Como Julia Petit foi da comunicação ao mundo dos negócios agradando três gerações

8 de abril de 2021
Divulgação

Atualmente, Julia atua como CCO (Chief Creative Officer) da marca de cosméticos Sallve, criada após ano sabático iniciado após o fim do site Petiscos

Para a geração Z, Julia Petit é um dos nomes por trás da Sallve, marca indie de cosméticos nativa do mundo digital, com milhares de seguidores no Instagram. Para os millennials, a empresária é a cara do Petiscos, um dos principais portais de beleza e comportamento do país, que ditou tendências no boom dos blogs por aqui. Para a geração X, ela é a publicitária, modelo e produtora de som que participou das últimas campanhas de grandes marcas como Kaiser e Hollywood. Julia é todas essas, mas ao mesmo tempo uma só: uma comunicadora e vendedora nata.

Julia aprendeu, desde cedo, a importância da comunicação. Filha de Francesc Petit, publicitário notável, ela iniciou oficialmente a carreira na agência DPZ, criada pelo pai. Oficialmente porque antes, no auge da adolescência, fez trabalhos como modelo quando era convidada pelos amigos fotógrafos para cliques para a revista “Capricho”. Despertou ali seu faro para o mundo da comunicação e, entre idas e vindas na DPZ, fez de tudo um pouco: produção de moda, de foto, musical. Julia brinca, inclusive, que quem produz uma coisa, produz tudo, de campanha publicitária à festa infantil.

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“Seria impossível não amar publicidade convivendo com meu pai. Era contagiante o amor e o entusiasmo dele pelo trabalho. Quando entrei na agência, vi que é um mundo mágico que mistura arte e música com métricas e lógica, exatas e humanas no mesmo lugar. Foi um período muito rico, tive muita sorte”, relembra a empresária. Em sua fase na DPZ, no último grande suspiro de verbas para publicidade tradicional, produziu as últimas campanhas de marcas como Kaiser e Hollywood. “O meu amor por comunicar marcas e produtos para o público vem 100% da convivência com o meu pai e do meu trabalho com a DPZ. Todas as minhas referências de maquiagem, arte, beleza e cultura vêm dessa época,” afirma.

Depois que deixou a agência em 2000, Julia abriu duas produtoras para continuar criando trilhas para campanhas: Ludwig-Van e Menina Produtora. Ao atuar na pesquisa e na pós-produção, ela ocupou um espaço raro para mulheres na época e precisou conviver com a desconfiança de alguns clientes, que suspeitavam de espionagem industrial por ser filha de quem era. Ela, claro, se divertia com as paranoias.

No fio condutor da sua trajetória profissional, a publicidade já se fazia presente. Então, um convite plantou a semente para o que viria a ser o primeiro grande salto de sua carreira. Julia começou a escrever uma coluna de moda e estilo para a revista “Contigo”.

Na virada para o século 21, a internet era muito diferente do que é hoje. As redes sociais não existiam e a imprensa engatinhava para adaptar o seu conteúdo para o ambiente digital. A web se tornou uma grande vitrine para os profissionais de comunicação explorarem as possibilidades.

Em 2007, com os blogs em forte ascensão, Julia entrou em contato com o portal IG. Após seis meses, seu blog foi ao ar e a audiência respondeu positivamente. A ideia da empresária era falar sobre moda e beleza como se estivesse entre amigas, fugindo da linguagem das revistas tradicionais. Depois, criou uma plataforma própria e formou uma equipe para dar conta das demandas. Nascia o Petiscos, que se tornou um dos principais portais de beleza e comportamento do país, com milhões de acessos diários.

Logo no início do site, Julia uniu seus dois mundos e trouxe a publicidade para dentro do portal, criando um ambiente atraente para leitores e marcas. “Muitos clientes estavam interessados em investir na internet, em experimentar. Foi uma época muito criativa, em que não havia repetição porque tudo era novo”, relembra. Abusou da cara de pau e da excelente carteira de contatos da época da DPZ e apostou no feeling para ir atrás de quem toparia as ideias. “Era rudimentar. Foi ótimo porque eu entendia o mercado, mas ficava frustrada porque traziam peças de revista que não conversavam com o site. Passamos a criar os nossos anúncios, trazer para o nosso mundo, testar novos formatos.” Deu certo. Em uma década no ar, desenvolveu trabalhos com grandes marcas como Canon, Círoc, Campari, Maybelline, Clinique e tantas outras.

