas Modern Fertility, de fertilidade, e a Tia, que contempla ginecologia, atenção primária e saúde mental. A partir delas, Ste começou a investigar como fazer algo semelhante no Brasil e, anunciou, na última terça-feira (17), o primeiro produto da sua própria femtech, a Oya Care: o exame de hormônio antimülleriano (HAM ou AHM), um dos principais indicadores usados para a mensuração de fertilidade feminina.

Esse hormônio funciona como um marcador da reserva ovariana, ou seja, da quantidade de folículos armazenada nos ovários da mulher, que são liberados ao longo do ciclo menstrual. É dentro de um desses folículos que o óvulo amadurece. “A fertilidade não é vitalícia. O corpo já nasce com todos os óvulos que serão liberados ao longo da vida fértil, ou seja, eles acabam”, diz Natalia Ramos, médica da Oya. Isso significa que, ter acesso a essas informações em tempo hábil, permite que as mulheres possam planejar sua gestação e até prevenir possíveis problemas.

Para chegar até aqui, a empreendedora reuniu o conhecimento de especialistas no assunto à análise de dados e tecnologia e criou uma jornada para mulheres interessadas em conhecer mais sobre sua condição atual e acompanhar essa evolução. Na prática, as pacientes passam, primeiro, por uma espécie de entrevista. Na sequência, uma enfermeira faz a coleta de sangue em domicílio. Por fim, com o resultado em mãos, é feita uma consulta com um médico especialista para discutir a condição atual da paciente e os próximos passos.

A HORA CERTA

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que o número de mães com menos de 30 anos caiu ao longo da última década, ao mesmo tempo em que a quantidade daquelas que tiveram filhos depois dos 35 anos cresceu. Esse movimento é fruto não apenas da expectativa de vida mais alta, mas da participação feminina no mercado de trabalho – elas já são 46% da população economicamente ativa no Brasil segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).

“Podemos enfrentar dificuldades quando, finalmente, escolhermos o ‘momento certo’ para engravidar porque há um desencontro entre o timing que consideramos ideal e o relógio biológico. E, também, porque a fertilidade pode não ter sido uma questão abordada ou considerada antes”, diz Ste, lembrando que a alternativa disponível atualmente para correr atrás do tempo perdido passa pelos tratamentos de fertilização, normalmente muito caros.

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Para Dani Junco, CEO e fundadora da B2Mamy, aceleradora de negócios para mães empreendedoras, a possibilidade de acompanhar a saúde e planejar a gestação pode ajudar a tornar a chegada de um bebê menos caótica para mulheres que vão acumular jornada dupla. Segundo uma pesquisa conduzida com integrantes da B2Mamy, a primeira preocupação das mulheres na jornada da maternidade é operacional: 42% delas relataram aflições com a infraestrutura da casa, mudança de cidade para ficar perto da rede de apoio, paternidade ativa e plano de saúde. Em seguida, aparecem carreira e renda, com 31%, e saúde mental e física, 27%.

INVESTIMENTO

Na noite de terça-feira (17), simultaneamente à estreia do primeiro serviço, a empreendedora fechou sua primeira rodada de investimentos com o fundo de venture capital Canary. Embora o valor não tenha sido revelado, Ste conta que os recursos serão utilizados, principalmente, em três frentes. A primeira delas é para aumentar a capilaridade da jornada da fertilidade que está sendo oferecida em São Paulo para outros estados.

Em paralelo, Ste vai investir em pesquisa para o desenvolvimento de soluções em outras áreas. “Tudo que é tabu e tem recorrência pode fazer parte do nosso portfólio, como contracepção, prazer no sexo, candidíase, infecção urinária e DSTs”, explica ela, que para a empreitada conta com a parceria do Hospital Sírio Libanês, Clínica José Bento e Pró-Criar.

Por fim, parte do aporte vai para a construção de uma plataforma tecnológica capaz de armazenar os dados, exames e resultados de todas as pacientes e, com base no histórico e cruzamento de informações, aperfeiçoar as recomendações médicas. “Nosso objetivo é simplificar a busca da mulher pelo conhecimento do seu próprio corpo, por meio de soluções que empoderam tomadas de decisão com ciência, autoconhecimento e acolhimento. Meu sonho é que, do mesmo modo que acontece com os apps de banco, as mulheres tenham um aplicativo para cuidar da sua saúde instalado em seus celulares. Quando você conhece seu corpo, você tem mais poder sobre suas escolhas e mais independência sobre sua vida”, finaliza a empreendedora.

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