Conheça Caroline Marraccini, a brasileira que está investindo em uma alga da Escandinávia para enriquecer a alimentação dos pets

24 de agosto de 2021
Divulgação

Aos 31 anos, a cofundadora da Pet Food Solution, fábrica da holding Akron, conseguiu acesso exclusivo à alga Ascophyllum nodosum

Em 2016, Eugênio Marraccini apareceu na mídia por conta de seu amor pelos animais de rua. Na época, aos 82 anos, ele madrugava todos os dias para alimentar os mais de 40 gatos que viviam no Parque da Independência, na região do Ipiranga, em São Paulo. Para atrair os bichinhos, ele assobiava trechos de músicas clássicas e chacoalhava o saco de alguma ração superpremium que tinha em casa. O amor pelos animais passou de pai para filho, e Nelo Marraccini, filho de Eugênio, construiu sua carreira como executivo no setor.

Foi nesse ambiente, junto do avô e do pai, que Caroline Marraccini, cofundadora da Pet Food Solution, cresceu. “Eu vivia no meio das sacarias”, conta a empreendedora que, hoje aos 31 anos, desenvolveu uma ração para animais enriquecida com uma alga da Escandinávia, algo inédito no país. “Eu frequentava eventos pet a semana toda por conta do trabalho do meu pai. Em casa, observava meu avô conversando com pássaros e cuidando de gatos abandonados. Ele também era, já naquela época, adepto de uma dieta sem carne vermelha e contava que meu bisavô também era assim, então acho que é algo de família.” Mas, embora fosse apaixonada pelos animais, Carol não tinha ideia de que sua carreira seguiria nessa direção. De certa forma, mesmo tendo crescido no meio, o interesse pela área demorou para se manifestar.

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A partir dos 15 anos, a jovem começou a fazer intercâmbios e a se interessar pelos estudos no exterior. Aos 17, mudou-se definitivamente para a Europa para cursar negócios internacionais na European School of Economics, na Itália. Naquele espaço, cercada por arte e história, decidiu se especializar no mercado de luxo, iniciando sua carreira em meio às grandes marcas italianas de moda. De 2007 a 2014, construiu sua vida no velho continente, até uma oportunidade a aproximar novamente do Brasil. “Eu já estava com vontade de voltar, então poder fazer isso representando a empresa na qual eu estava trabalhando era incrível”, conta.

No entanto, quando chegou em solo nacional, percebeu que seu cargo na grife de moda- cujo nome ela prefere não citar – já não despertava a mesma paixão. De novo em sua terra natal, decidiu que era hora de buscar novos desafios e ingressou no setor de joias. “Nesse meio tempo, eu conversava muito com meu pai sobre negócios.” Até que, em um encontro de família, ele lhe apresentou uma proposta interessante. Então diretor de distribuição da Royal Canin no Brasil, Nelo havia comprado, ao longo dos anos, algumas empresas com o objetivo de criar seu próprio espaço no mercado pet. Dono de marcas de acessórios e alimentos para animais silvestres, ele acabou por fundar a holding Akron, mas ainda sonhava com a galinha dos ovos de ouro: uma fábrica de alimentos para cães e gatos.

“O Brasil é o segundo maior mercado pet do mundo em volume. Só no ano passado, foram gastos R$ 40,8 bilhões em produtos para animais de estimação, e a alimentação representa 50% desse valor”, destaca a empreendedora. Sonhando em alavancar essa frente na empresa, Nelo fez uma proposta clara e objetiva para a filha: que ela assumisse o projeto da Pet Food Solution. “Minha primeira reação foi negar”, recorda, com bom humor. “Eles precisavam de alguém com experiência em marketing e mercado internacional. Achavam que eu poderia agregar muito valor ao negócio. Mas eu nunca tinha trabalhado com nada parecido.”

Embora tivesse negado o convite, Carol foi dormir naquele dia pensando se a proposta era realmente tão louca quanto parecia. Naquele momento, reviveu todo o seu histórico familiar e se deu conta de que fazia sentido investir na área. “Com o tempo, conversando mais, eu vi que a oportunidade de começar uma fábrica praticamente do zero era o desafio que eu precisava aos 26 anos.” No município de Elias Fausto, no interior de São Paulo, a empreendedora começou uma nova etapa de sua vida.

ATENÇÃO AOS DETALHES

“Compramos a fábrica já com duas linhas de ração e eu mergulhei de cabeça nesse mundo para entender tudo sobre o processo produtivo”, conta Caroline. A empresa, no entanto, estava parada, só dando prejuízo para o grupo Akron, que precisava de muito investimento para começar a operar. “Eu contratei uma veterinária e uma consultora de marketing para melhorar as linhas existentes. Além disso, comecei a frequentar feiras internacionais para entender o que o mercado estava fazendo de mais inovador. De repente, eu me tornei uma mulher de linhas de produção”, diz, rindo.

Até aquele momento, Carol nunca tinha trabalhado diretamente no processo produtivo. Nas experiências que colecionava, atuava internamente, sem saber o que acontecia no chão de fábrica. De repente, precisava entender de formulação e máquinas avançadas. “Somos uma empresa verticalizada, então fazemos desde a produção até a entrega. Tive que fazer parte de tudo isso. Cheguei até a responder o SAC para entender o perfil dos meus consumidores”, explica. “Era o grande desafio profissional da minha vida. Eu assumi uma fábrica de alimentos para cães e gatos no segundo maior mercado do mundo. Não podia falhar.”