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Dessa troca intensa e bem-sucedida com marcas e leitores, surgiu a oportunidade de Julia assinar uma coleção com a M.A.C., gigante do setor de maquiagem. As ideias para os produtos vieram das próprias leitoras do Petiscos e da relação que tinham criado com os vídeos tutoriais feitos pela empresária. A linha se esgotou em horas e, enquanto as consumidoras lamentavam não terem conseguido o sonhado produto, começava a se desenhar a segunda virada na carreira de Julia. “Fiquei muito interessada em criar produtos em comunidade. Percebi que havia algo ali, que poderia tentar criar. Cheguei à conclusão de que investiria em dermocosméticos, porque o mercado de maquiagem já era muito bem servido”, conta.

Ao mesmo tempo, o Petiscos passava por um processo de encolhimento. Ao longo de dois anos, Julia foi diminuindo a frequência de publicações e reduziu a equipe, como reflexo da perda no interesse pelos assuntos tratados. “O Petiscos sempre foi sobre o que nos interessava, nunca foi um site com meta de produção diária, nunca trabalhamos de fim de semana. Tiramos os dois últimos anos para desacelerar e pensar,” explica.

No início de 2018, Julia anunciou o fim do Petiscos e o início do seu ano sabático. A decisão gerou uma crise de identidade. “Tinha uma dúvida no coração. Não tinha mais o site, mas não sabia quem eu era. Não queria ser youtuber ou influenciadora. Eu não tinha urgência, estava bem. Decidi dar uma descansada, esperar a poeira baixar e finalmente tirar férias para enxergar melhor o caminho. O sabático serviu para eu me encontrar. Ele cristalizou que eu só iria me mover novamente com propósito, não queria trabalhar por trabalhar. Sabia que tinha notoriedade para fazer algo ser melhor.”

Durante a parada, aproveitou para fazer outras atividades. Já tinha finalizado a pesquisa inicial para a criação da sua marca de cosméticos, mas não tinha pressa. “Sabia que queria criar produtos, mas não sabia o que, nem quando. Queria olhar com tempo para as possibilidades. Não queria só vender um produto, mas mudar a maneira como as pessoas são tratadas, como elas se veem nos anúncios e como elas compram.”

No fim do período sabático, conheceu Daniel Wjuniski e Marcia Netto. Assim como Julia, eles também estavam interessados em criar uma marca de cosméticos. As visões se alinharam e, meses depois, no início de 2019, surgiu a Sallve. Com investimentos de R$ 60 milhões de quatro grandes fundos, em pouco mais de dois anos a marca já conta com 10 produtos no portfólio e quadruplicou a receita de 2019 para 2020. No Instagram, principal ponto de contato com o público, são mais de 480 mil seguidores. A marca investe em reuniões semanais com consumidores de todo o Brasil para criar seus produtos e receber feedbacks sobre os que já foram lançados, e aposta num público que não era visto pelo mercado de skincare do país, que só contava com produtos para tratamento de acne ou anti-idade.

“Quando abrimos a Sallve, fizemos uma pesquisa para saber como os consumidores chegaram até ali. 80% veio por mim, pelo Petiscos. Hoje em dia, apenas 9% sinalizam isso. É exatamente esse o plano. Expandir num tamanho tão grande que não seja sobre mim, sou apenas uma das sócias. A Sallve é de todos, é criada pela comunidade. Sou veículo, vejo o que querem e tento melhorar o mercado, a comunicação e a entrega”, explica.

Julia afirma que o momento que vive agora na carreira é a consolidação do fio condutor que a trouxe até aqui. Todos os assuntos que já tratou e lugares por onde passou convergem para a Sallve. Mesmo com o frio na barriga e a insegurança que as mudanças de trajetória causam, a empresária apostou nas sementes que plantou. “Gosto muito de repetir que tive pessoas que confiaram muito em mim, que praticamente pegaram na minha mão e me puxaram para ir junto. Pode não parecer para quem está de fora, mas tudo que fiz até aqui é comunicação”, finaliza.

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