Julia aprendeu, desde cedo, a importância da comunicação. Filha de Francesc Petit, publicitário notável, ela iniciou oficialmente a carreira na agência DPZ, criada pelo pai. Oficialmente porque antes, no auge da adolescência, fez trabalhos como modelo quando era convidada pelos amigos fotógrafos para cliques para a revista “Capricho”. Despertou ali seu faro para o mundo da comunicação e, entre idas e vindas na DPZ, fez de tudo um pouco: produção de moda, de foto, musical. Julia brinca, inclusive, que quem produz uma coisa, produz tudo, de campanha publicitária à festa infantil.
LEIA TAMBÉM: As 10 mulheres mais ricas do mundo em 2021
Depois que deixou a agência em 2000, Julia abriu duas produtoras para continuar criando trilhas para campanhas: Ludwig-Van e Menina Produtora. Ao atuar na pesquisa e na pós-produção, ela ocupou um espaço raro para mulheres na época e precisou conviver com a desconfiança de alguns clientes, que suspeitavam de espionagem industrial por ser filha de quem era. Ela, claro, se divertia com as paranoias.
No fio condutor da sua trajetória profissional, a publicidade já se fazia presente. Então, um convite plantou a semente para o que viria a ser o primeiro grande salto de sua carreira. Julia começou a escrever uma coluna de moda e estilo para a revista “Contigo”.
Na virada para o século 21, a internet era muito diferente do que é hoje. As redes sociais não existiam e a imprensa engatinhava para adaptar o seu conteúdo para o ambiente digital. A web se tornou uma grande vitrine para os profissionais de comunicação explorarem as possibilidades.
Logo no início do site, Julia uniu seus dois mundos e trouxe a publicidade para dentro do portal, criando um ambiente atraente para leitores e marcas. “Muitos clientes estavam interessados em investir na internet, em experimentar. Foi uma época muito criativa, em que não havia repetição porque tudo era novo”, relembra. Abusou da cara de pau e da excelente carteira de contatos da época da DPZ e apostou no feeling para ir atrás de quem toparia as ideias. “Era rudimentar. Foi ótimo porque eu entendia o mercado, mas ficava frustrada porque traziam peças de revista que não conversavam com o site. Passamos a criar os nossos anúncios, trazer para o nosso mundo, testar novos formatos.” Deu certo. Em uma década no ar, desenvolveu trabalhos com grandes marcas como Canon, Círoc, Campari, Maybelline, Clinique e tantas outras.
Dessa troca intensa e bem-sucedida com marcas e leitores, surgiu a oportunidade de Julia assinar uma coleção com a M.A.C., gigante do setor de maquiagem. As ideias para os produtos vieram das próprias leitoras do Petiscos e da relação que tinham criado com os vídeos tutoriais feitos pela empresária. A linha se esgotou em horas e, enquanto as consumidoras lamentavam não terem conseguido o sonhado produto, começava a se desenhar a segunda virada na carreira de Julia. “Fiquei muito interessada em criar produtos em comunidade. Percebi que havia algo ali, que poderia tentar criar. Cheguei à conclusão de que investiria em dermocosméticos, porque o mercado de maquiagem já era muito bem servido”, conta.
No início de 2018, Julia anunciou o fim do Petiscos e o início do seu ano sabático. A decisão gerou uma crise de identidade. “Tinha uma dúvida no coração. Não tinha mais o site, mas não sabia quem eu era. Não queria ser youtuber ou influenciadora. Eu não tinha urgência, estava bem. Decidi dar uma descansada, esperar a poeira baixar e finalmente tirar férias para enxergar melhor o caminho. O sabático serviu para eu me encontrar. Ele cristalizou que eu só iria me mover novamente com propósito, não queria trabalhar por trabalhar. Sabia que tinha notoriedade para fazer algo ser melhor.”
Durante a parada, aproveitou para fazer outras atividades. Já tinha finalizado a pesquisa inicial para a criação da sua marca de cosméticos, mas não tinha pressa. “Sabia que queria criar produtos, mas não sabia o que, nem quando. Queria olhar com tempo para as possibilidades. Não queria só vender um produto, mas mudar a maneira como as pessoas são tratadas, como elas se veem nos anúncios e como elas compram.”
No fim do período sabático, conheceu Daniel Wjuniski e Marcia Netto. Assim como Julia, eles também estavam interessados em criar uma marca de cosméticos. As visões se alinharam e, meses depois, no início de 2019, surgiu a Sallve. Com investimentos de R$ 60 milhões de quatro grandes fundos, em pouco mais de dois anos a marca já conta com 10 produtos no portfólio e quadruplicou a receita de 2019 para 2020. No Instagram, principal ponto de contato com o público, são mais de 480 mil seguidores. A marca investe em reuniões semanais com consumidores de todo o Brasil para criar seus produtos e receber feedbacks sobre os que já foram lançados, e aposta num público que não era visto pelo mercado de skincare do país, que só contava com produtos para tratamento de acne ou anti-idade.
Julia afirma que o momento que vive agora na carreira é a consolidação do fio condutor que a trouxe até aqui. Todos os assuntos que já tratou e lugares por onde passou convergem para a Sallve. Mesmo com o frio na barriga e a insegurança que as mudanças de trajetória causam, a empresária apostou nas sementes que plantou. “Gosto muito de repetir que tive pessoas que confiaram muito em mim, que praticamente pegaram na minha mão e me puxaram para ir junto. Pode não parecer para quem está de fora, mas tudo que fiz até aqui é comunicação”, finaliza.
Siga FORBES Brasil nas redes sociais:
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Siga Forbes Money no Telegram e tenha acesso a notícias do mercado financeiro em primeira mão
Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.
Tenha também a Forbes no Google Notícias.