O pontapé da marca aconteceu com um estoque de 3 mil peças bancado pelos dois, em 1997, quando o casal juntou amigos de tribos diferentes para vender produtos em uma galeria de arte. Recordando o início da história, Raquel conta que a ideia de lojas itinerantes (parecidas com o que hoje chamamos de pop up stores) surgiu porque nem ela nem o marido Roberto – filho de imigrantes europeus que também trabalhavam com moda – queriam entrar nos moldes existentes até então.
Por causa de uma conexão forte com a arte, algumas coleções da UMA foram criadas em parceria com artistas brasileiros, como Lygia Clark, Regina Silveira, Jac Leirner e Macaparana. “Com todos que colaboramos, mantemos uma relação pessoal, além da marca”, diz.
O trabalho com pinturas de Lygia Clark, por exemplo, veio após Raquel visitar uma exposição da artista mineira em São Paulo. Ela entrou em contato com a neta da pintora para apresentar a ideia. Mostrou estampas e peças que não só foram aprovadas, mas ainda hoje são vendidas na loja e têm a renda convertida para a população carente de comunidades do Rio de Janeiro.
Agora, depois de trazer para as peças o trabalho de artistas com quem queria colaborar, Raquel traz suas próprias obras para a nova coleção da marca, Marte. Foi algo que começou durante a pandemia, quando ela aproveitou o momento de pausa para pintar. “Como eu não gosto de ficar parada, preciso manter a mente ocupada, comprei telas e fiz testes”, conta. “Claro que fiz telas horríveis no início, o cheiro das tintas era forte. Fui me adaptando, trouxe o material para a loja e a equipe achou bacana”, relembra, aos risos.
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Depois de duas décadas à frente do negócio, Raquel afirma que o trabalho precisa ser dinâmico para ser estimulante. “É um laboratório de experiências. É preciso bolar coisas diferentes para a marca não envelhecer com os donos e estilistas. Não podemos reproduzir só a nossa mentalidade. É inspirador ter um desafio novo, inventar história nova para as próximas coleções.”
Com o objetivo de se aproximar mais dos Millennials e da Geração Z, a UMA ganhou a irmã mais nova, UMA X, comandada por Vanessa Davidowicz, filha de Raquel e Roberto. Com peças sem gênero, vendidas apenas no varejo e no e-commerce, a marca conta com preços mais acessíveis e uma proposta sustentável. A ação colaborativa já vem do título: o X aparece para se conectar aos nomes dos artistas e iniciativas com que colabora. “Não adianta tentarmos vender UMA para um jovem iniciando a vida adulta, ainda sem tanto poder aquisitivo. Tenho clientes de 80 anos que são poderosas consumidoras, mas preciso me conectar com o jovem recém-formado também. Queremos que a marca se mantenha contemporânea.”
Na UMA X, por exemplo, são utilizadas tecnologias importadas de tecidos como Econyl, nylon regenerado de resíduos de pesca, tecidos e plásticos encontrados em oceanos. Nas etiquetas, a marca oferece todas as informações divulgadas pelo fornecedor sobre a rastreabilidade do impacto que causam com suas produções. Em um mundo em adaptação, que muitas vezes apela pro greenwashing para atender aos pedidos do público, cada vez mais consciente e exigente, Raquel gosta de voltar ao início, mesmo que esteja tão conectada com o futuro, para explicar suas ações presentes: “Nunca tivemos a pretensão de ser uma marca gigante. Sempre quisemos atender ao público que nos entende. E vai sobreviver quem tiver a propriedade de existir”.
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