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No entanto, a primeira dificuldade que encontrou foi conseguir espaço em um setor tão dominado por marcas tradicionais. “Não tínhamos faturamento ainda, então eu não podia investir em um marketing pesado em televisão e nem ter um preço competitivo. Minha fórmula era boa, mas precisava atrair o cliente de alguma forma no ponto de venda. Foi aí que eu decidi investir no design.” Acostumada a trabalhar no setor de luxo, ela colocou em prática tudo que tinha aprendido sobre atenção aos detalhes nas marcas italianas onde tinha atuado.

“Isso eu aprendi no mercado de luxo. Refinar o produto para chamar a atenção”, destaca. “Comecei a desenhar uma espécie de croqui de sacos de ração, explorando cores fortes e formas diferentes. As informações nutricionais do produto, por exemplo, eu coloquei no interior de uma gota. Isso transmite movimento e é muito mais simpático do que um simples quadrado.” Além disso, ela não abriu mão de usar, na embalagem, imagens de cachorros e gatos. “A figura deles conversa com os consumidores”, revela.

No primeiro semestre de 2017, pouco mais de um ano depois de assumir a missão dada pelo pai, uma das linhas foi relançada com o design que Carol tinha desenhado e uma nova formulação, muito mais focada em nutrientes. “Durante o desenvolvimento, eu percebi o quanto o mercado pet é engessado e com pouco histórico de novidades. Então, esse seria o meu caminho para me destacar.” E a empreendedora acredita que a estratégia deu certo. Com 70 funcionários diretos e 312 indiretos, a Pet Food Solution cresce de 5% a 15% ano a ano, e tem planos para conquistar uma fatia maior do mercado nos próximos meses.

INOVAÇÃO E FILANTROPIA

O otimismo de Caroline tem relação direta com os lançamentos previstos para o segundo semestre do ano. Sempre em busca de novas fórmulas, há cerca de cinco anos a empreendedora começou a contemplar uma matéria-prima inovadora, já usada em algumas marcas pela Europa. Trata-se de uma alga – Ascophyllum nodosum, muito conhecida como PlaqueOff – que é extraída de forma sustentável na Costa da Escandinávia.

“Quando você a acrescenta na ração, ao longo do tempo ela evita a formação de tártaro e placas, além de reduzir o mau hálito. É um produto que atua de dentro para fora no organismo do animal”, explica ela. “Fiquei três anos tentando registrar essa importação junto ao Ministério da Agricultura. Há um ano assinamos o contrato de exclusividade com a distribuidora da matéria-prima. Somos a única fábrica do Brasil com esse acesso.”

Já embarcada a caminho do Brasil, a alga vai fazer parte da terceira linha da marca, batizada de Pro Health, prevista para chegar ao mercado no segundo semestre deste ano – assim como o serviço Pet Pay, a segunda novidade da empresa para os próximos meses. “Estamos lançando alguns totens financeiros, que ficarão expostos em diversos pet shops da capital paulista. Neles, os clientes poderão pagar as contas sem precisar recorrer a bancos ou lotéricas”, conta ela.

O objetivo de Caroline com essa ideia é, mais do que oferecer praticidade para quem sai de casa com os pets, gerar um fluxo de filantropia e doações. “Quando se trabalha com totens financeiros, sempre há taxas de serviço. No nosso caso, vamos pegar parte dessas taxas e direcionar para ONGs de proteção animal”, revela. “No final da operação, nosso cliente vai ver na tela um percentual de cashback e vai escolher para qual instituição quer doar o valor. Não é uma doação que sai do bolso do consumidor, mas depende da utilização do serviço.”

Caroline, que enfatiza o storytelling familiar nos materiais publicitários da empresa, acredita que esses dois lançamentos são grandes marcos na sua carreira: o uso da alga por sua exclusividade e a criação dos totens pela benemerência. “Sempre tentei fazer iniciativas de doação, então essa novidade é uma grande felicidade para mim”, ressalta. Ao honrar as atitudes do avô, que tanto se empenha pela causa animal, a empreendedora diz estar seguindo a lógica do slogan da marca: “Amor passado de geração para geração…”.

Mais do que amor, Caroline também diz ter tido uma escola de empreendedorismo dentro de casa, o que impacta em sua forma de enxergar o mundo dos negócios atualmente. “Tenho 31 anos e sigo explorando novos mercados e desenvolvendo startups de impacto social.” De modo discreto, ela planeja o lançamento de duas empresas ainda no segundo semestre de 2021, trabalho que vem desenvolvendo há mais de três anos. Um deles ainda é guardado a sete chaves, mas o outro é uma espécie de Airbnb de vestidos. “É um site que criamos para conectar pessoas e fazer com que elas possam rentabilizar as roupas de festa que estão paradas em casa”, explica. “Assim como a empresa de hospedagem, vamos criar um ambiente seguro para que essas transações sejam feitas entre os usuários da plataforma. O maior acervo de vestidos está na casa das pessoas, mas essa é a primeira empresa dessa natureza no Brasil. Só achei algo parecido em Nova York e na Austrália.” Focada em economia circular, ela acredita que esse seja um futuro promissor para o mundo da moda.

De certa forma, Caroline não deu um adeus definitivo à indústria de luxo. Apenas aprendeu como adaptar esse mercado aos desafios atuais de sua carreira, seja no setor pet ou em startups inovadoras.

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